Há mais crianças e adolescentes em idade escolar obesas do que com baixo peso. A conclusão é de um relatório da agência das Nações Unidas para a infância, a UNICEF, que dá conta de 188 milhões de jovens afetados pela doença.

A obesidade já ultrapassa o baixo peso em todas as regiões do mundo, exceto na África Subsariana e no Sul da Ásia, segundo os investigadores, que analisaram dados de mais de 190 países.

A obesidade ocorre quando uma pessoa tem uma acumulação excessiva de gordura que representa um risco para a saúde, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. As crianças são consideradas com excesso de peso quando estão “significativamente mais pesadas do que o que é saudável para a sua idade, sexo e altura”, observa a UNICEF, acrescentando que a obesidade é uma forma grave de excesso de peso que conduz a um risco mais elevado de resistência à insulina, hipertensão, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e cancro.

Os investigadores constataram que, nos últimos 25 anos, o número de crianças com excesso de peso duplicou, passando de 194 milhões para 391 milhões. Uma elevada proporção destas é classificada como obesa, segundo a agência.

As taxas mais elevadas de obesidade verificam-se em países das ilhas do Pacífico. 38% das crianças e adolescentes entre os 5 e os 19 anos estão em Niue, 37% nas Ilhas Cook e 33% em Nauru.

Os países de rendimento elevado também apresentam níveis altos de obesidade. 27% dos jovens entre os 5 e os 19 anos estão no Chile e 21% vivem tanto nos Estados Unidos como nos Emirados Árabes Unidos.

Com exceção da África Subsariana e do Sul da Ásia, a obesidade já ultrapassa o baixo peso em todas as regiões, afirmaram os investigadores, sendo os alimentos ultraprocessados e de fast food — ricos em açúcar, amido refinado, sal, gorduras pouco saudáveis e aditivos — cada vez mais direcionados para as crianças e por elas consumidos.

“Quando falamos de má nutrição, já não estamos apenas a falar de crianças com baixo peso”, explica a diretora executiva da UNICEF, Catherine Russell.

“A obesidade é uma preocupação crescente que pode afetar a saúde e o desenvolvimento das crianças. Os alimentos ultraprocessados estão a substituir, cada vez mais, frutas, legumes e proteínas numa altura em que a nutrição desempenha um papel crucial no crescimento, no desenvolvimento cognitivo e na saúde mental das crianças”, acrescenta.

Os investigadores observaram que, nos países de rendimento alto, o excesso de peso tende a ser mais comum entre crianças e adolescentes de famílias mais pobres, com dietas pouco nutritivas e pouco saudáveis. Já nos países de baixo rendimento, as crianças têm maior probabilidade de apresentar excesso de peso se pertencerem a famílias mais ricas, que podem comprar maiores quantidades de comida, incluindo alimentos muito calóricos. Nos países de rendimento médio, o excesso de peso entre crianças está presente em todas as categorias de rendimento, devido à maior disponibilidade de alimentos e bebidas ultraprocessados.

A prevalência de crianças entre os 5 e os 19 anos com baixo peso diminuiu desde 2000, passando de quase 13% para 9,2%, acrescentaram os investigadores. No entanto, salientaram que a subnutrição continua a ser uma “preocupação significativa” entre as crianças com menos de 5 anos na maioria dos países de baixo e médio rendimento. A subnutrição pode manifestar-se sob a forma de emagrecimento ou de atraso no crescimento, acrescenta o relatório.