Foi aquilo que ambicionou ser, sem sonhos de grandeza, sem megalomanias, feliz em palco como em nenhum outro lugar, feliz no estúdio a procurar com os camaradas de bandas novos caminhos, novas possibilidades para a música rock. Tinha 82 anos e morreu em casa, rodeado pela família e pelos sons que, lá muito atrás no tempo, lhe tinham mostrado o caminho, os dos Everly Brothers e de Buddy Holly. O seu nome era John Lodge e foi um pouco mais que Just a singer (in a rock’n’roll band), título de uma das suas canções. Compô-la para a sua banda de sempre, os Moody Blues, de que foi baixista e um dos vocalistas.

“É com a tristeza mais profunda que nos vemos obrigados a anunciar que John Lodge, o nosso querido marido, pai, avô, sogro e irmão, nos foi roubado repentina e inesperadamente”, noticiou a família do músico em comunicado. “O John morreu pacificamente, rodeado dos seus entes queridos e dos sons dos Everly Brothers e de Buddy Holly. Vamos sentir para sempre a falta do seu amor, do seu sorriso, da sua bondade e do apoio, total e infinito”.


John Lodge integrou a formação clássica dos Moody Blues, contribuindo para a sua transformação de combo rhythm’n’blues em formação aventureira a abrir caminho para o psicadelismo e para aquilo que viria a ser o rock progressivo. Depois de um período, em 1966, em que abandonou a cena musical para retomar os estudos, é chamado para os Moody Blues no ano seguinte, a tempo de participar em Days of Future Passed, segundo álbum da banda. Aproveitando e subvertendo as intenções da sua editora, a Deram, nova chancela da Decca, que pretendia usar a banda para divulgar as potencialidades da gravação em estéreo – o pedido era que gravassem versões de temas pop e da clássica, acompanhados por orquestra –, os Moody Blues acabariam por registar um clássico opulento do rock psicadélico da época, onde encontramos Nights in white satin, uma das mais emblemáticas canções dos anos 1960.

Os álbuns seguintes, como In Search of the Lost Chord (1968), On the Threshold of a Dream (1969) ou To Our Children’s Children (1969), cimentaram o estatuto da banda e construíram o seu legado como uma das mais criativas e importantes do chamado rock progressivo, aliando a experimentação em estúdio com um romantismo e uma melancolia tocantes e uma sempre presente ideia de canção.

Baixista que também assumia ocasionalmente a voz principal, função partilhada por vários elementos da banda que tinha nas luminosas harmonias vocais uma das suas marcas, John Lodge assinou para os Moody Blues canções como Ride my see-saw, Send me no wine, Candle of life ou a supracitada I’m just a singer (in a rock’n’roll band), incluída em Seventh Sojourn, álbum de 1972 que marca o fim da primeira vida da banda.


Nascido em Erdington, um subúrbio de Birmingham, despertou para a música quando chegam a Inglaterra os sons dos pioneiros americanos do rock’n’roll. Aos 14 anos, conheceu Ray Thomas, o compositor e multi-instrumentista que, anos depois, o chamaria para integrar os Moody Blues. Era então estudante de Engenharia. Ganhou a música.

“O palco era o sítio onde estava mais feliz. Era apenas um cantor numa banda rock’n’roll e adorava actuar com a sua banda e com o seu genro, Jon, e poder continuar a partilhar a sua música com os seus fãs”, lê-se no comunicado emitido pela família. John Lodge continuou a actuar com as diferentes formações dos Moody Blues até à despedida oficial da banda, em 2018.

Homem nos antípodas da vida no limite do rock’n’roll do seu tempo — cristão evangélico, dizia que a sua fé o protegera dos excessos —, voltou a integrar os Moody Blues quando do regresso da banda à actividade no final dos anos 1970. Durante o hiato, lançara um álbum a solo Natural Avenue, em 1977. Seria o primeiro de dois: 10,000 Light Years Ago chegou quase 40 anos depois, em 2015.