Dezenas de jornalistas que cobrem o Departamento de Defesa dos Estados Unidos desocuparam os seus gabinetes no Pentágono e devolveram as suas credenciais na quarta-feira, quando entraram em vigor as novas restrições ao acesso da imprensa.

O Departamento de Defesa tinha estabelecido um prazo, na terça-feira, para que os meios de comunicação social assinassem uma nova política de acesso ao Pentágono ou perdessem o acesso às credenciais de imprensa e aos espaços de trabalho nas instalações. Pelo menos 30 organizações noticiosas, incluindo a Reuters, recusaram-se a assinar a nova política, citando uma ameaça às liberdades da imprensa e à sua capacidade de conduzir uma recolha de notícias independente sobre as forças armadas mais poderosas do mundo.

A directiva exige que os jornalistas reconheçam as novas regras de acesso à imprensa, incluindo o facto de poderem ser considerados um risco para a segurança e verem os seus crachás de imprensa do Pentágono revogados se pedirem aos funcionários do departamento para divulgarem informações confidenciais e alguns tipos de informações não confidenciais.

A Associação de Imprensa do Pentágono, que representa mais de cem organizações noticiosas, incluindo a Reuters, declarou num comunicado que quarta-feira foi “um dia negro para a liberdade de imprensa que levanta preocupações sobre o enfraquecimento do compromisso dos EUA com a transparência na governação, com a responsabilidade pública no Pentágono e com a liberdade de expressão para todos”.

O porta-voz do Pentágono, Sean Parnell, disse numa declaração na segunda-feira: “A directiva não lhes pede que concordem, apenas que reconheçam que a compreendam. Isto fez com que os repórteres entrassem em colapso total, fazendo-se de vítimas na Internet. Mantemos a nossa directiva porque é o melhor para as nossas tropas e para a segurança nacional deste país.” O Pentágono não quis fazer comentários adicionais na quarta-feira.

Os jornalistas descreveram a área de imprensa no Pentágono na quarta-feira como invulgarmente calma, enquanto removiam mobiliário, servidores informáticos, material de insonorização de estúdios de televisão e outros conteúdos.

“Nunca vi aquele lugar não zumbir como uma colmeia”, disse J.J. Green, correspondente de segurança nacional da estação de rádio WTOP de Washington. Green, que trabalha como correspondente de segurança nacional há 20 anos, entregou a sua credencial de imprensa na quarta-feira de manhã. Os canais de televisão têm até sexta-feira para retirar o seu equipamento.

Tradicionalmente, os repórteres credenciados têm estado limitados a espaços públicos no Pentágono e têm trabalhado do outro lado do corredor do gabinete de imprensa do Pentágono, o que lhes tem permitido acesso aos porta-vozes do departamento. Os crachás de imprensa significam que foram submetidos a uma verificação de antecedentes.

“Nunca nos foi permitido entrar directamente em áreas protegidas ou gabinetes de pessoas”, disse Stephen Losey, um repórter que cobre a Força Aérea para o Defense News. “Não conheço ninguém que tenha feito uma escuta propositada ou algo do género, que é o que algumas pessoas têm feito parecer que estamos a fazer.”

Alguns jornalistas entrevistados pela Reuters disseram que as novas restrições não os impedirão de fazer reportagens sobre as Forças Armadas dos EUA. “A ironia da ironia é que os repórteres do Pentágono não estão a ter conversas sobre informações controladas nos corredores”, disse um membro da Associação de Imprensa do Pentágono, falando sob condição de anonimato. “Estamos a fazê-lo através do Signal (uma aplicação encriptada).”

A nova política do Pentágono é a mais recente expansão das restrições ao acesso da imprensa sob o secretário de Defesa Pete Hegseth, um ex-apresentador da Fox News, sendo que a Fox News está entre as organizações de informação que se recusaram a assinar as novas restrições à imprensa.