Há histórias de superação em abundância na Premier League, mas poucas são tão improváveis como a de Antoine Semenyo. Há menos de uma década, o extremo ganês tinha desistido do futebol, cansado de ser rejeitado e de lhe fecharem a porta à sua frente. Já hoje é o motor e grande figura de um Bournemouth que, mesmo depois de encaixar mais de 230 milhões de euros em vendas de jogadores no verão, ocupa o quarto lugar da Premier League e pratica um futebol vibrante sob o comando do espanhol Andoni Iraola.

No centro da transformação está, já o denunciámos, Semenyo. O extremo é, neste momento, o melhor jogador do Bournemouth e, para muitos, aquele que está a atravessar o melhor momento de forma em toda a liga. Bem razão tinha Ruben Amorim quanto o teve debaixo de olho para o seu Manchester United ainda há poucos meses, sem no entanto avançar para a fase decisiva da sua contratação. É que o internacional ganês já estava cotado na altura em 40 milhões, um ponto de partida bastante alto para as negociações. Escreveu-se na altura que esse seria de 80 milhões de euros. Mas será que não teria valido o investimento? Em apenas sete jornadas, Semenyo já soma seis golos e três assistências. Só Erling Haaland marcou mais, mas nenhum outro jogador combina tão bem força, velocidade e precisão com os dois pés. É o rosto de um projeto que desafia a lógica: vender talento caro e, ainda assim, ficar ainda melhor.

A trajetória de Semenyo é tudo menos linear. Nascido em Londres, filho de Larry Semenyo — antigo jogador ganês —, passou por praticamente todos os grandes clubes da capital inglesa em busca de uma oportunidade: Tottenham, Arsenal, Chelsea, Fulham, Crystal Palace, Charlton e Millwall. Nenhum o quis. O último até o recusou cinco vezes. Quando o Crystal Palace lhe disse «não», aos 15 anos, a enorme parte de si que sonhava ser futebolista desistiu. Deixou de jogar durante um ano, sem rumo.

O destino mudou quando recebeu um convite para um teste em Bisham Abbey, onde conheceu Dave Hockaday, antigo treinador do Leeds United, na altura ao serviço do SGS College. Aos 16 anos, Semenyo deixou tudo para trás — amigos, bairro, rotina — e foi estudar e jogar longe de Londres. «Fui completamente para fora do radar. Nenhum dos meus amigos sabia onde estava. Mas sabia que, se queria ser jogador, tinha de fazer esse sacrifício», recordaria mais tarde.

O talento começou, enfim, a encontrar terreno fértil. O «sim» que já achava impossível chegou. O Bristol City apostou nele e cedo o emprestou ao Bath City e depois ao Newport County. Aí, o treinador Michael Flynn viu o que outros não tinham visto: transformou-o de avançado-centro em extremo. «Era rápido, fortíssimo e jogava com os dois pés. Os defesas tentavam empurrá-lo, mas não conseguiam. Vi logo que era especial», lembrou Flynn à Imprensa britânica, acrescentando: «E era humilde, trabalhava todos os dias com um sorriso.»

A ambidestria invulgar tem uma explicação caseira. O pai obrigava-o desde criança a chutar com ambos os pés, fosse uma bola, uma lata ou um papel. Aos seis anos, já o fazia naturalmente. Hoje, essa característica tornou-se a sua marca: metade dos golos marcados nesta época foram com o pé esquerdo, metade com o direito. «Nunca vi ninguém bater tão bem na bola com os dois pés. É uma máquina», diz Saul Isaksson-Hurst, um treinador de desenvolvimento técnico que trabalhou nas academias de Tottenham e Chelsea, e o observou num verão.

O Chelsea chegou a mostrar interesse quando Semenyo brilhava no Bristol City, mas acabou por ser o Bournemouth a acreditar. Pagou cerca de 11,5 milhões de euros em janeiro de 2023. Desde então, o ganês não parou de crescer: oito golos na primeira temporada completa, onze na seguinte e agora um arranque fulgurante que o coloca entre os melhores marcadores da Premier League.

Além do Manchester United, há dirigentes em Anfield que admitem que Semenyo também teria sido a contratação ideal para o Liverpool no último verão. Ironia do destino: os mesmos clubes que o rejeitaram na adolescência são agora os que o desejam.

Hoje, o extremo que um dia virou costas ao futebol é um símbolo de resiliência. A sua história é a de quem tropeçou nas barreiras do sistema, caiu e levantou-se sozinho. O Bournemouth, com ele, desafia hierarquias e mostra que talento e persistência ainda podem reescrever o guião. E Semenyo, o homem que foi ignorado por todos, joga agora como quem sabe que o tempo das dúvidas acabou. Está nesta época a ser demolidor!

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