A surpreendente saída de Kalle Rovanperä do Mundial de Ralis, com um rumo previsto para os circuitos, levanta uma questão intrigante: será este o início do caminho da Toyota para a Fórmula 1?

Masaya Kaji, diretor da Toyota Gazoo Racing, já confirmou que a marca está a “avançar gradualmente” em direção a um regresso “total” à F1, e a parceria atual com a Haas é vista como o primeiro passo de um projeto mais ambicioso.

A cronologia parece alinhar-se com esta visão. Prevê-se que Rovanperä corra na Super Formula japonesa em 2026-2027, com uma transição para a Fórmula 2 em 2027-2028. Entre 2028 e 2031, poderá dar-se a entrada da Toyota como construtor de motores próprios na F1, tornando possível a existência de uma equipa oficial Toyota na categoria rainha para lá de 2030.

Estrutura de apoio e desenvolvimento

A Toyota já possui uma robusta estrutura de desenvolvimento de pilotos através do seu TGR Driver Challenge Program, que permite a pilotos japoneses realizar testes regulares de F1 com a Haas. Rovanperä beneficiará diretamente desta infraestrutura, com testes garantidos em carros de F1 mais antigos e acesso privilegiado ao paddock.

Desafios e ambições realistas

Com 25 anos, a idade de Rovanperä é considerada tardia para iniciar uma carreira em monolugares, mas ainda é viável. O maior obstáculo reside nos pontos necessários para a obtenção da superlicença, mesmo que vença a Super Formula (que atribui 30 pontos), precisará de acumular mais pontos na F2 ou de uma exceção especial.

O plano de Rovanperä contempla dois anos na Super Formula, complementados com testes regulares num Fórmula 2, alimentando um sonho claro de chegar à Fórmula 1. O sucesso dependerá dos seus resultados e da capacidade de adaptação, mas o seu talento, determinação e o apoio de uma estrutura poderosa, como a Toyota, abrem-lhe portas únicas.

Rovanperä já demonstrou a sua versatilidade ao experimentar várias fórmulas de circuito, incluindo Porsche GT, Fórmula 4 e Renault 3.5, e chegou mesmo a pilotar o Red Bull de F1 campeão de Sebastian Vettel no Red Bull Ring, impressionando pelas suas prestações.

A complexa transição dos ralis para os circuitos

A transição de Kalle Rovanperä, contudo, está longe de ser um processo simples. O piloto finlandês terá de reprogramar a sua abordagem de condução, uma vez que o mundo dos ralis e o dos monolugares exigem técnicas e mentalidades substancialmente distintas. No WRC, a gestão do risco, a imprevisibilidade do terreno e a capacidade de adaptar o ritmo são cruciais, enquanto nos circuitos prevalece o ataque total e uma sintonia absoluta com o carro. Esta mudança é intrinsecamente desafiante.

Cenários alternativos

Caso a F1 não se concretize, a Toyota tem outras opções para Rovanperä, como o WEC/Le Mans, que constitui o programa principal da marca em circuitos. Além disso, a Fórmula E demonstra um crescente interesse por parte da Toyota. O regresso aos ralis, embora improvável neste momento, seria sempre uma opção caso se sentisse novamente “revigorado”.

Um projeto de alto risco, mas com forte apoio

Os indicadores são positivos: o apoio financeiro total da Toyota a Rovanperä e a parceria estratégica já estabelecida com a Haas marcam o recomeço de um percurso rumo à Fórmula 1. Tudo isto sugere que a Toyota planeia o seu regresso à F1 por volta de 2030.

Este é um projeto sério e realista, mas não isento de riscos elevados. A Toyota não faria um investimento desta magnitude sem acreditar genuinamente nas hipóteses de Rovanperä. O timing coincide perfeitamente com os planos de regresso da marca à F1, sugerindo que Kalle poderá ser a peça central de uma estratégia de longo prazo da Toyota para regressar ao topo da modalidade com uma estrela própria.

A questão central não é tanto se a Toyota quer ou não voltar à F1 — a intenção e a concretização parecem certas —, mas sim se Rovanperä conseguirá adaptar-se suficientemente bem aos monolugares para se tornar o piloto-emblema desta nova era da Toyota na Fórmula 1. De qualquer forma, se o projeto com Rovanperä não resultar, existem outros pilotos que já estão a fazer o seu caminho e que poderão integrar esta ambiciosa iniciativa.

O aspeto mais interessante de tudo isto é a audácia. Se Kalle Rovanperä conseguir vingar nos circuitos e chegar à Fórmula 1, abrirá um novo precedente, provando que tudo é possível na carreira de um piloto quando este possui verdadeira qualidade. Esta ousadia do finlandês pode permitir-lhe reescrever a sua história ao mais alto nível do automobilismo mundial.