Nos palcos de Roger Waters há um ponto de parada que não depende do humor do dia nem da cidade onde ele está. É o instante em que o set abandona a urgência do presente e volta para um capítulo que marcou os primeiros passos do Pink Floyd – um acerto de contas com alguém que já não dividia mais a estrada quando a banda ficou grande.
A referência é inevitável: Syd Barrett. O começo do Floyd nasceu com ele no comando criativo, mas a saída precoce, em 1968, deixou um rastro que atravessou discos, entrevistas e memórias. Anos depois, quando o grupo encontrou seu som mais conhecido, aquela ausência ainda pesava.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE – CLI
A resposta artística veio em forma de faixa extensa, dividida em partes, construída para segurar o silêncio entre os instrumentos e a história que se insinuava nas entrelinhas. Não é a música mais pedida pelos fãs casuais, mas é a que o próprio Waters trata como ritual.
O nome aparece só quando a luz baixa e o tema de guitarra aparece e puxa a música: “Shine On You Crazy Diamond.” Foi pensada como uma espécie de carta aberta, um tributo e, ao mesmo tempo, um lamento discreto por tudo que ficou pelo caminho.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE – GOO
Waters explica o gesto em fala publicada na Far Out: “Eu toco ‘Shine On’ todas as noites quando estou fazendo shows. Então a memória dele está muito presente nessa música. Na verdade, também coloco imagens dele na tela como um tributo. Mas também revivo a perda de um amigo que vivi em 1968, quando ele se tornou esquizofrênico”. É uma lembrança musical e visual; uma tentativa de manter o amigo por perto enquanto admite a perda.
Parte do efeito ao vivo vem do desenho da própria peça: longas passagens instrumentais permitem que o clima conduza a plateia, sem depender de vozes que, no disco, foram de David Gilmour. Para quem chega atrás de “Another Brick in the Wall”, pode soar como desvio de rota, mas a intenção é outra, e Waters não esconde.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE – CLI
Em resumo, a canção não está ali por formalidade. Ela cumpre a função de lembrar quem estava na origem e o que aconteceu depois. Desde “Wish You Were Here”, “Shine On You Crazy Diamond” virou o modo mais claro de Waters lidar com a ausência de Barrett, noite após noite, sem pressa e sem explicações adicionais.