Um exame de sangue realizado já no primeiro trimestre da gestação pode se tornar ferramenta fundamental para identificar o risco de diabetes gestacional antes do método tradicional, que normalmente só detecta o quadro entre a 24ª e a 28ª semanas. Segundo estudo publicado na revista “BMC Medicine”, sete biomarcadores presentes em sangue aleatório (sem jejum) permitem prever a doença com até 80% de acurácia meses antes da triagem convencional. Isso representa um avanço para a redução de riscos maternos e neonatais e sugere aprimoramento importante na rotina do pré-natal.

Biomarcadores-chave e vantagens na triagem precoce

Entre os principais biomarcadores destacam-se hemoglobina glicada (HbA1C), já usada na avaliação da média de glicose dos últimos meses, IGFBP-2 (proteína reguladora do metabolismo), leptina (ligada ao apetite e gasto de energia), alguns ácidos graxos, glicina, ácido aspártico e outros marcadores metabolômicos. Parte dos exames possui baixo custo e já pode ser realizada rotineiramente; outros exigem solicitação médica ou análise laboratorial específica, ainda não amplamente disponível no Brasil.

A análise combinada desses biomarcadores supera fatores convencionais como idade materna, índice de massa corporal e histórico de diabetes familiar, permitindo rastreamento e prevenção mais eficazes e precoces.

Limitações, desafios e diretrizes atuais

Embora a HbA1c tenha elevada especificidade para diagnóstico, sua sensibilidade ainda é considerada baixa, o que limita a utilização isolada para triagem da diabetes gestacional. Outros biomarcadores citados, devido à necessidade de validação multicêntrica e padronização laboratorial, ainda não são rotina no consultório. O padrão-ouro para diagnóstico continua sendo o teste oral de tolerância à glicose (TOTG), recomendado entre a 24ª e 28ª semana de gestação pela Sociedade Brasileira de Diabetes.

Impacto do diagnóstico precoce para saúde materna e do recém-nascido

O diabetes gestacional, geralmente assintomático, traz aumento do risco de complicações graves, como pré-eclâmpsia, cesárea, infecções, evolução para diabetes tipo 2, além de prejudicar o desenvolvimento neonatal, com riscos de macrossomia, hipoglicemia, icterícia e prematuridade. Caso os testes de biomarcadores, realizados no início da gravidez, sejam validados, torna-se possível adotar intervenções personalizadas já nas primeiras semanas de gravidez, intensificando acompanhamento glicêmico, dieta, atividade física e até tratamento precoce.

Fonte: Agência Einstein