“Quando se tem um distúrbio alimentar, aprende-se a mentir muito bem.” A frase marcante é uma das muitas confissões de Victoria Beckham no novo documentário biográfico que estreou esta quinta-feira, 9 de outubro, na Netflix. A antiga Spice Girl decidiu contar, pela primeira vez, a sua versão da história. Sem filtros.

Com três episódios, a série documental “Victoria Beckham” é realizada por Nadia Hallgren e mergulha nas várias facetas da britânica: a menina tímida, a popstar planetária, a figura mediática e a empresária que quase perdeu tudo. Dois anos depois de David Beckham ter lançado o seu próprio documentário, chegou agora a sua vez. “Não é sobre ele. É sobre mim”, dispara logo no arranque.

A série mistura imagens de arquivo, bastidores recentes e depoimentos de amigos e figuras conhecidas como Eva Longoria, Anna Wintour ou Donatella Versace. Ao longo dos episódios, há uma clara tentativa de desmontar a imagem pública que se criou à volta de Victoria e mostrar o que quase ninguém conhecia.

Antes da fama, Victoria era apenas Victoria Adams, miúda introvertida com uma paixão por teatro musical, que não se sentia integrada na escola. “Era claramente uma solitária. Fui vítima de bullying. Era desajeitada, pouco sociável”, recorda. O palco foi a forma de escapar. E foi esse gosto por se transformar em palco que a levou a tentar a sorte num casting para uma girlband. Aos 19 anos, enquanto outras raparigas cantavam Madonna ou Whitney Houston, apareceu com uma performance de “Mein Herr” do musical Cabaret.

Foi com as Spice Girls que encontrou finalmente um lugar onde se sentia aceite. “Fizeram-me sentir que eu era suficiente.” É essa mesma mensagem que tenta hoje passar à filha Harper, de 14 anos. “Digo-lhe todos os dias: sê quem tu és.”

A fama trouxe também as manchetes negativas e muitas diziam respeito ao seu corpo. “Começaram a dizer-me que eu não era suficientemente boa”, confessa. A forma de lidar com a pressão foi tentar controlar tudo à sua volta, incluindo o corpo. “Estava a controlar tudo de forma incrivelmente doentia. Quando se tem um distúrbio alimentar, aprende-se a mentir muito bem. Nunca falei sobre isto com os meus pais”, confessou.

Com o fim da banda, Victoria tentou continuar a carreira musical a solo. Sem sucesso. E a partir de 2006, no Mundial da Alemanha, passou a estar mais associada ao termo WAG (Wifes and Girlfriends of Sports Stars) do que à música. As imagens das mulheres dos jogadores a desfilar pelas ruas de Baden-Baden correram o mundo e Victoria era sempre o centro das atenções. “Foi divertido, sim, mas havia claramente um lado de procura de atenção. Sentia-me incompleta, congelada no tempo.”

Foi nesse momento que percebeu que queria mudar e a moda foi a saída. A mudança para Los Angeles, nos Estados Unidos, marcou um ponto de viragem. Com a ajuda de Roland Mouret, começou a desenhar e em 2008 lançou a sua primeira coleção. A indústria, no entanto, não a levou logo a sério. “As pessoas não me achavam nada cool.” Anna Wintour admite que pensava que era apenas “um hobby”. Mas Victoria insistiu.

A marca cresceu, abriu loja em Londres, mas os problemas não tardaram. As dívidas acumulavam-se. “Estava tudo fora de controlo. Perdi quase tudo”, conta. David Beckham acabou por ajudar financeiramente. A certa altura, revela que gastava cerca de 94 mil euros por ano só com plantas no escritório. Hoje, depois de várias reestruturações, a marca vende em mais de 50 países e o último desfile em Paris, em setembro de 2024, contou com Gigi Hadid na passarela e Anna Wintour na primeira fila.

O documentário aborda também os rumores de tensão familiar entre Victoria, David, o filho Brooklyn e a nora Nicola Peltz. O casal não esteve presente na festa dos 50 anos de David, nem partilhou mensagens públicas. Ainda assim, na série não há qualquer menção direta ao tema.

Uma das partes mais inesperadas do documentário é a explicação para o famoso ar sério de Victoria nas fotos. “Quando posamos, o David está sempre do lado esquerdo. E eu sorrio melhor desse lado. Se sorrio do outro, pareço doente. Então sorrio por dentro, mas ninguém vê”, comenta.

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