Pedro Proença fechou o Football Summit com uma intervenção, ontem à tarde, onde parecia aquela lenda de Nero, que tocava lira (ou seria violino? — não importa, nunca aconteceu) enquanto Roma ardia.

Percebo a vontade do presidente da Federação Portuguesa de Futebol de fugir a polémicas, mas caramba, numa convenção de quatro dias, foi provavelmente o painel mais desinteressante de todos.

Proença tem o dom de falar muito sem dizer nada. Ontem, lá disse que havia uma linha vermelha que poderia levá-lo à ação — «Quando considerar que tenho de intervir, aí o farei. Mas dentro do silêncio, da tranquilidade, até lá esperamos que as próprias organizações encontrem os seus caminhos», disse, defendendo a autorregulação, na Liga e não só.

É curioso que o presidente da FPF, atendendo ao estado atual das coisas, ainda não tenha sentido necessidade de intervir, ainda não tenha sentido que essa linha vermelha foi ultrapassada.

Enquanto isso, os clubes trocam acusações, a centralização dos direitos televisivos parece condenada — a ver por tudo o que foi dito, até, no próprio Football Summit —, Portugal é cada vez menos representativo no panorama europeu de futebol e a arbitragem é cada vez mais contestada (e se nos outros temas se pode alegar que estão sob alçada da Liga, neste caso é a federação que tem a responsabilidade).

Mas tudo vai bem, e o objetivo é que Portugal seja campeão do Mundo. Talvez venha a sê-lo em 2026 — mas e o futuro? Do meio das cinzas de Roma, poderá nascer uma Seleção tão boa como a atual?

Mesmo assim, justiça seja feita a Proença: antes da intervenção inócua, respondeu a (duas?) perguntas dos jornalistas e lá disse mais do que o habitual.

Respondeu, por exemplo, às bocas de Frederico Varandas, presidente do Sporting, sobre as simpatias clubísticas dos dirigentes da federação. Não disse muito, e podia ter sido muito mais eficaz a dizê-lo, mas lá desvalorizou a questão, garantindo a «independência» da sua equipa em relação a pressões ou simpatias de clubes e assegurando que a escolha foi feita com critérios de «competência», e não para preencher quotas de vermelho, verde ou azul.

Mas se até quando responde é pouco claro, como é que podemos esperar do presidente da Federação Portuguesa de Futebol que ajude a pôr na ordem o fuebol português? Ou temos de contentar-nos com a sugestão de que realmente não está a tocar lira, mas sim a trabalhar nos bastidores, e que se não fosse ele as coisas estariam ainda pior?…