Enquanto continua a ser impedido pelos tribunais de enviar soldados para Portland e Chicago, dois bastiões democratas, Trump recorreu à sua rede social para dizer que mesmo com o Governo federal paralisado (em shutdown, segundo a expressão usada nos Estados Unidos) por falta de acordo orçamental entre os partidos no Congresso, não deixará de pagar aos militares.
“Estou a usar a minha autoridade, como comandante-chefe, para instruir o nosso secretário da Guerra, Pete Hegseth, a usar todos os fundos disponíveis para que as nossas tropas sejam PAGAS no dia 15 de Outubro”, escreveu o presidente Donald Trump, numa publicação na plataforma Truth Social.
A Reuters explica que os fundos encontrados pelo Presidente dos Estados Unidos para pagar às tropas até meados do mês são verbas que estavam reservadas para áreas como a Investigação e Desenvolvimento. Em causa estão cerca de oito mil milhões de dólares (cerca de 6,8 mil milhões de euros), refere a agência noticiosa, citando um funcionário do Pentágono.
“Não permitirei que os democratas mantenham as nossas forças armadas e toda a segurança da nossa nação como REFÉNS com o seu perigoso encerramento do governo. Os democratas radicais de esquerda devem ABRIR O GOVERNO”, escreveu Trump.
De acordo com o Guardian, uma vez que a paralisação do Governo federal dos Estados Unidos se iniciou a 1 de Outubro (é a primeira vez que tal acontece desde Dezembro de 2018), mais de 1,3 milhões de militares em todo o país não receberiam os seus primeiros salários deste mês, recebendo apenas o pagamento referente ao período de 21 a 30 de Setembro, ainda que fossem compensados quando acabasse o shutdown, algo que ainda não se prevê quando possa acontecer (os democratas exigem a ampliação de benefícios de saúde para aprovarem um orçamento republicano).
Devido à falta de financiamento, todos os serviços e actividades consideradas “não essenciais” nos diversos departamentos federais ficam congelados e milhares de trabalhadores federais são suspensos temporariamente, até existir um acordo. Alguns, como os controladores de tráfego aéreo, forças de segurança e militares, devem continuar no activo, mesmo sem receberem.
Estima-se que cerca de 750 mil funcionários federais tenham sido mandados para casa e, num movimento inédito, o Governo federal está a aproveitar para fazer despedimentos durante esta paralisação, tendo já afastado quatro mil pessoas, segundo a BBC.
Para Trump, é importante transmitir o apoio da Casa Branca aos militares, num momento em que trava um braço-de-ferro contra vários presidentes de câmara e governadores de estados democratas que se opõem ao envio de tropas para as suas cidades, para reprimir a vaga de protestos contra as políticas anti-imigração da Casa Branca e a acção da polícia para a imigração (ICE, na sigla em inglês), que usa técnicas intimidatórias e força desproporcionada na captura dos chamados ilegais.
Derrota em Chicago
Mas a justiça não tem estado do lado da Administração Trump, que ainda no final da semana sofreu mais uma derrota quando a juíza federal April Perry emitiu uma ordem de restrição temporária que suspende o envio de soldados para o Illinois (por duas semanas).
Nesta decisão, proferida em Chicago, a juíza considerou que as avaliações do Departamento de Segurança Interna sobre os protestos dos habitantes de Chicago contra as acções do ICE “não são credíveis”.
Trump tem feito várias declarações sobre a suposta criminalidade descontrolada de Chicago e, na semana passada, além de ameaçar recorrer à Lei da Insurreição para poder ultrapassar quaisquer ordens judiciais que impeçam a mobilização de militares para lidar com assuntos internos, também disse que o presidente da Câmara de Chicago e o governador do estado de Illinois, ambos democratas, “deveriam estar na cadeia”.
“Não vi nenhuma evidência credível de que tenha havido rebelião no estado de Illinois” que justificasse a federalização dos soldados da Guarda Nacional, disse Perry. Mandar tropas para a rua seria como “atirar gasolina para a fogueira”, afirmou a juíza, citada pela CNN.
O Governo federalizou 300 membros da Guarda Nacional de Illinois e outros 200 membros da Guarda Nacional do Texas, que chegaram ao estado na semana passada, mas que, embora estejam impedidos de entrar na cidade, não precisam de regressar a casa a não ser que o tribunal o determine.
A porta-voz da Casa Branca, Abigail Jackson, disse à CNN que “o Presidente Trump não fechará os olhos à ilegalidade que assola as cidades americanas” e que espera que um tribunal superior lhe dê razão.