A viver uma fase positiva de carreira ao ingressar no Sporting e também com o regresso e afirmação na seleção da Colômbia, o avançado Luis Suárez garantiu estar, nesta altura, «num ponto de maturação diferente» na carreira e a cumprir a promessa feita ao avô de um dia «jogar com a camisola da seleção», depois de, nomeadamente, ter tido uma passagem pouco conseguida no Marselha e de uma grave lesão no Almería, em 2023, fase em que teve uma «depressão».
«Hoje desfruto mais do jogo. Entendi que o futebol não é só correr ou fazer golos, mas também desfrutar do que se faz. Aprendi muito isso quando estive lesionado no Granada e senti que podia perder tudo», afirmou, em entrevista ao El Espectador, no fim de semana, à margem da concentração da seleção da Colômbia.
«Passei por uma depressão da qual sai aos poucos, com trabalho, com psicólogos e com as minhas pessoas próximas. Foi a primeira vez que me aconteceu, eu não queria levantar-me da cama. Sem essa lesão, talvez não tivesse tocado tão fundo, porque o dia a dia leva-te. Serviu para redirecionar a minha capacidade mental», disse, ainda, Luis Suárez, que fraturou o perónio esquerdo a 1 de outubro de 2023, ante um antigo clube, o Granada, num jogo em que fez hat-trick. Inicialmente fez tratamento conservador, em janeiro de 2024 ainda jogou contra Girona e Real Madrid alguns minutos, mas não estava totalmente recuperado e foi operado a 31 de janeiro, voltando apenas aos relvados em definitivo em maio, a fechar a época 2023/24.
«Estou num ponto de maturação diferente. Antes talvez não estivesse no ponto ideal, mas agora encontrei a plenitude de confiança, de conhecer-me fisicamente, de saber quais são os meus pontos fortes e estou a aproveitar ao máximo», reconheceu.
A seleção e o trajeto até ao Sporting: «Às vezes parece um filme…»
Suárez tem sete internacionalizações e quatro golos pela seleção. Antes de chegar ao Sporting, tinha cinco e nenhum golo. Estreou-se em 2020 e voltou em 2022, mas foram três anos de ausência até voltar em junho último, sendo suplente utilizado na qualificação para o Mundial 2026, ante Peru. Já em setembro, foi titular e brilhou com um póquer ante a Venezuela, fazendo os seus primeiros golos pela seleção.
«Quando chegou a possibilidade de estrear-me na seleção foi algo enorme para mim. Significava estar com os meus ídolos, os que eu vi crescer a apurarem-se para Mundiais. Mas, sendo sincero, não aproveitei essa oportunidade. Não estava preparado mentalmente para assumir a responsabilidade. Tinha vontade, mas não a maturidade. Hoje, sou outro, com a cabeça mais no sítio. Trabalhei e continuo a trabalhar para ter a oportunidade. E o bonito é que está a acontecer comigo», recordou, sobre as primeiras chamadas à Colômbia.
«Nunca coloquei um limite porque não sabia até onde poderia chegar. Vim de baixo, trabalhei muito e isso levou-me a fazer o que estou a fazer. É muito complicado e por vezes parece que vives num filme. Quando começas, não sabes onde e como vais chegar. A única coisa que podes fazer é continuar a trabalhar», partilhou, ainda.
O atacante dos leões foi dos últimos a sair das escolas de futebol em Santa Marta para formar-se como profissional, viu outros colegas darem o salto mais cedo, mas diz que não perdeu «a fé». «Continuei a trabalhar, fiz 26 ou 27 golos num torneio nacional e antes de sermos eliminados um treinador viu-me e convidou-me para um torneio em Cali. Fiz cinco jogos e conseguiram-me uns testes no Cruzeiro, no Brasil. Passei os testes e estive lá um mês. Nessa altura o mesmo professor fez-me uma oferta para ir à Europa fazer testes», conta. Porém, por ser ainda menor de idade, teve de esperar algum tempo.
«Estive um ano entre os sub-20 e a equipa principal do Leones e quando fiz 18 anos fui para Itália. Cheguei à Sampdoria e logo, graças à gestão do professor, os olheiros da Udinese testaram-me. Fiz dois jogos e marquei três golos. Tudo estava a correr bem, mas por causa das vagas para estrangeiros emprestaram-me um ano e meio. Cheguei a Espanha, aos juniores do Granada e passei logo para a equipa secundária. Aí, chegou o Watford, de Inglaterra, que nessa altura já tinha relação com o Granada e comprou 50 por cento do meu passe. Mas não joguei lá. Fui cedido ao Valladolid B, depois ao Nástic, Saragoça, voltei ao Granada e dei o salto para a primeira liga. A minha carreira foi sempre desde baixo, a lutar e trabalhar», lembra, falando ainda da passagem menos conseguida em Marselha… que deu para aprender.
«Não estava preparado psicologicamente para sair da minha zona de conforto. Paguei a fatura disso e voltei. Hoje, vejo esse passo como algo positivo: se não tivesse vivido esses momentos difíceis, não seria o jogador que sou hoje», garante.
Ainda os testemunhos dos avós: «Fui repreendido no trabalho»
Suárez mostra-se muito grato ao avô Víctor e à avó Elena, que o acompanhavam ainda muito pequeno para todo o lado. Das ruas em Santa Marta aos torneios entre escolas.
«Fui repreendido no trabalho porque ia com ele jogar futebol para todo o lado. E eu sentia-me orgulhoso dele. Hoje, com 84 anos, continuo orgulhoso do meu neto», diz Víctor. «Tinha seis anos quando começou a ver-se o talento. Quando jogava entre escolas, eu pedia autorização no trabalho para ir vê-lo. Ele entrava, pegava na bola e toda a gente o ovacionava. Quando fazia golo era a loucura», testemunha Elena.