fábrica de mosquitosCom 1.300 m², a fábrica de mosquitos instalada em Campinas foi projetada para ser a maior do mundo na produção do inseto modificadoFoto: JLL/YouTube/Reprodução

Uma proposta inusitada tem chamado a atenção do setor empresarial em São Paulo. A empresa britânica Oxitec inaugurou, em Campinas (SP), uma fábrica com capacidade para produzir 190 milhões de mosquitos por semana.

Pode parecer estranho, mas esses insetos são geneticamente modificados para impedir a transmissão de vírus de duas maneiras diferentes. A ideia parte de uma das estratégias mais promissoras no combate às doenças causadas pelo Aedes aegypti — como dengue, zika e chikungunya: usar o próprio mosquito para conter o avanço das epidemias.

Mosquitos ‘do bem’ são produzidos pela empresa desde 2021

A Oxitec já atua no Brasil desde 2021, com o chamado “Aedes do Bem”, técnica que alterava o material genético das fêmeas do mosquito, responsáveis pelas picadas e pela transmissão das doenças. Agora, a nova unidade amplia o trabalho com uma segunda tecnologia: o uso da bactéria Wolbachia.

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Quando essa bactéria está presente no mosquito, o vírus da dengue e outros não conseguem se multiplicar dentro dele, interrompendo o ciclo de transmissão.

  • Fábrica de mosquitos da Oxitec em Campinas (SP) - Oxitec/Reprodução/ND Fábrica de mosquitos da Oxitec em Campinas (SP) – Oxitec/Reprodução/ND

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As chamadas biofábricas de mosquitos funcionam como verdadeiros complexos industriais: cada fase — da alimentação ao controle reprodutivo — é cuidadosamente monitorada antes da liberação dos insetos no meio ambiente.

Ovos de mosquito. A principal função da fábrica é multiplicar mosquitos que já carregam as modificações desejadas, seja o gene autolimitante ou a bactéria Wolbachia.Foto: Oxitec/Reprodução/NDOvos de mosquito. A principal função da fábrica é multiplicar mosquitos que já carregam as modificações desejadas, seja o gene autolimitante ou a bactéria Wolbachia.Foto: Oxitec/Reprodução/ND

Em julho, o Ministério da Saúde também inaugurou uma fábrica de mosquitos em Curitiba (PR), em parceria com a Fiocruz, a Wolbito do Brasil, o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP) e o World Mosquito Program (WMP). A unidade paranaense já produz cerca de 100 milhões de ovos por semana.

Oxitec e a maior fábrica de mosquitos do mundo

Com 1.300 m², a nova planta da Oxitec foi projetada para ser a maior do mundo em produção de mosquitos modificados. A empresa, que atua com defensivos biológicos no controle de pragas, ainda aguarda autorização da Anvisa para iniciar as operações.

Em nota à Dinheiro Rural, a Anvisa informou que o processo será analisado com prioridade, levando em conta o cenário epidemiológico do país. A agência destacou que irá avaliar todas as etapas de produção e segurança, como o controle de qualidade, a origem do sangue usado na alimentação dos mosquitos, o processo de liberação dos ovos infectados e os estudos que comprovam a eficácia e segurança da tecnologia.

A Anvisa ainda avalia o pedido de autorização para a Oxitec iniciar a produção, levando em conta critérios de segurança e eficáciaFoto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/NDA Anvisa ainda avalia o pedido de autorização para a Oxitec iniciar a produção, levando em conta critérios de segurança e eficáciaFoto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/ND

“Considerando que ainda não existe regulamentação sobre a matéria, a Anvisa irá considerar as evidências técnicas disponíveis e avaliar o pleito de forma alinhada às diretrizes do Programa Nacional de Controle das Arboviroses do Ministério da Saúde”, explicou a autarquia.

Além disso, o Ministério da Saúde informou que está ampliando o uso do método Wolbachia “conforme o planejamento”. Neste ano, a técnica está sendo aplicada em 13 municípios, e a meta é chegar a 41 cidades em 2026.

Veja imagens da megafábrica:

Conheça as linhas de produção:“Aedes do Bem”

Com sede em Campinas (SP), a empresa multiplica os mosquitos em laboratório e libera machos modificados na natureza para cruzarem com fêmeas selvagens.

O resultado desse cruzamento é que as fêmeas nascidas não chegam à fase adulta, o que impede a reprodução e diminui significativamente a população de mosquitos — e, com isso, os casos de doenças transmitidas por eles.

Aedes do Bem, da OxitecFoto: Oxitec/Reprodução/NDAedes do Bem, da OxitecFoto: Oxitec/Reprodução/NDWolbachia

Nesse método, os cientistas de fábrica de mosquitos introduzem a bactéria Wolbachia nos mosquitos, multiplicam esses insetos em laboratório e depois os liberam na natureza.

Tanto machos quanto fêmeas carregam a bactéria e, ao cruzarem com mosquitos comuns, passam a Wolbachia para as próximas gerações. Essa bactéria tem a capacidade de bloquear a multiplicação dos vírus da dengue, zika e chikungunya dentro do organismo dos mosquitos, interrompendo o ciclo de transmissão.

A ideia é substituir gradualmente as populações de mosquitos que transmitem doenças por outras que não representam risco à saúde, mantendo o equilíbrio ambiental.