Uma fonte do aeroporto que acompanhou todos os trabalhos explica ao Observador que a perfuração feita pela empresa no local onde passa a conduta se deveu a uma descoordenação na transmissão de informação entre a ANA e a empreiteira. Parte da descoordenação prendeu-se, diz, com uma antecipação dos trabalhos, que estavam previstos acontecer apenas dias depois: “Está mapeado onde há pipelines, mas às vezes há descoordenações”.
Ao Observador, o especialista em aviação e aeroportos Pedro Castro sublinha que a localização destas condutas de abastecimento de combustível tem de estar mapeada num aeroporto, acreditando, por isso, que se tenha tratado mesmo de uma perfuração acidental e não por desconhecimento da ANA de que aquela infraestrutura passa por ali.
Mas, tendo havido derrame, porque não foi possível usar as bacias de retenção que existem no aeroporto? “Essas bacias existem apenas em alguns locais do aeroporto e servem para casos de derrames mais comuns, como por exemplo acontecem, às vezes, quando os aviões estão a abastecer (mas são pequenos derrames). Por norma, esses derrames vão para as bacias de retenção e depois têm o seu tratamento, mas este foi um derrame anormal”, diz, sob anonimato, fonte do aeroporto que acompanhou todo este caso, esclarecendo que tudo aconteceu numa área onde não há essas bacias, por não estar identificado qualquer risco: “Foi de todo anormal o que aconteceu, não foi um derrame comum”.
O aeroporto de Lisboa tem uma equipa de bombeiros própria, sempre de prontidão, e foram os primeiros operacionais a tentar controlar a fuga e a prevenir qualquer cenário trágico. Ao Observador, a ANA começa por referir que o aeroporto se encontra “equipado com uma rede de drenagem protegida por separadores de hidrocarbonetos”. Sendo que as equipas técnicas da ANA, assim como os bombeiros ANA, “tomaram todas as diligências para minimizar os potenciais impactes o mais rápido possível”.
Fecho da válvula, parando assim o derrame num curto espaço de tempo; Evacuação imediata da área e ativação do plano de emergência do aeroporto; Isolamento da área afetada e contenção do derrame com espuma pelos serviços de emergência, disponibilização de meios de primeira resposta (barreiras de contenção, material absorvente, equipamentos de recolha e recipientes para resíduos contaminados); Inspeção das caixas de drenagem de águas pluviais na envolvente ao aeroporto, aspiração e contenção das bolsas de combustível; Limpeza superficial do pavimento”.
Apesar disso, não se evitou que parte do combustível fosse encaminhado para as condutas de saneamento, levando a que uma quantidade de Jet A1 (segundo informação que a ANA partilhou com a Proteção Civil) se espalhasse pela cidade, o que era percetível devido ao odor em várias partes da cidade. As equipas da Proteção Civil chegaram já num segundo momento.
O Observador sabe que no local os operacionais foram rápidos a usar a espuma de forma a “isolar” o combustível de qualquer fonte de ignição e que os receios com a grande quantidade de combustível que circulava no saneamento só não foram maiores devido às temperaturas mais amenas. “A temperatura ambiente não era também das mais altas. Acho que [poderia ter sido um problema] num dia de temperatura de 40ºC ou de perto de 40ºC…“, diz uma fonte do aeroporto sob anonimato, rematando: “Risco há sempre”.
A partir do momento em que foi recebida a informação de alerta amarelo — o menos grave de três —, esclarece a Proteção Civil, foi ativado o Centro de Operações de Emergência do Aeroporto, tendo, no imediato, deslocado uma equipa para o local.
Num momento posterior, o Regimento de Sapadores Bombeiros — que no passado assegurava a equipa de bombeiros do aeroporto — também enviou 15 operacionais e 4 viaturas da Unidade de Controlo Ambiental, enquanto outras equipas eram enviadas para as ruas do eixo da rede de saneamento afetadas para fazer medições, explica o serviço municipal de Proteção Civil: “Nomeadamente na zona da Avenida Gago Coutinho e na Estrada de Chelas, nunca se tendo verificado níveis de perigosidade que evidenciassem risco para a saúde pública”.
“Quando o RSB chegou ao local, após uma inspeção minuciosa, concluiu que não existia combustível derramado do lado exterior do aeroporto”, refere a Proteção Civil, adiantando que foram também realizadas “inspeções aos sumidouros e coletores pluviais localizados fora do aeroporto e não foi identificado qualquer vestígio de derrame.” Ou seja, tudo tinha ficado confinado à área de responsabilidade da ANA.