O Comité Norueguês do Nobel anunciou que o prémio foi concedido a Maria Corina Machado “pelo seu trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos para o povo da Venezuela e pela sua luta para alcançar uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia”.


“Enquanto líder do movimento pela democracia na Venezuela, Maria Corina Machado é um dos exemplos mais extraordinários de coragem civil na América Latina nos últimos tempos”, afirmou o presidente do Comité, Jørgen Watne Frydnes, em Oslo.


“Quando os autoritários tomam o poder, é crucial reconhecer os corajosos defensores da liberdade que se levantam e resistem”, acrescentou.

“A democracia depende de pessoas que se recusam a permanecer em silêncio, que arriscam dar um passo em frente apesar dos graves riscos e que nos recordam que a liberdade nunca deve ser tomada como garantida, mas deve ser sempre defendida – com palavras, coragem e determinação”, destacou o Comité.
“Oh meu Deus… não tenho palavras”
Kristian Berg Harpviken, diretor do Instituto Norueguês do Nobel, partilhou a notícia diretamente com Corina Machado antes de o prémio ser anunciado publicamente.

“Oh meu Deus… não tenho palavras”, reagiu a opositora Venezuela durante o telefonema, que foi partilhado nas redes sociais do Comité.

“Muito obrigada, mas eu espero que perceba que isto é um movimento, eu sou só uma pessoa. Eu certamente não mereço isto”, disse Machado. “Acho que tanto o movimento como a Corina merecem isto”, respondeu Harpviken.

“Estou honrada e muito agradecida”, disse a opositora venezuelana.


 

Num vídeo divulgado nas redes sociais por Edmundo González Urrutia, candidato da oposição venezuela nas últimas eleições, Maria Corina Machado disse estar “em choque” com a notícia do prémio.


“Estou em choque! O que é isto? Não acredito”, ouve-se Machado dizer, numa chamada telefónica com Urrutia.

O gabinete de direitos humanos das Nações Unidas felicitou a vencedora do Prémio Nobel da Paz, afirmando que reflete as aspirações dos venezuelanos por eleições livres.

“Este reconhecimento reflete as claras aspirações do povo da Venezuela por eleições livres e justas, por direitos civis e políticos e pelo Estado de direito”, disse a porta-voz do ACNUDH, Thameen al-Kheetan.

A lusodescendente tornou-se o símbolo da resistência a Nícolás Maduro na Venezuela e tem sido alvo de perseguição política, processos e ameaças por parte do regime.


Machado era candidata presidencial da oposição nas eleições de 2024, mas o regime de Maduro impediu-a de concorrer. A lusodescendente transferiu, por isso, o apoiou ao candidato da oposição Edmundo González Urrutia.
A viver na clandestinidade desde as eleições de 28 de julho de 2024, Corina Machado foi detida depois de ter aparecido numa manifestação contra o regime, na véspera da tomada de posse de Nicolás Maduro, a 10 de janeiro.

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, foi proclamado vencedor das presidenciais pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), considerado sob controlo do poder. No entanto, o CNE nunca divulgou as atas eleitorais das assembleias de voto, afirmando ter sido vítima de um ataque informático.

Por sua vez, a oposição divulgou as atas eleitorais fornecidas pelos seus escrutinadores e garante que o seu candidato, Edmundo González Urrutia, obteve a maioria dos votos. González Urrutia ganhou o apoio de governos de todo o mundo, nomeadamente dos EUA, que consideram-no o presidente eleito na Venezuela. Em dezembro último, Corina Machado recebeu o Prémio Sakharov e deu uma entrevista à RTP, na qual denunciou que o regime venezuelano “nunca esteve tão frágil”. A líder da oposição venezuelana pediu também mais apoio ao Governo português. 


O Prémio Nobel da Paz, avaliado em 11 milhões de coroas suecas, será entregue em Oslo a 10 de dezembro, data do aniversário da morte do industrial sueco Alfred Nobel, que fundou o prémio no seu testamento de 1895. O presidente do Comité disse, no entanto, que não têm certezas sobre se Corina Machado irá comparecer à cerimónia, uma vez que se encontra a viver escondida na Venezuela.


“É uma questão de segurança. É muito cedo para dizer. Sempre esperamos ter o laureado conosco em Oslo, mas esta é uma situação de segurança séria que precisa de ser resolvida primeiro”, disse Frydnes.