Silent Hill f é uma experiência de terror psicológico cujo design linear permite à atmosfera claustrofóbica brilha com inquietante desenvolvimento. A narrativa é perturbadoramente hipnotizante, o sistema de combate pesado exige conhecimento das suas especificidades e a Konami consegue com sucesso diversificar sem prescindir da essência.

Silent Hill f é uma autêntica surpresa da Konami, que a cada pequeno passo parece caminhar de forma certeira rumo às boas graças dos seus fãs. Além de recuperar obras adoradas para novas gerações, está a produzir novas experiências e a expandir o tipo de propostas, neste caso um jogo de terror e ação que usa os conceitos basilares da série para algo realmente interessante.

Devo confessar que não sou fã de terror, os jogos Resident Evil são a única coisa próxima disso que consigo tolerar. Além disso, a minha experiência com Silent Hill é muito limitada, apenas joguei os primeiros dois jogos e um pouco do terceiro. No entanto, a aposta numa experiência mais orientada para a ação despertou em mim coragem para saciar a curiosidade e jogar a dramática jornada da jovem Hinako. Devo dizer que enquanto não terminei, não consegui parar de jogar e em diversos momentos, só queria “despachar” os momentos de jogabilidade para ver as cutscenes à espera do desenrolar dos horríveis acontecimentos.

  • Estúdio: Neobards Entertainment
  • Editora: Konami
  • Plataforma onde o jogámos: PS5
  • Disponível para: PS5, Xbox Series, PC

Uma era diferente, o mesmo terror psicológico

Em Silent Hill f, a Konami leva-te até à década de 60, numa pacata localidade rural japonesa onde vive Hinako. Desde a primeira cutscene que o nevoeiro está lá, tal como a sensação de constante inquietação e claro, as constantes dúvidas sobre o que é real ou não. Bem ao estilo da série, Silent Hill f mergulha na exploração do psicológico das suas personagens como forma de transformar a realidade de jogo, o que interfere com os cenários e com a própria experiência de jogabilidade. Apesar de ter sido produzido fora da Konami e mais focado na ação, f ostenta os traços associados a Silent Hill.

A jornada de Hinako começa com a jovem a tentar encontrar-se com um amigo, mas quando não encontra ninguém na cidade e o nevoeiro perturbador persiste, começa a questionar-se sobre o que se está a passar. Rapidamente o terror instala-se com criaturas grotescas a surgir, mas é aquela que se esconde no nevoeiro a maior ameaça. Até alguém como eu, com pouca experiência na série, sabe que temos sempre de questionar se o que se está a passar decorre na “realidade do jogo” ou dentro da cabeça da personagem, talvez numa outra dimensão para a qual foi atirado por sua própria culpa.

Esse mistério é constante em Silent Hill f e mesmo após os créditos terminarem, é fácil ficar com a sensação que apenas conseguiste perceber uma parte pequena de tudo o que se passa aqui. Após terminar o jogo a primeira vez, tens de o jogar novamente e cumprir certos requisitos para ver os outros finais até chegar ao “verdadeiro”, mas o jogo está desenhado para te dar pistas sobre como salvar Hinako e o que se está a passar. Existe imenso de rebuscado e de fantasia, mas também outro tanto de credível, real e contextualizado com a realidade japonesa da década, para dar forma ao drama arrepiante que Hinako vive.

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Em termos de jogabilidade, esse drama decorre na forma de um intenso e cinematográfico design linear que promove a constante sensação de claustrofobia. Sabes aquela ideia de sentires que não estás sozinho após ver um filme de terror? Silent Hill f executa esse truque com eficácia pois sentes constantemente que tens alguém atrás de ti, mesmo que não seja frequente os inimigos saltarem das esquinas para te atacar de surpresa. É terror psicológico com cenas incrivelmente violentas ao longo de muitas cutscenes, desenhado como um jogo de ação linear e relativamente simples, que não, não é Soulslike.

Ação com regras e especificidades

A simplicidade da jogabilidade advém do número escasso de armas, golpes, movimentos que Hinako executa e até das regras a seguir para enfrentar os inimigos ou escapar deles. Em Silent Hill f, a experiência está desenhada em torno da barra de vigor, consumida ao executar ou esquivar de golpes. Tens de atacar ciente que insistir no ataque vai resultar no uso total do vigor e Hinako fica à mercê dos inimigos. Existem formas de melhorar as suas capacidades, mas aqui não há XP ou níveis, nem sequer perdes nada quando és derrotado. O sistema de vigor, tal como o de combate, está desenhado para transmitir sensação de esforço e de jogar com uma personagem humana, que apesar de atlética, está muito próxima da derrota com cada monstro que decides enfrentar.

Um dos aspectos que mais agrada no sistema de combate é a sensação de peso nos movimentos. Quanto mais pesada a arma mais lento é o movimento que Hinako executa, por isso tens de escolher bem a arma que usas com cada inimigo, sem esquecer que as armas tem durabilidade e podem quebrar quando mais precisas delas. É nítida a tentativa de transmitir a sensação de uma personagem humana num ambiente sobrenatural, que a cada novo capítulo sente a sua raiva e confusão a crescer, o que ao mesmo tempo te aproxima da verdade e maior compreensão do enredo.

Convém ainda mencionar que a produtora NeoBards e a Konami apostaram na acessibilidade tanto para os combates como para os puzzles, que podes ajustar de forma individual. Se desejas jogar pela narrativa, podes jogar com os combates mais fáceis e jogar com quebra-cabeças mais simples, com mais pistas. No entanto, se jogares na dificuldade normal, ambos os elementos são muito mais exigentes.

Antes de terminar, devo referir que a qualidade gráfica geral de Silent Hill f merece muitos elogios. Mesmo com um design linear relativamente simples e o repetir de áreas, o jogo tem bons momentos visuais que ajudam a manter-nos agarrados, um efeito para o qual o bom trabalho no áudio contribui. No entanto, o desempenho pode deixar a desejar. Jogado numa PS5, algumas das cenas nos últimos capítulos do jogo podem sofrer fortíssimas quedas no desempenho, manifestadas na forma de fortes soluços que prejudicam imenso a experiência.

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Conclusão

A abordagem ao sistema de combate promete dividir as opiniões, tal como a aposta numa experiência de ação, mas ainda assim Silent Hill f não é um hack and slash ou um Soulslike, longe disso. É um jogo de terror psicológico, que preserva a essência da série, mas menos punitiva na gestão de recursos e na qual a protagonista consegue enfrentar melhor os monstros.

Mesmo com o foco na ação, o combate lento que exige constante atenção ao vigor para gerir os timings de ataque e esquiva, Silent Hill fjogo de ação e terror cuja excelente execução narrativa, seja através dos momentos interativos como nas cutscenes, resultam numa experiência verdadeiramente hipnotizante. É fácil ficar imerso neste desconfortante mundo, sempre à espera de novas cenas que vão mostrar mais momentos perturbadores à espera de respostas. Como jogo de ação é meramente competente, mas brilha em tudo o resto.

Prós: Contras:
  • Atmosfera inquietante, claustrofóbica de terror psicológico
  • Sistema de combate lento que transmite tom humano
  • Narrativa misteriosa conta de forma dinâmica durante a jogabilidade e nas fantásticas cutscenes
  • O final não é o final e tens de encontrar forma de alcançar o “verdadeiro” final
  • Possibilidade de definir separadamente a dificuldade para combate e quebra-cabeças
  • Fortes problemas de desempenho nos últimos níveis
  • Repetição de locais pode causar desgaste visual
  • Pouca variedade de armas, movimentos e inimigos