O desafio de Duarte poderá agora passar por governar uma autarquia dividida, em que poderá tentar aprovar propostas ora com o PS de Pizarro, ora com o Chega de Corte-Real — o homem que tinha começado por tentar integrar nas suas listas, o vice independente Filipe Araújo, falhou a eleição como vereador. Os próximos tempos dirão se se queixará, como tem acontecido Carlos Moedas, de “bloqueios” da oposição à sua ação na câmara ou se, puxando da sua fama de homem dos “consensos”, conseguirá gerir a governação e aprovar propostas com facilidade.

Quanto a Araújo, apostou numa candidatura independente, sem querer absorvido pelos partidos da direita — e reclamando, sem sucesso, que eles se deveriam juntar para apoiar uma candidatura sua — e correu em registo formiguinha as ruas do Porto, mas não chegou ao resultado desejado: não sendo eleito vereador (teve 5,08% dos votos), não poderá tentar prosseguir os projetos que tinha lançado quando era o número dois de Rui Moreira. Não chegou a ter o apoio do até agora presidente de câmara, que negou publicamente que o apoiasse “intimamente”, expressão que Araújo costumava utilizar; mas, quanto às intervenções públicas de Moreira, houve-as também críticas do projeto que Pedro Duarte propunha para a cidade, pelo que nenhum dos dois se pôde proclamar herdeiro desse legado.

As primeiras projeções deram cabo da aura vencedora que guiavam a equipa de Manuel Pizarro nos últimos dias de campanha. No minuto em que os primeiros números foram projetados nas três televisões presentes numa das salas do quartel-general, os apoiantes e elementos da candidatura ficaram praticamente sem reação. Uma ou outra interjeição e um silêncio profundo. Durante a noite, de quando em vez, o resultado mais pomposo de uma ou outra freguesia ia renovando a esperança. Barbosa Ribeiro ainda chegou a acalmar os ânimos, dizendo que o cenário ainda estava “totalmente em aberto”. Mas o passar das horas tornaria o desfecho inevitável.

Pela terceira vez, Pizarro candidatou-se à Câmara Municipal do Porto. Pela terceira vez, saiu derrotado. Assumiu “inteiramente” essa derrota e recusou que a mesma seja atribuível ao atual líder do PS ou ao anterior, Pedro Nuno Santos, o responsável pela aposta no nome que já tinha falhado por duas vezes. “O PS não pode ser responsabilizado por esta derrota.”

Por muito que o candidato fosse o mesmo, desta vez, era tudo diferente: o fim de ciclo de Rui Moreira abria espaço para a mudança e o facto de ter na equipa “grande parte do moreirismo” permitia uma esperança extra. Pizarro chegou mesmo a assumir que sentia uma energia diferente nas ruas, o que, para alguém que tinha duas derrotas às costas, não era de desvalorizar. As sondagens com empates técnicos — e que retiravam a vantagem com que partiu para esta corrida eleitoral — não assustaram a comitiva que seguia, ação após ação, mais convicta de que a vitória estava cada vez mais próxima.

Aliás, os rostos de choque e desilusão refletiam o impacto de quem não estava mesmo à espera de perder. Na rua, enquanto se aguardava a chegada de Pizarro, sentia-se a revolta. E quando finalmente o candidato do socialista chegou ao quartel-general, ouviram-se os gritos e aplausos de quem não quer deixar cair um cabeça de lista.