Enquanto decorria a reunião da Comissão Política do PS que analisou os resultados das autárquicas, o socialista Duarte Cordeiro fazia a sua própria análise num canal televisivo. O ex-dirigente do partido (saiu da direção do partido em junho) desalinhou, de forma clara, da leitura dos resultados feita pelo líder socialista na noite de domingo: “O PS não teve um bom resultado.”
Duarte Cordeiro vê sobretudo nos resultados das autárquicas a expressão do “poder absoluto” do PSD após autárquicas e não vê “nenhum ângulo” para o PS reclamar um bom resultado. “O PS não teve um bom resultado. O resultado final é um poder muito significativo do PSD e isso não pode significar em circunstância alguma um cenário em que o PS diga que tem um bom resultado porque não tem”, afirmou no seu espaço de comentário no canal televisivo Now.
O socialista disse mesmo que não vê “em que medida se possa considerar que o resultado foi bom”, contrariando a leitura que foi feita na noite eleitoral pela própria direção do partido. Cordeiro diz que José Luís Carneiro o fez por ter feito a “declaração antes do fim da noite eleitoral”. Certo é que, já nesta terça-feira a noite, o líder socialista voltou a reafirmar a sua leitura dos resultados, mantendo que o PS teve um resultado positivo, face ao que acontecera nas últimas legislativas em que acabou ultrapassado pelo Chega em número de deputados na Assembleia da República.
O PS tem estabelecido um comparativo da votação nestas autárquicas com o resultado nessas legislativas para chegar à conclusão de um resultado favorável para o PS, mas Duarte Cordeiro também critica esse paralelismo. “O PS pode ter recuperado em percentagem de votos face às legislativas, porque houve mais votos do que nas legislativas”, disse destacando que há uma diferença de relevo nas autárquicas onde o partido concorreu, em várias localidades, em coligação com outras forças políticas.
Em contraponto com o PS, Cordeiro diz que o PSD sai das autárquicas com “poder absoluto”: “Não me recordo de um partido com tanto poder como o PSD agora tem. Tem um domínio absoluto dos governos do país”, disse enumerando os vários níveis: governo central, regiões autónomas, maioria das câmaras, a maioria das áreas metropolitanas e a maioria das capitais de distrito — onde Carneiro tentou apoiar a sua leitura de um bom resultado, já que o PS recuperou mais capitais de distrito face a 2021.
Já quanto a Câmara de Lisboa, o socialista que já liderou a federação do PS desta área, diz que “o PS não teve a capacidade de concentração de votos à esquerda para ganhar a Carlos Moedas”. Uma avaliação negativa que, neste caso, acerta em Alexandra Leitão, já que liderou uma coligação de esquerda (tinha BE e Livre associados ao PS e PAN) e não teve sucesso precisamente à esquerda.
O socialista que no partido é apontado como um nome para o futuro em Lisboa e no partido criticou uma campanha “pela negativa” que produziu “pouca mobilização” e viu como “única notícia positiva que o PS teve mais juntas que a coligação de Moedas”. Mas conclui que “não houve um resultado que se possa dizer que correspondeu às expectativas estabelecidas e isso merece reflexão”.
Durante esta semana, outro socialista relevante, veio contrariar a interpretação dos resultados feita por Carneiro na noite de domingo, mas noutra matéria. Nas redes sociais, o ex-líder Pedro Nuno Santos avisou que não existiu “nenhuma retração do Chega”. “Pode acalmar-nos o espírito acreditarmos que o Chega teve um revés eleitoral e que foi o grande derrotado da noite, mas não é verdade”, afirmou Pedro Nuno Santos que também criticou que se faça um comparativo entre os resultados autárquicos e os das legislativas: “É comparar alhos com bugalhos.”
Recorde-se que o processo autárquico no PS foi ainda preparado por Pedro Nuno Santos que só deixou a liderança do partido em maio, depois de uma derrota significativa do PS nas eleições legislativas antecipadas.