Uma solitária plaquinha azul quase no topo do Palácio Gustavo Capanema, no Centro, parece estar ali para lembrar a ausência de uma das principais características da fachada do prédio modernista de 1945: os brise-soleils, uma solução arquitetônica utilizada para controlar entrada de luz solar numa edificação, por meio de lâminas e que também são conhecidas como quebra-sóis. Esses elementos — importantes para garantir uma temperatura mais amena e melhorar o conforto térmico — cobriam toda a frente da parte norte da edificação, que dá para a Rua Araújo Porto Alegre. Sem eles, a impressão que fica é que a ampla reforma concluída em maio, com direito à solenidade de reinauguração com as presenças do presidente Lula e da ministra da Cultura, Margareth Menezes, entre outras autoridades, ficou incompleta.
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— É uma das características importantes do edifício e fundamental para a questão da insolação. Há em alguns andares bibliotecas e arquivos, e esse elemento é necessário para controlar a entrada do sol — defende Sandra Branco, autora do livro “Capanema Maru” e arquiteta do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) por mais de 20 anos.
Duas semanas antes da reinauguração, ao acompanhar visita técnica da ministra ao prédio, que é tombado desde 1948, Andrey Schlee, diretor do Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização do Iphan, havia prometido a recolocação dos quebra-sóis no segundo semestre, bem como a substituição do material original, em cimento amianto — cujo uso passou a ser proibido, por causar danos à saúde —, por fibra de vidro. A promessa, no entanto, deverá demorar um pouco mais para ser cumprida, já que somente em setembro foi publicado o aviso da licitação, marcada para dezembro.
Apesar da importância dos painéis, que, além de sua funcionalidade, viraram uma espécie de identidade do prédio, sua recolocação não estava contemplada no escopo do contrato com a Concrejato, empresa responsável pela grande e longa reforma do Capanema.
o prédio com todas as lâminas há sete anos — Foto: Emily Almeida/04-09-2018
O novo edital de concorrência pública prevê a contratação dos projetos básicos e executivos e a realização de testes e ensaios, além da execução das obras de restauração dos 1.462 painéis de brise-soleils do edifício, bem como todo o mecanismo de movimentação do sistema, ao custo de R$ 7 milhões. A licitação está prevista para o dia 8 de dezembro, tendo técnica e preço como critérios do julgamento. Entre as justificativas para a contratação está a apresentação de problemas de conservação, incluindo fissuras e corrosões, além da necessidade de garantir a segurança dos transeuntes e a funcionalidade do espaço. O projeto de restauração deverá respeitar as diretrizes estabelecidas pelo Iphan.
Não muito distante do Capanema, na Avenida República do Chile, também no Centro, uma das construções mais icônicas da cidade, o edifício sede da Petrobras, chama a atenção de quem passa pelo local, desde que entrou em obras para uma grande reforma, que só deve ficar pronta em setembro de 2027.
Mas, se antes o que surpreendia era ver os andares vazios, um prédio todo “vazado”, sem mobília ou divisórias, a surpresa agora fica por conta das placas de vidro espelhado que começaram a ser colocadas na fachada, ainda livre do conjunto de brise-soleils em alumínio que imprime marca única ao seu visual, momentaneamente alterado, já que a estatal garante que a arquitetura original será preservada.
— Vai ficar bonito. É um projeto legal que acompanha a modernização da arquitetura atual. Só acho o custo meio alto — critica o bancário Paulo Roberto dos Santos, de 59 anos, cujo trajeto para o trabalho passa pelo Edise, forma abreviada para edifício-sede, como é também conhecido.
Vidros espelhados são colocados na fachada do Edifício Sede da Petrobras — Foto: Márcia Foletto
O bancário se refere ao R$ 1,3 bilhão que está sendo gasto na reforma, que está a cargo da empresa Engemon Comércio e Serviços Técnicos Ltda. Neste valor, estão incluídos elaboração de projeto executivo, construção, montagem e desmontagem, comissionamento e suporte a pré-operação, operação assistida do projeto de revitalização do Edise e do seu edifício-garagem, o Gedise, além do fornecimento de bens. As obras no prédio da Petrobras foram anunciadas e começaram para valer em 2021. Após uma interrupção, foram retomadas no ano passado.
Construído entre 1969 e 1974, o edifício sede da Petrobras passa pela sua primeira grande reforma em 50 anos. O projeto surgiu como parte de um concurso nacional promovido em 1967 pelo então Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) da Guanabara.
Presidente do IAB no Rio, Marcela Abla está confiante de que os brises serão recolocados tanto na fachada do edifício da Petrobras, onde as obras ainda estão em andamento, como na do Capanema que, segundo diz, enfrenta uma questão técnica de encontrar o material adequado.
— É uma questão que a gente deve ficar atento como arquitetos e cidadãos cariocas de cobrar realmente a colocação dos brises, porque eles é que vão proteger aquelas fachadas da insolação. Eles têm uma função muito importante de proteção — garante.
Para enfrentar o calorão
O arquiteto e urbanista Sérgio Magalhães diz que o uso do brise-soleil, além de ser um dos pilares da arquitetura moderna, passou a ser no Brasil uma resposta eficaz para questão climática, tendo sido usado em várias outras construções.
Resta um. O solitário brise azul que sobrou na fachada do Palácio Gustavo Capanema após a reforma — Foto: Márcia Foletto
— A ideia de não ter brise (no Capanema) não existe. É mais uma questão técnica de encontrar o material apropriado. Isso está levando muito tempo realmente, e dá a impressão de que há uma decisão de não usar. mas eu acho que não corresponde à verdade — afirma, acrescentando que não crê também na retirada definitiva no da Petrobras.
Sobre o Capanema, o Ministério da Cultura informou, por meio de nota do Iphan, apenas que o aviso de licitação foi publicado em 9 de setembro e que a escolha do material a ser utilizado dependerá de testes e ensaios a serem realizados pela empresa contratada. “A estimativa para execução do serviço é 2026”, conclui o comunicado.