A Samsung volta à carga no competitivo segmento dos smartwatches com o Galaxy Watch 8 um relógio que traz no pulso a promessa de uma nova era na monitorização da saúde e do bem-estar, agora (ainda) mais alicerçada em inteligência artificial. Está disponível em duas dimensões (40 e 44mm) e é mais fino e mais leve que a versão anterior. A versão de 44mm também está disponível com LTE integrado (dados móveis, com suporte para eSIM), o que acrescenta 50 euros ao preço. É importante sublinhar que este é um smartwatch “à séria”, na medida em que suporta a instalação de apps a partir da loja Play Store da Google.
O design segue o estilo iniciado no Watch Ultra – mas agora em formato mais contido, urbano e, acima de tudo, mais confortável para o dia-a-dia. Logo ao primeiro olhar — e sobretudo ao primeiro toque — percebe-se o que a Samsung quer dizer com “design almofadado”: o Galaxy Watch 8 é surpreendentemente fino (8,6 mm) e leve (30 gramas para a versão de 40mm e 34 gramas para a versão de 44mm), o que o torna num dos relógios mais agradáveis de usar mesmo durante a noite, sem gerar desconforto. Quem tem por hábito dormir com o relógio para monitorizar o sono agradecerá. E, em contexto mais formal, passa despercebido debaixo da manga de uma camisa — até o botão de punho fecha sem esforço.
Design afinado, mas cuidado com o porta-chaves
A estrutura interna foi redesenhada, o que permitiu à Samsung reduzir em 11% a espessura total face à geração anterior. Contudo, este design mais elegante tem um preço: a caixa em alumínio, embora visualmente cuidada, parece algo vulnerável ao contacto com objectos metálicos — spoiler: porta-chaves e maçanetas de porta não são amigos do acabamento. A resistência está certificada (5ATM, IP68 e norma militar MIL-STD-810H), mas os riscos superficiais são difíceis de evitar.
O Galxy Watch 8 também está disponível na versão Classic, que adiciona um anel rotativo para ajudar a navegar na interface
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Outro senão está no sistema de braceletes Dynamic Lug, que, sendo proprietário, inviabiliza o uso de pulseiras universais ou de modelos de gerações anteriores. É um passo atrás em termos de versatilidade, ainda que o encaixe seja sólido e pensado para optimizar leituras biométricas.
Um ecrã que brilha… literalmente
Se há área onde o Galaxy Watch 8 não se deixa ultrapassar, é na qualidade do ecrã. Com brilho máximo de 3000 nits, a leitura de notificações, métricas ou widgets é sempre clara, mesmo sob sol directo. A fluidez é outro trunfo: o processador Exynos W1000, fabricado em três nanómetros, mantém o sistema Wear OS 6 da Google com One UI 8 Watch a funcionar com agilidade notória. Não há arrastamentos nem tempos de espera perceptíveis, mesmo com múltiplas aplicações a correr.
A interface evoluiu de forma sensível. Os dados são agora apresentados em cartões que condensam, de forma visualmente eficaz, as principais métricas — passos, pontuação de energia, qualidade do sono. Menos scroll, mais informação útil.
Este é um relógio leve e mais fino do que o habitual entre smartwatches com sistema operativo Google. O que torna confortável de usar
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Inteligência artificial com utilidade real
A aposta da Samsung na inteligência artificial não se fica por meros chavões de marketing. O novo “Treinador de Corrida” é exemplo disso: adapta-se ao perfil do utilizador, propõe planos de treino personalizados e fornece feedback em tempo real, com instruções por voz — e sem necessidade de telemóvel ou auriculares.
Um teste de 12 minutos define o nível de desempenho (de 1 a 12), ponto de partida para planos de corrida que vão desde os 5km até à maratona. A monitorização de ritmo e localização é precisa e há métricas avançadas como a cadência, o tempo de contacto com o solo ou a oscilação vertical.
Também o sono recebe atenção cuidada. O “Guia de Sono” analisa padrões de repouso, sugere horários ideais para adormecer e, quando emparelhado com um smartphone da marca, como o recém-lançado Z Fold 7, consegue detectar possíveis apneias. Após alguns dias de uso, o relógio identifica um “animal do sono” — uma representação simbólica do perfil de repouso — e activa o “Treinador de Sono”, que oferece sugestões práticas para dormir melhor. Não se limita a apresentar dados: ajuda a interpretá-los e agir sobre eles. O que, digamos, ainda está longe de ser uma realidade em outros relógios inteligentes.
Os cartões informativos resultam muito bem porque permitem visualizarmos vários dados importantes em simultâneo
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Novas métricas, utilidade discutível
Uma das novidades mais peculiares — e, diga-se, únicas — é o “Índice Antioxidante”, que mede os níveis de carotenóides através da pele, em cinco segundos. Embora interessante, o resultado tende a resumir-se a recomendações genéricas do tipo “coma mais fruta e vegetais”. Já a “Carga Vascular”, que acompanha o stress do sistema cardiovascular durante o sono, fornece dados mais técnicos do que propriamente úteis. O utilizador comum poderá não saber como agir sobre eles.
O sensor BioActive mantém as funcionalidades esperadas: análise de composição corporal, oxigénio no sangue, temperatura cutânea e impedância bioeléctrica. Mas a activação do electrocardiograma (ECG) e a medição de pulsação arterial continuam dependentes da instalação de uma app adicional (Samsung Health Monitor), disponível apenas na Galaxy Store — o que implica, novamente, ter um smartphone Samsung para acesso total.
Autonomia: o elo mais frágil
Apesar das optimizações no consumo energético, a autonomia continua a não ser o ponto forte da gama. A marca anuncia até 40 horas de utilização (30 com o ecrã sempre ligado), mas nos nossos testes o valor raramente ultrapassou as 26 horas com uso regular. Monitorizar uma noite de sono pode consumir cerca de 25% da bateria — o que obriga, na prática, a um carregamento diário. Para um dispositivo pensado para uso contínuo, é uma limitação difícil de contornar.
Também notámos uma certa lentidão no “acordar” do ecrã ao levantar o pulso, o que nem sempre se traduz na resposta instantânea que se espera num smartwatch desta gama.
Veredicto
O Galaxy Watch 8 é, muito provavelmente, o melhor smartwatch que a Samsung já criou — e, para quem está dentro do ecossistema da marca, uma escolha quase óbvia. O design é elegante e extremamente confortável, a fluidez da interface impressiona, e as funcionalidades de saúde (potenciadas por IA) vão além do básico. Mas continua a tropeçar onde já tropeçava: a autonomia. E há limitações no ecossistema — como a obrigatoriedade de ter um smartphone Samsung para aceder a tudo o que o relógio oferece — que importa ponderar antes da compra.
Ainda assim, para quem procura um relógio inteligente que realmente acompanhe e interprete a actividade física e o bem-estar com algum rigor e inteligência, o Galaxy Watch 8 é, sem margem para dúvidas, uma das melhores propostas do momento.