Cidade portuária de Kaohsiung, no sul de Taiwan
Bloqueio marítimo pode ser a estratégia da China para atingir Taiwan mesmo no seu “calcanhar de Aquiles” — sem alertar as atenções internacionais para uma invasão em grande escala.
Praticamente 100% dependentes de combustível importado, tanto Taipei e Washington temem todos os dias que a China ‘rebente a bolha’ e invada Taiwan, como tem vindo a ameaçar há vários anos. Mas o grande perigo pode nem ser a invasão.
A maior fragilidade de Taiwan reside no gás natural liquefeito (GNL), que responde por quase metade da eletricidade produzida na ilha.
Cerca de 97% da energia de Taiwan é importada por via marítima, o que significa que, numa situação de bloqueio completo, as reservas de GNL esgotar-se-iam em apenas alguns dias, paralisando rapidamente a produção de eletricidade.
Pequim tem feito questão de mostrar, através do seu exército, que o consegue fazer: exercícios militares chineses já demonstraram como Pequim poderia isolar e estrangular a ilha, bloqueando rotas marítimas fundamentais para o abastecimento de energia, em vez de chamar a atenção com uma invasão em grande escala.
O governo taiwanês tem procurado aumentar a capacidade de armazenamento de energia e reavaliar a matriz energética da ilha.
Entre as opções em estudo está a energia nuclear — o último reator foi desligado recentemente, aliás, preocupações de segurança levaram ao encerramento de todos os reatores, num país que nos anos 80 tinha mais de 52% da eletricidade vinda de energia nuclear.
Em cima da mesa está também o reforço das energias renováveis, que atualmente representam menos de 12% da produção elétrica. A meta é atingir 70% de energia renovável até 2050.
Mas se essa é uma meta ainda longe de ser atingida, a dependência de importações também mantém Taiwan vulnerável.
Um estudo recente do Washington-based Center for Strategic and International Studies (CSIS), citado pelo The Wall Street Journal, revelou que, sob um bloqueio chinês, os stocks de GNL durariam menos de duas semanas, enquanto o carvão chegaria apenas para cerca de sete dias.
O impacto imediato seria sentido na indústria e na produção de semicondutores, que tem repercussões a nível global — Taiwan é a casa da maior fabricante de chips do mundo, a TSMC. Qualquer esforço para racionar eletricidade teria de ser politicamente gerido, avisa o relatório.
Outros exercícios de simulação mostraram que Taiwan poderia esgotar os seus stocks de GNL em apenas 11 dias durante um bloqueio.
Entretanto, para impedir tal catástrofe, discute-se no Senado dos EUA uma legislação para apoiar a capacidade da ilha em garantir fornecimentos de GNL dos Estados Unidos, incluindo seguros para transportadoras caso as entregas sejam ameaçadas pela China.
Além da eletricidade, um bloqueio completo interromperia a chegada de bens essenciais. Taiwan poderia manter a população alimentada por cerca de nove meses, dado que aproximadamente 70% da comida é importada. Mas a produção industrial sofreria drasticamente, mesmo que houvesse eletricidade suficiente para manter as fábricas em funcionamento. O impacto económico seria gigantesco.
Taiwan continua a depender de fornecedores externos de GNL, incluindo Qatar, que fornece 30% do consumo da ilha, mas é dominado como mercado pela China.