A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, alertou para o que descreve como uma “guerra híbrida” em curso no espaço aéreo europeu. Nos últimos meses, vários países têm registado incidentes com drones não identificados a sobrevoar infraestruturas críticas e zonas aeroportuárias, levantando preocupações de segurança e suspeitas de envolvimento russo.

“Algo novo e perigoso está a acontecer nos nossos céus”, afirmou von der Leyen no Parlamento Europeu, citada pelo jornal ‘POLITICO’. “Só nas últimas semanas, caças MiG violaram o espaço aéreo da Estónia e drones foram avistados em locais sensíveis na Bélgica, Polónia, Roménia, Dinamarca e Alemanha. Foram suspensos voos, ativados jatos e implementadas contramedidas para garantir a segurança dos cidadãos.” A líder europeia classificou o fenómeno como parte de “um padrão preocupante de ameaças crescentes”.

O Parlamento Europeu prepara uma resolução sobre a alegada utilização de drones por “agentes russos” para perturbar o tráfego aéreo e testar a resposta europeia. “Um incidente pode ser um erro. Dois, uma coincidência. Mas três, cinco, dez? Trata-se de uma campanha deliberada e dirigida contra a Europa”, acrescentou von der Leyen, citada pelo mesmo jornal.

Autoridades alertam: drones já eram um problema crescente

Apesar do alarme político, especialistas lembram que o uso de drones próximos de aeroportos não é novo. De acordo com o ‘POLITICO’, as autoridades aeroportuárias registam incidentes há vários anos, com a situação a agravar-se desde a massificação dos drones de consumo na década de 2010. Dados da Agência Europeia para a Segurança da Aviação (EASA) indicam que o número de incidentes passou de cerca de 500 em 2015 para quase 2.000 em 2019.

O problema, segundo o setor, está na dificuldade de deteção. “Os radares tradicionais não foram concebidos para identificar objetos tão pequenos e leves”, explicou Frédéric Deleau, da Federação Internacional das Associações de Controladores de Tráfego Aéreo. Vários aeroportos já recorreram a tecnologias especializadas, como sensores acústicos e câmaras de alta precisão, mas “nenhum sistema garante cobertura total”, advertiu o especialista.

A crescente sofisticação dos drones está também a preocupar as companhias aéreas. Segundo Ourania Georgoutsakou, da associação Airlines for Europe, “qualquer incidente com drones tem impacto direto na operação dos aeroportos e nos custos do setor”. Só entre julho e setembro de 2024, a empresa SkeyDrone detetou 180 drones não autorizados nas imediações do Aeroporto de Bruxelas, embora nenhum tenha causado interrupções.

Os especialistas reconhecem que a Rússia poderá estar por trás de parte destes episódios, mas sublinham que também existem operadores civis ou criminosos a explorar falhas de segurança. Para os analistas, o desafio será distinguir a provocação política das infrações comuns e responder com medidas eficazes que garantam a segurança sem paralisar o transporte aéreo europeu.