Paul recorda a ocasião em que o príncipe Carlos lhe atirou um livro à cara, numa ataque de raiva, porque o mordomo deixou escapar à princesa que o marido não estava em casa durante a noite. “Tu vais, sim, mentir por mim. E quando eu for rei deste país, vais continuar a mentir por mim.” Paul ficou confrangido, levando o rei a levantar-se bruscamente e a atirar-lhe o peso. Burrell soube logo que estava em apuros, afirma.
Passadas umas semanas, o casal anunciou a separação. Discutindo o que Diana podia levar, Carlos deu-lhe total liberdade. Seguindo esta lógica, Diana quis levar Paul. Com alguma resistência do príncipe, conseguiu.
Em Londres, Paul viu florescer uma relação muito mais íntima com a princesa. Esta chegou a dizer que Paul, a mulher e os dois filhos seriam cuidados. “Seremos uma grande família feliz”, dizia Diana. A mulher de Paul ficou alegadamente reticente face a esta relação, que exigia tanto tempo e afeto da parte do marido. Havia um entendimento, diz Paul: “A Diana precisa mais de mim do que tu, porque tu tens os nossos rapazes, e a Diana não tem os dela”.
À medida que ficaram mais velhos, William e Harry foram para o colégio interno e deixaram Diana sozinha durante uma grande parte do tempo. O tempo livre que tinham, era entregue à família real e aos deveres dos rapazes, porque a princesa percebia o que significava a instituição em que os filhos estavam inseridos.
Paul não tem dúvida que Carlos amava os seus filhos, apenas o fazia de maneira diferente. Hoje, como Rei e líder da Igreja de Inglaterra, Carlos “tem o dever de perdoar”, e tomar iniciativa com o o filho Harry. A tensão vem principalmente do casamento de Harry com Meghan Markle, que o afastou da família real, diz, culminando no livro de memórias Na Sombra de Harry.
Paul diz que Harry se esqueceu de quais são os seus deveres como membro da família. “Diana diria que a obrigação de Harry era servir o irmão [William], ser um apoio no seu caminho até ao trono. Tudo isto mudou quando Diana morreu e subsequentemente quando Harry conheceu Meghan”.
“É uma questão difícil”, avança Burrell, “escolher amor ou dever”. “Harry escolheu o amor. E suponho que de certa forma, Diana também teria escolhido amor.” Porém, Paul reconhece ainda que supor não leva a lado nenhum, e que pensar no que Diana faria ou teria feito é redundante.
Paul sublinhou as diferenças entre William e Harry, considerando que o primeiro “é o rapaz que ficava no canto, observava, considerava, e media. Soube sempre que um dia teria de ser rei, porque foi assim criado”. Ainda compara o pequeno William ao seu filho George, “sério, bem educado, como William foi”.
Nos últimos minutos do podcast, o anfitrião pergunta-lhe o que Diana teria dito sobre Meghan e Kate. Paul respondeu, lembrando o “coração partido” de Harry visível enquanto caminhava atrás do caixão de sua mãe, argumentando que este esteve perdido durante estes anos todos porque “não sabia onde encontrar o amor”. “Quando ouviu uma mulher de 36 anos, madura, americana, a sussurar-lhe ao ouvido coisas como ‘eu e tu podemos ser uma boa equipa, podemos mudar o mundo’, ele não ouviu Meghan, ouviu a voz da mãe”, encontrando assim o amor que tanto procurava. Em última análise, “se Diana estivesse viva, duvido que Harry se tivesse casado com Meghan”, diz Paul.
Sobre Kate, Paul ressalva a quase perfeição desta, dizendo que “pode ter tido alguns confrontos com Meghan, porque tem atitude”, mas que “é o exemplo perfeito do que uma futura rainha deve ser”. O ex-mordomo da princesa diz que esta “teria adorado Kate; e teria amado aqueles miúdos”, enfatizando Charlotte.
O livro The Royal Insider, de Paul Burrell, foi publicado a 11 de setembro em Inglaterra.