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Em declarações à Lusa, numa leitura dos resultados das eleições autárquicas, o historiador e politólogo António Costa Pinto considerou que o PS, ainda assim, conseguiu sobreviver bem em várias câmaras, apesar de ser substituído na Associação Nacional de Municípios pelo PSD, que conseguiu mais câmaras municipais. “Eu creio que o significado mais importante destas eleições autárquicas é que os dois grandes partidos da democracia portuguesa são de longe os vencedores destas eleições”, disse o especialista, sublinhando a dianteira do PSD, que apesar de perder algumas autarquias para o PS, como Viseu, recuperou outras, como o Porto. Sublinhando o facto de o PSD ter conseguido um maior numero de câmaras municipais, que lhe permitirá substituir o PS na liderança da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), António Costa Pinto considerou que o resultado das autárquicas de domingo espelham “uma maioria de centro-direita e direita na política portuguesa”. Salientou igualmente que, nalgumas autarquias, como no Porto, que recuperou, o PSD “roubou a mensagem política ao Chega”. “Não subestimaria o facto de, em algumas grandes metrópoles, o PSD ter assumido uma mensagem política mais próxima do discurso securitário e do discurso mais conservador em relação à imigração”, afirmou, destacando que esta situação foi “claríssima em Lisboa e no Porto”. Considerou ainda que o PS, com uma rotação de poder a nível autárquico, conquistando algumas câmaras importantes ao PSD, “sobrevive bem” e sublinhou o resultado do CDS, que “no fundamental, também sobrevive” nos locais onde não está coligado com o PSD. Quanto ao facto de a CDU perder quase metade das câmaras de detinha – “algumas importantes” -, mostra uma “erosão eleitoral lenta”. “Nalgumas é facilmente explicável porque é que as perde, como é o caso de Setúbal, que fica nas mãos da sua dissidente” [Maria das Dores Meira], acrescentou. Quanto ao Chega, que conquistou apenas três autarquias, António Costa Pinto disse que as expectativas do partido de André Ventura “ficaram muitíssimo aquém”, sublinhando que, com o número de mandatos alcançados e o facto de, mesmo não elegendo, passar a ser o terceiro partido nalguns concelhos, consolida-se como um partido nacional. “Parece não haver dúvida de que, sobretudo fora dos grandes municípios, a personalização [dos candidatos] é importante”, afirmou o politólogo. Nas eleições autárquicas de domingo, o PSD venceu o maior número de câmaras, recuperando a ANMP, que pertencia ao PS desde 2013, e triunfou nos cinco municípios mais populosos do país. No total nacional, o PSD com listas próprias, ou em coligações, venceu em 136 municípios, contra 128 do PS, quando em 2021 tinha triunfado em 114, contra 149 dos socialistas. Mesmo perdendo a presidência da ANMP, o PS continua a ter um peso significativo ao nível autárquico, detendo câmaras em todos os distritos do território nacional e nas regiões autónomas da Madeira e dos Açores. Os socialistas causaram algumas surpresas ao vencerem em Viseu e Bragança, duas capitais de distrito tradicionalmente dominadas pelo PSD, conseguindo ainda retirar Faro e Coimbra aos sociais-democratas. E, entre outros municípios do sul do país, retiraram à CDU a autarquia de Évora. O Chega apenas venceu em São Vicente (Madeira), em Albufeira (no Algarve) e no Entroncamento (distrito de Santarém), somando pouco mais de 600 mil votos, quando nas legislativas de maio tinha atingido 1,4 milhões de votos. A CDU voltou a recuar em termos de peso autárquico nacional, passando de 19 câmaras em 2021 para 12. Perdeu as capitais de distrito de Évora e Setúbal. E das 19 câmaras que a CDU tinha conquistado em 2021 manteve somente oito (Barrancos, Cuba, Arraiolos, Silves, Avis, Palmela, Seixal e Sesimbra). Já o CDS manteve as suas seis câmaras municipais: Albergaria-a-Velha, Oliveira do Bairro e Vale de Cambra (Aveiro, Ponte de Lima (Viana do Castelo), Santana (Madeira) e Velas (Açores).