Em mais um passo no sentido da cura de Alzheimer, cientistas revelaram ter revertido a doença em ratos. Este feito representa esperança, uma vez que este é o tipo mais comum de demência e não tem ainda cura à vista.
A doença de Alzheimer, o tipo mais comum de demência, atualmente, é de progressão lenta e afeta, primeira e predominantemente, a memória episódica.
Nesta fase, o doente começa a ter dificuldades em lembrar-se de fragmentos recentes da sua vida, nomeadamente o local onde coloca os objetos, recados, o que comeu no dia anterior, em que dia do mês está…
Pela sua incidência e progressão, a procura por um tratamento ou cura tem sido incessante, com os investigadores a descobrirem frequentemente novas abordagens.
Barreira do cérebro contra “resíduos” em análise
Agora, num artigo publicado na revista Signal Transduction and Targeted Therapy, na semana passada, uma equipa internacional de investigadores descreve como conseguiu reparar o cérebro e reverter o progresso da doença em ratos, aproveitando o sistema de eliminação de resíduos do cérebro.
Coliderada pelo Instituto de Bioengenharia da Catalunha (IBEC) e pelo Hospital West China da Universidade de Sichuan (WCHSU), a equipa usou nanotecnologia para atingir e restaurar o “guardião vascular” do cérebro. Ou seja, a barreira hematoencefálica, que protege o cérebro de toxinas e otimiza o fluxo sanguíneo que entra e sai do cérebro.
O novo método focou-se numa proteína comummente mencionada aquando da análise da doença de Alzheimer. Conforme divulgado, surgiu da análise de como o acúmulo de proteínas “residuais”, como a beta-amilóide (Aβ), prejudica a função dos neurónios.
Normalmente, a barreira hematoencefálica filtra substâncias indesejadas do cérebro. Contudo, em pessoas com a doença de Alzheimer, a barreira fica obstruída ou não responde adequadamente aos intrusos.
Pensamos que funciona como uma cascata: quando espécies tóxicas, como a Aβ, se acumulam, a doença progride. Contudo, assim que a barreira consegue funcionar novamente, começa a eliminar a Aβ e outras moléculas nocivas, permitindo que todo o sistema recupere o seu equilíbrio.
Explicou Giuseppe Battaglia, autor sénior do estudo e neurocientista do Instituto de Bioengenharia da Catalunha, num comunicado.
Giuseppe Battaglia (esquerda) e Lorena Ruiz Pérez (direita). Fonte: IBEC
Caminho até à reversão da doença de Alzheimer
Os investigadores desenvolveram nanopartículas que imitavam uma proteína chamada LRP1, uma molécula normalmente responsável por reagir às toxinas na barreira hematoencefálica.
Para o estudo, modificaram geneticamente ratinhos para produzir mais proteínas Aβ e apresentar um declínio cognitivo significativo semelhante ao da doença de Alzheimer.
Cada ratinho recebeu três injeções do novo medicamento, e os investigadores observaram as mudanças no seu comportamento e atividade cerebral durante seis meses.
Segundo os investigadores, de forma impressionante, um rato de 12 meses (equivalente a um humano de 60 anos) que recebeu o tratamento, quando reavaliado aos 18 meses (humano de 90 anos), tinha “recuperado o comportamento de um rato saudável”.
Conforme partilharam, “o que é notável é que as nossas nanopartículas atuam como um medicamento e parecem ativar um mecanismo de feedback que traz essa via de eliminação de volta aos níveis normais”.
Apesar de verdadeiramente promissor, este foi um estudo conduzido em ratos. Por isso, será imprescindível continuar a investigação para que o tratamento possa, um dia, ser testado em seres humanos e, eventualmente, reverter o progresso da doença de Alzheimer da população afetada.

