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“Rapariga com o Brinco de Pérola”, de Johannes Vermeer (detalhe)
O especialista britânico em arte Andrew Graham-Dixon acredita ter identificado a famosa figura retratada na obra-prima do pintor neerlandês Johannes Vermeer, “Rapariga com Brinco de Pérola” — e não é quem a maioria dos estudiosos pensava.
O mistério em torno da identidade da enigmática protagonista do célebre quadro de Johannes Vermeer tem intrigado historiadores da arte há séculos.
Agora, um historiador de arte britânico acredita ter finalmente descoberto quem era a misteriosa rapariga retratada na icónica pintura “Rapariga com Brinco de Pérola“, criada por volta de 1665 — uma obra que, ao longo do tempo, tem sido alvo de conjeturas e debates, sobretudo sobre a verdadeira identidade da jovem.
Durante anos, sugeriu-se que poderia tratar-se da filha de Vermeer, ou talvez de uma sua criada. Mas o especialista Andrew Graham-Dixon afirma ter descoberto a verdadeira identidade da modelo, sustentando que a jovem retratada teria sido a filha dos mecenas de Vermeer, Pieter Claesz van Ruijven e Maria de Knuijt.
Num artigo publicado no The Sunday Times, o historiador e especialista em Vermeer refuta as teorias mais populares que apontavam para que a jovem fosse a filha mais velha do pintor, Maria, ou uma das suas criadas.
Em vez disso, baseia-se no facto de a pintura ter sido criada para os seus patronos, Pieter Claesz van Ruijven e Maria de Knuijt.
Segundo Graham-Dixon, a rapariga teria cerca de 12 anos. Embora a filha mais velha de Vermeer, nascida em 1654, tivesse essa idade na altura, o historiador considera improvável que o artista retratasse a própria filha numa obra destinada a outro casal.
Assim, defende que a modelo teria de ser alguém com importância especial para van Ruijven e de Knuijt. “Há apenas uma candidata plausível: a filha deles, Magdalena van Ruijven”, conclui Graham-Dixon.
Magdalena nascera em 1655, o que a colocaria precisamente com cerca de 12 anos na altura em que a pintura foi criada. Os seus pais eram profundamente religiosos e pertenciam ao grupo cristão evangélico Remonstrantes, uma comunidade atualmente com cerca de 6 mil membros nos Países Baixos.
Aos 12 anos, Magdalena poderia ter atingido a idade do batismo e feito o seu compromisso com a Igreja — e o quadro poderia ter sido encomendado como forma de assinalar essa passagem.
“A pintura poderá ter sido feita antes ou depois do batismo, por isso é provável que tenha sido concluída em 1667 ou 1668”, diz Graham-Dixon.
De acordo com Graham-Dixon, o simbolismo central da pintura é de natureza bíblica. Além disso, acredita que existe apenas uma figura das Escrituras que Magdalena van Ruijven poderia representar: Maria Madalena.
Antes de mais, a jovem fora batizada com o nome de Magdalena, precisamente em homenagem a Maria Madalena — uma figura profundamente venerada entre os Remonstrantes.

A “Rapariga com Brinco de Pérola” poderá ter sido a filha dos patronos de Johannes Vermeer
Não seria a primeira vez que Vermeer se inspirava na história de Maria Madalena em obras encomendadas pelos pais de Magdalena. Numa das primeiras pinturas encomendadas por esse casal, A Criada Adormecida, o pintor também teria recorrido à narrativa de Maria Madalena, nota Graham-Dixon.
Além disso, o historiador acredita que esta leitura explica a expressão enigmática da rapariga no quadro, diz o All That’s Interesting. Vermeer poderá ter procurado retratar o momento bíblico em que Maria Madalena entra no túmulo de Jesus e o vê ressuscitado — primeiro sem compreender o que observa e, em seguida, reconhecendo a verdade.
Nem todos os especialistas, contudo, subscrevem a teoria de Graham-Dixon. Em declarações ao Daily Mail , a historiadora de arte Ruth Millington afirma que o retrato não representa uma pessoa real e que a arte nem sempre deve ser interpretada de forma biográfica.
“Os historiadores de arte adoram anunciar novas descobertas, mas esta teoria já existe há algum tempo”, diz Millington.
“Especialistas como a Dra. Judith Noorman já tinham defendido que a filha do mecenas de Vermeer seria a verdadeira Rapariga com Brinco de Pérola. Os artistas gostam de deixar-nos a adivinhar — é isso que nos faz voltar a olhar para o quadro, vezes sem conta”, conclui.