A ambição da China em dominar o mercado de semicondutores tem enfrentado um obstáculo significativo imposto pelos Estados Unidos. Contudo, um novo desenvolvimento promete alterar o equilíbrio de forças, atacando diretamente um dos principais pontos de dependência tecnológica do gigante asiático.
EDA: a chave-mestra para o desenho de chips
Para se poder conceber um processador ou qualquer tipo de circuito integrado, é indispensável o uso de software de Automatização de Design Eletrónico (EDA, originalmente). Estas ferramentas são o elo de ligação entre a ideia de um engenheiro e o plano de fabrico que empresas como a TSMC ou a SMIC utilizam para produzir os chips fisicamente.
Historicamente, este setor tem sido um oligopólio dominado por três gigantes americanas: Synopsys, Cadence e Siemens EDA (anteriormente Mentor Graphics), que controlavam o acesso a esta tecnologia crítica.
Agora, uma empresa chinesa chamada Qiyunfang, fundada apenas em 2023, revelou recentemente duas novas plataformas de software EDA durante a Bay Area Semiconductor Expo, em Shenzhen. A Qiyunfang não é uma startup qualquer; é uma subsidiária da SiCarrier, uma empresa que mantém uma estreita colaboração com a Huawei e que beneficia de apoio financeiro estatal.
A relevância deste anúncio reside no contexto da guerra tecnológica entre as duas superpotências. Os Estados Unidos, cientes da dependência chinesa, proibiram as suas empresas de fornecerem software EDA à China. Esta sanção foi uma das mais eficazes para “estrangular” a indústria chinesa de semicondutores. Afinal, de pouco serve ter fábricas se não se consegue desenhar os produtos para lá produzir.
Empresas como a SMIC, o maior fabricante de chips da China, que utilizava as ferramentas da Synopsys há mais de 20 anos, viram-se subitamente sem acesso a esta tecnologia fundamental.
I’m at the Bay Area Semiconductor Expo in Shenzhen. A company called Qiyunfang, a subsidiary of 新凯来 (SiCarrier), just unveiled two fully domestic EDA software platforms: one for schematic and one for PCB design. Yet another Made in China 2025 success. pic.twitter.com/h5gg5YTWtu
— Taylor Ogan (@TaylorOgan) October 15, 2025
Resposta eficaz da China: autossuficiência
As soluções da Qiyunfang representam uma tentativa de quebrar este cerco. As suas plataformas oferecem alternativas nacionais para duas das fases cruciais do desenvolvimento: o desenho esquemático (a fase conceptual) e o desenho de PCBs (a placa de circuito impresso).
Mais importante ainda, todo este ecossistema funciona sobre uma stack de software inteiramente chinesa, desde o sistema operativo à base de dados. O objetivo não é apenas criar um produto, mas sim construir um ecossistema tecnológico imune a futuras sanções.
Apesar deste enorme avanço no campo do software, a China continua a enfrentar um obstáculo monumental no que toca ao fabrico de chips com as tecnologias mais avançadas. A produção em massa de semicondutores de 3 nm ou 5 nm, que dependem de equipamentos de litografia ultravioleta extrema, permanece, por enquanto, fora do seu alcance.
No entanto, as novas ferramentas de EDA são perfeitamente adequadas para o desenvolvimento de chips de processos mais maduros, que são igualmente vitais para setores como o automóvel e a indústria, onde a procura continua a ser massiva.
A meta da China é clara: alcançar a independência e a liderança nas tecnologias do futuro, como a inteligência artificial, a robótica e, claro, a produção de semicondutores. A China quer demonstrar que a dependência externa é uma memória do passado.
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