Animado com o feito alcançado com o cessar-fogo na Faixa de Gaza, o Presidente dos EUA, Donald Trump, quer agora redireccionar a sua atenção para o outro grande conflito a que prometeu dar fim: a invasão da Ucrânia pela Rússia. Na sexta-feira, Trump vai receber o homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, na Casa Branca com o objectivo de reforçar a pressão sobre Moscovo para que aceite finalmente tréguas na guerra que dura há mais de três anos e meio.

Foi ainda durante o discurso que fez no Knesset, o Parlamento israelita, que Trump manifestou a intenção de se voltar a empenhar num dossier que lhe tem causado mais frustrações do que sorrisos. “Seria óptimo se conseguíssemos um acordo de paz com [o Irão]… Primeiro, temos de fazer com a Rússia. Vamos concentrar-nos na Rússia primeiro”, afirmou.

Já a bordo do Air Force One, no regresso aos EUA, Trump foi questionado pelos jornalistas sobre se planeava encontrar-se com Zelensky, confirmando a reunião para a próxima sexta-feira. Será a terceira vez que Trump irá receber Zelensky em Washington desde o início do ano. Também sugeriu que o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, com quem havia estado horas antes em Sharm el-Sheikh para a assinatura do acordo de paz em Gaza, seria um bom nome para apoiar os esforços de mediação.


“Dou-me bem com os fortes, não me dou bem com os fracos. Não sei porquê, mas Erdogan porta-se muito bem comigo”, afirmou Trump durante o voo. A Turquia tem-se posicionado como possível mediador de uma solução diplomática para a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, e foi em Istambul que as mais recentes conversações entre os dois países tiveram lugar.

Zelensky tinha sinalizado nos últimos dias que esta seria uma boa oportunidade para que Washington voltasse a olhar para a guerra no Leste europeu. “Se uma guerra pode ser travada numa região, então seguramente que outras guerras também podem ser travadas, incluindo a guerra russa”, afirmou o Presidente ucraniano no fim-de-semana, após o anúncio do acordo em Gaza.

Depois de nos primeiros meses após o seu regresso à Casa Branca se ter desdobrado em esforços diplomáticos para alcançar um cessar-fogo na Ucrânia, Trump tem dado sinais de um crescente distanciamento do tema. Em Agosto, o Presidente norte-americano reuniu-se presencialmente com o Presidente russo, Vladimir Putin, no Alasca, para tentar progredir nas conversações de paz.

Desse encontro saiu a promessa de que Putin e Zelensky se iriam reunir para dar um impulso a uma eventual solução diplomática para um conflito que mergulhou a Europa na mais grave crise de segurança desde o final da Guerra Fria. Porém, esse encontro nunca chegou a acontecer, e os combates continuam.

Zelensky tem insistido na necessidade de ser declarado um cessar-fogo total e incondicional antes de entrar em negociações de paz, enquanto o Kremlin exige o reconhecimento das suas anexações territoriais na Ucrânia e uma retirada militar imediata.

As inúmeras tentativas de negociar um cessar-fogo, pontuadas por esporádicas ameaças de Trump de punir Moscovo, não tiveram sequer o efeito de abrandar a intensidade dos combates. Nas últimas semanas, a Rússia intensificou os seus ataques aéreos contra a infra-estrutura energética ucraniana, deixando grandes partes do país às escuras.

“No último mês, o inimigo aumentou o número de ataques aéreos, e, embora as nossas defesas aéreas sejam 74% eficazes, precisamos de fazer esforços adicionais para cobrir o sector energético de retaguarda, a infra-estrutura e a logística críticas”, explicava no fim-de-semana o comandante das Forças Armadas ucranianas, Oleksandr Sirskii.

De forma idêntica, a Ucrânia tem visado com maior veemência as refinarias russas, fábricas, linhas ferroviárias e outro tipo de infra-estruturas em todo o território. A convicção das chefias militares ucranianas é de que esta é a melhor forma de pressionar o Kremlin, tanto do ponto de vista económico como social, com o objectivo de forçar Putin a aceitar entrar em negociações.

No encontro entre Trump e Zelensky de sexta-feira, é provável que um dos temas em discussão seja a possibilidade de os EUA poderem enviar os sistemas de mísseis de longo alcance, conhecidos como Tomahawk. O tema tem sido discutido entre os Governos dos dois países, e o próprio Presidente norte-americano já deu indicações de que estaria inclinado a fornecer estes mísseis à Ucrânia, embora tenha dito que preferia falar primeiro com o Kremlin.

A Rússia já avisou que o fornecimento de mísseis Tomahawk — com alcance que pode chegar a 2500 quilómetros — teria efeitos imprevisíveis, e seria interpretado por Moscovo como uma grande escalada no conflito. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, avisou recentemente para um “momento dramático”, caso Washington decida enviar estes sistemas de mísseis para a Ucrânia.