Emmanuel Macron renomeou, esta sexta-feira à noite, Sébastien Lecornu como primeiro-ministro de França.
O anúncio segue-se a uma derradeira reunião entre o Presidente e os principais representantes dos partidos, da esquerda ao centro, esta tarde, no Eliseu. Daí já tinham saído algumas pistas do que aí vinha. Sabia-se que o próximo primeiro-ministro vinha da “base comum”, composta pelos partidos mais próximos de Macron e não da esquerda, ignorando os pedidos reiterados para que se encontrasse o próximo chefe do Governo neste campo político. E que a possibilidade de dissolução do Parlamento foi evitada – por enquanto.
Depois das reuniões, ao final da tarde, Emmanuel Macron dizia existir “um caminho possível” para “tecer compromissos e evitar a dissolução”
O Presidente francês considera que a reunião de sexta-feira com os partidos políticos no Palácio do Eliseu “confirma que existe um caminho possível para tecer compromissos e evitar a dissolução”, disse o Presidente, citado pelo Le Monde.
Esquerda estupefacta
A decisão de não nomear uma pessoa da esquerda deixou os ecologistas “estupefactos” e os socialistas a acenar com a possibilidade de uma “não confiança” ao Governo se a reforma das pensões não for suspensa. “Não tivemos nenhuma resposta, nem sobre as reformas”, disse o socialista Boris Vallaud, à saída da reunião, referindo-se ao assunto que o primeiro-ministro cessante, Sébastien Lecornu, já tinha descrito como o maior “ponto de bloqueio” actual.
A reunião aconteceu sem telemóveis (os líderes partidários tiveram de os deixar numa caixinha numa sala à parte), estendeu-se durante algumas horas e, pelo menos no entender de Laurent Panifous, do Liberdades, Independências, Ultramar e Territórios (partido LIOT na sigla original), todos “tiveram a oportunidade de intervir” e encontraram “um Presidente que escutava”.
O convite – enviado às 2h da madrugada, o que fez com que muitos só se apercebessem que tinham sido convocados depois de a imprensa o ter noticiado — excluiu os representantes da União Nacional e da França Insubmissa, por serem dois partidos que “procuram a dissolução” da Assembleia e novas eleições, justificava esta tarde a equipa de Macron.
Da parte dos primeiros, Jordan Bardella disse que a formação de extrema-direita “se honra de não ter sido convidada” porque não está “à venda para os macronistas”. Le Pen, que esteve numa acção de apoio a bombeiros-sapadores, chamou-lhe uma “reunião de mercadores” com o objectivo de “evitar umas eleições que estão na Constituição” — um cenário onde o seu partido sairia previsivelmente beneficiado.
Já Jean-Luc Melénchon, da França Insubmissa, fala de um “desfile no Eliseu do qual Emmanuel Macron nos dispensou”, “uma perda de tempo para o país”. Na conferência de imprensa que deu na manhã desta sexta-feira, voltou a um pedido que tem repetido ao longo dos últimos dias: um regresso às urnas e a demissão antecipada de Emmanuel Macron, “um soldado perdido nas suas aberrações”.
Até agora, ninguém – sem ser o Presidente – sabia o nome do próximo primeiro-ministro. O Le Parisien, que falou com algumas fontes que estiveram reunidas na quinta-feira no Eliseu, chegou a pôr em cima da mesa a opção de recondução de Sébastien Lecornu, com um Governo composto principalmente por representantes da sociedade civil e outras figuras do mundo político, “com muitos rostos novos”.
Se não for possível chegar a consensos, o Presidente não pôs de lado a possibilidade de uma dissolução. “Se não resultar, é a dissolução, porque não há plano B”, disse uma das fontes do jornal.
Muitos se opõem à recondução de Lecornu, mesmo do campo presidencial. À FranceInfo, a ministra demissionária da Transição Ecológica, Agnès Pannier-Runacher alega que “não é sobre o mérito” de Lecornu, mas sobre a “mensagem que enviamos aos franceses”: “Têm de entender que é uma ruptura”, escolhendo uma “pessoa que não é do campo macronista”.
Também Gabriel Attal, antigo primeiro-ministro de Macron, não apoiou a ideia: pode “produzir os mesmos efeitos” que já se viram, disse numa entrevista à France 2.