Os militares poderão ser utilizados em operações no estrangeiro, incluindo nas regiões ucranianas de Kharkiv e Sumy
O governo russo aprovou um projeto de lei que dá a Vladimir Putin o poder de mobilizar reservistas não só em tempos de guerra, mas também em tempos de paz, avança a imprensa russa. As novas regras vão permitir a utilização destes cidadãos em combate, incluindo nas regiões ucranianas de Sumy e Kharkiv.
Esta mudança de lei permite a Vladimir Putin aceder à enorme quantidade de reservistas, apesar de não ter declarado guerra formalmente contra a Ucrânia. O estatuto de “Operação Militar Especial”, como Moscovo classifica a invasão militar da Ucrânia, acabava por ser um entrave burocrático à mobilização destes militares.
De acordo com a nova legislação, os cidadãos inscritos na reserva de mobilização podem ser chamados para cumprir tarefas relacionadas com a defesa durante conflitos armados, operações antiterroristas ou quando as forças russas estão destacadas no estrangeiro. A chamada destes homens ficaria dependente de uma autorização direta do presidente Vladimir Putin.
A medida aplica-se, no entanto, apenas a todos os que assinaram um contrato direto com o Ministério da Defesa russo para fazer parte da reserva do país. No entanto, até ao momento, estes homens só podiam ser chamados durante tempo de guerra ou de mobilização.
“Uma nota explicativa da lei refere que as alterações permitirão à Rússia destacar reservistas em tempo de paz, alargando a atual legislação que apenas permite à Rússia destacar reservistas durante a mobilização ou em tempo de guerra”, explica o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), um think thank de defesa norte-americano.
A lei estabelece que, por decisão do presidente russo, estes homens podem ser chamados para um treino especial, que pode durar até dois meses. O presidente da Comissão de Defesa do parlamento russo, Andrei Kartapolov, adiantou que a legislação vai permitir o envio de reservistas para o estrangeiro, “incluindo para as regiões ucranianas de Sumy e Kharkiv”.
O objetivo é poder ativar a enorme capacidade de mobilização russa, que conta com mais de dois milhões de reservistas, depois de Putin ter assinado um decreto para esse efeito em 2015. Segundo o vice-presidente da Comissão de Defesa do parlamento russo, Aleksey Zhuravlyov, mais de dois milhões de russos podem agora ser chamados para o combate.
Estes indivíduos são antigos militares que serviram voluntariamente e que se encontram a receber um pagamento e benefícios para fazer parte da reserva. Estes militares vão agora ser mobilizados com “muito mais frequência” do que antigamente, segundo Zhuravlyov.
“Estamos a conduzir operações de combate muito reais e em grande escala, mas oficialmente não foi declarada guerra”, disse Zhuravlyov. “Estes pormenores técnicos legais limitavam a flexibilidade do Ministério da Defesa, agora foram eliminados.”
Problemas de recrutamento
A aprovação desta medida surge numa altura em que a Rússia pode estar a sofrer problemas de recrutamento. Segundo o ISW, o Kremlin está a recrutar 31.600 militares por mês para fazer parte do seu esforço de guerra na Ucrânia, no entanto, o número médio de baixas russas este ano ronda os 35.193 por mês.
“As forças russas parecem capazes e dispostas a manter estas taxas de baixas, apesar de terem conseguido avanços tácticos limitados”, concluiu o ISW.
Esta realidade está a obrigar a Rússia a aumentar os prémios de assinatura de contrato para novos recrutas, com os novos soldados a receberem um pagamento que pode atingir 2,5 milhões de rublos (27.120 mil euros), um valor cinco vezes superior ao salário anual médio.
A comunicação em torno do recrutamento também parece estar a mudar, de acordo com um relatório do think thank britânico OpenMinds. O Ministério da Defesa russo parece estar a focar as suas campanhas de recrutamento em posições longe da linha da frente, aumentando significativamente a utilização de termos como “serviço seguro”, “unidades de retaguarda” ou “serviço fácil” ou longe da “linha da frente”.
Mas nem isso parece ter sido suficiente para fazer frente às enormes necessidades que surgem no campo de batalha na Ucrânia. Além de contar com o apoio da Coreia do Norte e de Cuba, Moscovo tem recorrido ao recrutamento de cidadãos africanos e do Médio Oriente para fazer frente a esta escassez.