Os substitutos vegetarianos aos hambúrgueres, salsichas ou panados tradicionais podem ter de deixar de usar essa terminologia. Isto porque o Parlamento Europeu aprovou, esta quarta-feira, uma proposta que proíbe o uso dessas designações, outrora exclusivas dos produtos carnívoros. A proposta ainda terá de passar à aprovação legislativa numa próxima fase.
A lista, como mencionado, inclui termos como “hambúrguer”, “salsicha”, “panado”, “bife”, mas também “gema ou clara de ovo”. A justificação dos eurodeputados prende-se com a “necessidade de proteger o sector agrícola europeu” e para evitar que o consumidor seja induzido em erro, citam várias agências noticiosas.
“Simplesmente não é salsicha, não é bife. É preciso chamar a um cão ‘cão’ e a um gato ‘gato’ “, justificou, por exemplo, Céline Imart a eurodeputada do Partido Popular Europeu, uma das autoras da medida, citada pelo Le Figaro. A francesa acredita que o uso desses nomes serve para “tirar partido da fama dos produtos” tradicionais e engana o consumidor. O chanceler alemão assumiu uma posição semelhante. “Uma salsicha é uma salsicha. Uma salsicha não é vegetariana”, disse Friedrich Merz, citado pela BBC.
Várias associações ambientalistas, de defesa do consumidor e, inclusive, cadeias de supermercados e fast-food têm criticado a proposta. Grandes nomes como o Aldi, o Burger King, o Lidl e a Beyond Meat co-assinaram uma carta aberta sobre o tema, dirigida ao Parlamento Europeu.
Internamente, as críticas mais fortes são do grupo parlamentar Os Verdes, que acusam a proposta de ser um retrocesso na sustentabilidade, alegam que a grande maioria dos consumidores sabe a diferença entre os produtos e acreditam que há maiores problemas para resolver. “Enquanto o mundo arde, o Parlamento Europeu não tem nada melhor para fazer com esta semana do que debater sobre salsichas e schnitzel [um prato típico austríaco] “, atacou Anna Cavazzini, do partido Verde alemão, citada pela Deutsche Welle.
A União Europeia já impôs uma proibição semelhante relativa às bebidas vegetais. As designações “leite”, “natas”, “manteiga” ou “queijo” já são exclusivas, desde 2020, dos “produtos excretados pelas glândulas mamárias”, lê-se na lei. As alternativas vegetais, como “leite de aveia” são agora vendidas como “bebida de aveia”.
Esta votação, que já tinha tido uma tentativa de resultado diferente em 2020, decorreu na quarta-feira, e ficou concluída com 355 votos a favor da proibição, 247 contra e 23 abstenções.