O reconhecimento de María Corina Machado com o Nobel da Paz colheu elogios por parte do Presidente da República, do ministro dos Negócios Estrangeiros, do PSD, do Chega e da Iniciativa Liberal. Mas enquanto estes celebraram a decisão do Comité Nobel norueguês, o PCP considerou o prémio um sinal de politização da organização e criticou a escolha da activista e opositora política venezuelana do Governo de Nicolás Maduro.

Numa mensagem publicada no site da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou que a distinção “reconhece e encoraja as aspirações democráticas de todos” e destacou que María Corina Machado “tem lutado de forma corajosa e abnegada pela democracia, justiça social e pleno respeito pelos direitos humanos dos venezuelanos”. O Presidente recordou ainda que “já em 2024 fora justamente galardoada, com Edmundo González Urrutia, com o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento”.

A partir de Talin, na Estónia, Marcelo vincou que a galardoada “merece a distinção”, mas que cada um terá a sua opinião, “conforme seja a sua visão do mundo”.

Por sua vez, os sociais-democratas congratularam-se através de uma nota enviada às redacções e felicitaram a opositora venezuelana, lembrando que, há um ano, o PSD foi “o proponente da sua nomeação para o Prémio Sakharov, atribuído pelo Parlamento Europeu, que viria a vencer”. O eurodeputado social-democrata Sebastião Bugalho foi co-autor da iniciativa que redundou na atribuição do Prémio Sakharov a Corina Machado.


À margem de uma acção de campanha no Porto, o ministro dos Negócios Estrangeiros Paulo Rangel classificou o prémio como “justíssimo”. “É uma lutadora pela democracia, com coragem, com audácia. Defendeu sempre eleições livres, integral respeito pelos direitos humanos. Tem feito um trabalho, também a nível internacional, muito importante e, por isso, é uma justíssima merecedora do Prémio Nobel da Paz.”

Rangel acrescentou que a paz “constrói-se como uma paz justa e democrática” e que o trabalho da opositora contribui para “uma transição para a democracia sem mais sacrifícios para o povo da Venezuela”, sublinhando ainda que María Corina Machado “é um grande exemplo ao mundo”.

Também o Chega, através de André Ventura, considerou que a escolha foi “uma excelente decisão que reconhece verdadeiramente quem trabalha pela paz”. Ventura salientou que o prémio “diz muito à comunidade portuguesa e aos portugueses que estão na Venezuela” e destacou que envia “um sinal claro aos governos europeus que continuaram a encontrar-se e a levar ao colo ditadores na Venezuela, em Cuba e noutras ditaduras da América do Sul”, cita a agência Lusa.

A meio da tarde, a Iniciativa Liberal fez saber que entregou um projecto de voto de congratulação na Assembleia da República à escolha da activista venezuelana como Nobel da Paz, considerando que a distinção tem um “enorme significado não apenas para a Venezuela, mas para todas as sociedades que enfrentam regimes autoritários e lutam pela liberdade, pelo Estado de direito e pela dignidade humana”. A bancada liberal fala num “percurso extraordinário” de uma “mulher que recusou o exílio e escolheu permanecer no seu país, mesmo sob ameaça constante, tornando-se símbolo de coragem para milhões de cidadãos”, numa “luta assente na não-violência, na mobilização popular, na unidade democrática e na recusa de legitimar a ditadura”.

“Uma trumpista”

Em contrapartida, o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, criticou duramente a distinção, afirmando que “não deram o Nobel a Trump, deram a uma trumpista” e que a decisão é “um exemplo do descrédito a que chegou a atribuição do Prémio Nobel da Paz”. À margem de uma acção de campanha na Moita, o líder comunista foi questionado sobre a razão da crítica e, em declarações reproduzidas pela RTP3, reiterou: “É tão evidente que o prémio foi entregue a uma trumpista (…) dá-lo a Trump seria demasiado escandaloso.”

María Corina Machado foi deputada da Assembleia Nacional da Venezuela entre 2011 e 2014 e candidata às presidenciais de 2024, tendo sido depois impedida de concorrer. O Comité Nobel destacou “o seu trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos do povo da Venezuela e a luta por uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia”, reconhecendo a coragem e a persistência da líder oposicionista numa região marcada por desafios políticos e sociais significativos.

Notícia actualizada: Acrescenta a entrega do projecto de voto pela IL.