BONITO – Claudia Ohana vai logo avisando: “Não vou ser metida, mas é a real”, ao ser questionada sobre um momento marcante ocorrido em festivais de cinema. “Foi o Festival de Cannes, quando entrei no Palácio dos Festivais para a projeção de ‘Erêndira’ lado do (escritor) Gabriel García Marquéz, do (diretor e ex-marido) Ruy Guerra e da (atriz) Irene Papas. Realmente marcou muito a minha vida. Foi muito muito lindo e emocionante”, registra a atriz, uma das convidadas da 3ª edição do Bonito Cine Sur, festival que está sendo realizado na cidade sul-mato-grossense.
Baseado em livro do escritor colombiano, “Erêndira” representou um momento muito prolífero de Claudia Ohana nos cinemas, durante a década de 1980, quando protagonizou produções como “Aventuras de um Paraíba” (1982), de Marco Altberg, “Beijo na Boca” (1982), de Paulo Sérgio Almeida, “Ópera do Malandro” (1985) e “A Bela Palomera” (1988), ambos de Ruy Guerra, e “Luzia Homem” (1988), de Fabio Barreto. Produzido no México e falado em espanhol, “Erêndida” foi lançado em 1983 no prestigiado Festival de Cannes.
A atriz participou, na tarde desta quinta-feira (31), da cerimônia das “Pegadas da Memória do Cinema Sul-Americano”, no Centro de Convenções, palco das exibições do festival. A ação simboliza a essência do festival, ao reunir cinema e meio ambiente. Ela gravou as suas mãos numa placa de ferro, ao lado da pegada de um quati, animal típico da fauna pantaneira. Nomes como Antônio Pitanga, Maeve Jinkings, Bárbara Paz e Thiago Lacerda também deixaram a sua marca. As placas serão posteriormente expostas na Praça Liberdade, no centro de Bonito.
“Eu gosto muito de festivais de cinema, porque além de você interagir com as pessoas pra pensar e refletir sobre cinema, conhece e interage com pessoas de outros lugares, países e linguagens”, assinala a atriz, que destaca a importância do Bonito CineSur na reflexão sobre o cinema do continente.”Eu acho isso super importante, ter um lugar pra ver esses filmes que muitas vezes não chegam aqui…Isso é muito muito legal. Não consigo sempre acompanhar todos, mas eu gosto muito de festivais de cinema”, registra.
Recentemente a atriz de 62 anos postou, em seu perfil nas redes sociais, sobre o etarismo, onde se lia ” que diz “com 60 anos você não tem idade para…”. Em seguida, fazia um gesto nada, digamos, educado. “Não estamos velhas aos 60 anos. Estou levantando muito essa bandeira, porque é uma questão da minha vida. Da minha realidade. O etarismo está aí em todos os sentidos, tanto para pessoas mais velhas como pessoas muito novas”, observa Cláudia, que lamenta a falta de personagens para atores mais velhos.
“A pessoa mais velha não tem espaço no Brasil. Isso é um papo bem profundo, mas a gente sofre etarismo sempre. Todos os dias. É uma luta constante. No trabalho, não acho que seja uma questão de preconceito. É mais uma questão de não terem personagens para pessoas mais velhas. Não há protagonismo para pessoas mais velhas. É como se um casal mais velho ou uma pessoa mais velha não tivesse história para contar. Isso realmente complica a vida de atores 50+ e 60+”, critica Claudia, que fez uma participação especial na novela “Vale Tudo”.
Ela fez uma participação afetiva no filme cearense “Meu Melhor Amigo”, de Allan Deberton, lançado neste ano. Também está no elenco de “Luiz Gonzaga – Légua Tirana”, dirigido por Diogo Fontes e Marcos Carvalho, que retrata a infância e a juventude do rei do Baião. A estreia deve acontecer ainda em 2025. Em breve será a vez de “Entrequadras”, de Filipe Gontijo, sobre gangues do Distrito Federal, e “Chamado Noturno”, de Arthur Vinciprova. “Eu sou a protagonista e é a primeira vez que faço um filme de suspense”, celebra.
(*) O repórter viajou a convite da organização do Bonito CineSur