As autoridades israelitas anunciaram, esta quarta-feira, que, dos quatro corpos entregues na noite de terça-feira pelo Hamas, há um que não corresponde a nenhum refém. Os outros três já foram identificados e o Exército insta o grupo islamista a entregar os que faltam.

“Depois de concluídos os exames no Instituto Nacional de Medicina Forense, o quarto corpo entregue a Israel pelo Hamas não coincide com nenhum dos reféns. O Hamas deve levar a cabo todos os esforços necessários para devolver os reféns mortos”, escreveu o Exército israelita numa mensagem publicada no X. Não se conhece ainda a identidade deste cadáver.

Os restantes corpos já foram identificados. São Tamir Nimrodi, raptado aos 18 anos de uma base militar na fronteira com Gaza, que a família acredita ter morrido durante o cativeiro; Uriel Baruch, 35 anos, raptado do festival Nova; e Eitan Levi, 53 anos, taxista, levado pelo Hamas enquanto trabalhava. As famílias já foram todas notificadas.

Até agora, foram entregues sete corpos de reféns que morreram e faltam 21, que continuam em Gaza. A notícia de que um dos corpos não é o de um dos reféns alimentou a ira dos israelitas, de acordo com o correspondente da BBC em Jerusalém.

Não é a primeira vez que acontece. Há uns meses, o Hamas já tinha entregado o cadáver de uma pessoa que identificava como sendo Shiri Bibas, mas que, na verdade, não era. Mais tarde entregaram o corpo certo.

O grupo militante já tinha avisado que seria difícil localizar todos os corpos porque alguns ficaram presos debaixo de escombros. O texto do acordo de cessar-fogo também já previa que seria uma tarefa difícil, e estipula a criação de uma espécie de mecanismo de partilha de informação que daria aos mediadores a última localização conhecida dos desaparecidos.


Israel está, no entanto, a usar a demora na entrega dos reféns — deveriam ter sido entregues em 72 horas depois da assinatura do acordo, um prazo que terminou na segunda-feira — para atrasar a abertura da passagem de Rafah e restringir a ajuda humanitária para Gaza. E não se coloca ainda de lado que use o atraso para colocar todo o acordo de cessar-fogo em causa.

Israel também devolveu os corpos de pelo menos 45 palestinianos, escreve a Associated Press. Seguiram sem identificação, e os médicos forenses do Hospital Nasser, em Gaza, estão a tirar fotos aos corpos e aos seus pertences para as publicarem no site do Ministério da Saúde, uma forma de ajudar as famílias a identificá-los, acrescenta o Guardian.

Passagem de Rafah reabre na quinta-feira

Previa-se que a passagem de Rafah, que liga o enclave palestiniano ao Egipto, pudesse reabrir esta quarta-feira, mas isso não aconteceu. De acordo com a Reuters, que cita duas fontes, a passagem irá ser reaberta na quinta-feira, mas apenas para permitir a mobilidade de pessoas — e não a entrada de ajuda.

A Autoridade Palestiniana (AP) já se mostrou disponível para operar a passagem de Rafah, organizando a entrada de ajuda humanitária: “Estamos prontos”, assinala Mohammad Shtayyeh, enviado especial do Presidente da AP, Mahmoud Abbas, actualmente numa visita oficial na Suíça.

A ajuda humanitária começa, aos poucos, a entrar. Em Gaza, os palestinianos relatam que já existe mais comida disponível — incluindo frutas e vegetais, que já não se encontravam há meses —, mas ainda não há electricidade nem água. A sensação é de urgência porque “ninguém acredita que a calma vai durar muito”, disse Neven Al-Mughrabi à BBC, especialmente com os atrasos do Hamas. “Sempre que começamos a sentir-nos seguros, aparece outra ameaça e o medo de que a guerra vá recomeçar.”

A vida normal “está muito longe”, denuncia Nadia Eid, trabalhadora dos Médicos Sem Fronteiras em Gaza. O enclave é uma “montanha de escombros” e os palestinianos continuam a viver em “condições sub-humanas” e com um sistema de saúde “praticamente colapsado”.

Até agora, o Hamas diz que continua a cumprir com a sua parte do acordo. Acusa, no entanto, Israel de violar o cessar-fogo e de ter provocado a morte a, pelo menos, cinco palestinianos durante a noite de terça-feira.

A ONU, por seu lado, expressa “preocupação”. Apesar do cessar-fogo, as mortes continuam. Os ataques surgem tanto do lado de Israel (que terão provocado 15 mortos em zonas perto da fronteira), como do Hamas contra grupos rivais. Estes últimos “intensificaram-se” nos últimos dias com “execuções extrajudiciais”, assinala a ONU em comunicado.