Embora a mamografia de rotina no Brasil seja indicada principalmente entre os 50 e 59 anos e, em alguns casos, até os 70, um novo estudo propõe repensar esse limite etário.

Publicado em setembro no Annals of Surgical Oncology, o levantamento indica que mulheres com mais de 70 anos, incluindo aquelas acima dos 80, ainda podem se beneficiar significativamente do rastreamento mamográfico, especialmente quando estão em boas condições de saúde e com expectativa de vida mais longa.

O estudo acompanhou 174 mulheres com 80 anos ou mais, diagnosticadas com câncer de mama entre 2013 e 2020. As participantes foram divididas em dois grupos: um que havia feito mamografia nos dois anos anteriores ao diagnóstico e outro que não havia feito.

Os resultados revelaram que aquelas que realizaram o exame foram diagnosticadas com tumores menores e menos agressivos, o que permitiu tratamentos menos invasivos, com menor necessidade de quimioterapia, radioterapia ou até mesmo da biópsia de linfonodo sentinela, exame que verifica se o câncer se espalhou para os gânglios linfáticos.

“O rastreamento permitiu um diagnóstico precoce, que impactou diretamente na intensidade do tratamento e na qualidade de vida dessas pacientes”, explicou o médico Ramon Andrade de Mello, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia.

Segundo ele, o risco de recorrência do câncer foi 55% menor e o risco de morte foi reduzido em 74% entre as pacientes que faziam mamografia regularmente.

O médico ressalta, porém, que a decisão de manter o rastreamento após os 70 anos deve ser individualizada. A indicação depende não apenas da idade cronológica, mas também do estado geral de saúde e da expectativa de vida da paciente.

“Em mulheres com expectativa de vida superior a 7 ou 10 anos, o rastreamento pode, sim, ser benéfico. Mas em pacientes muito fragilizadas ou com doenças crônicas graves, o exame pode causar mais danos do que benefícios, ao levar a exames e intervenções desnecessárias”, alerta Ramon.

A pesquisa fortalece o argumento de que a idade não deve ser o único critério para interromper a mamografia. Em um contexto de maior longevidade populacional, considerar fatores como saúde geral e qualidade de vida se torna essencial. “As diretrizes médicas precisam ser revistas para refletir essa nova realidade”, conclui o especialista.