Agosto vai significar, para milhares de famílias em Portugal, um desconto na transferência ao banco no momento de pagar a prestação do crédito habitação, para quem tem o contrato revisto este mês, em linha, aliás, com o que se tem verificado nos últimos meses. No entanto, este ‘alívio’ pode estar a chegar ao fim e as famílias portuguesas têm de se preparar para o fim desta tendência de descida – e a data já está marcada.

Nuno Rico, especialista da DECO-PROteste, indicou, em exclusivo à ‘Executive Digest’, que julho “manteve o movimento de descida das taxas de juro, mas já de uma forma muito lenta. Estamos a atingir a estabilização prevista nos últimos meses. Contudo, nos contratos que são revistos em agosto, as famílias podem contar com uma descida nas prestações”. No entanto, surgiu já o primeiro alerta. “Podem contar com este cenário pelo menos até à entrada do último trimestre de 2025.”

“A partir do último trimestre de 2025, e confirmando-se esta estabilização, até porque vivemos num cenário de total incerteza, quem tem maturidades de contratos mais curtas – nomeadamente de Euribor a 3 meses – pode ter descidas mínimas ou eventualmente pequenas subidas”, avisou Nuno Rico.

Vamos a números:

Tomemos como exemplo um empréstimo de 150 mil euros a 30 anos, com um spread (margem comercial do banco) de 1%:

– Euribor a 12 meses: regista uma taxa média de 2,060% (dados até 25 de julho), o que traduz uma prestação mensal de 638 euros – uma poupança de 124 euros em comparação com o valor pago há um ano (762 euros).

– Euribor a 6 meses: apresenta uma média de 2,049%. Isto traduz-se numa prestação de 636 euros, representando uma poupança de 47 euros face à revisão anterior, em fevereiro último.

– Euribor a 3 meses: com uma média de 1,980%, a prestação fica agora nos 630 euros, menos 22 euros em relação à última revisão feita em maio.

“Quem vai ao mar tem de se preparar em terra”

Face à evolução prevista, Nuno Rico deixou um alerta às famílias portuguesas que têm créditos habitação. “Este é um período importante para prevenir eventuais subidas no futuro: aproveitar esta poupança que está a ser gerada pela descida das taxas de juro e amortizar, ou preparar – pôr o dinheiro de parte – uma amortização mais para a frente quando as taxas voltarem a subir e aliviar o impacto da subida dos juros”, referiu o especialista, lembrando que “quem vai ao mar tem de se preparar em terra”.

Os dados recentes disponibilizados esta semana pelo INE e pelo Banco de Portugal apontaram que “o nível de endividamento das famílias é o mais elevado desde 2011”. “O montante do crédito contratado nos últimos três meses foi em média mais do dobro do que é a média dos contratos em vigor”, indicou. Ou seja, “as famílias estão a endividar-se em montantes significativos”.

“Qualquer subida que vá acontecer nos próximos meses, mesmo que pequena, terá um impacto significativo nas prestações”, frisou Nuno Rico. “Preocupa-nos porque estamos a falar muitas vezes de jovens, que ainda não têm uma estabilidade de rendimentos, que poderão sofrer de forma mais intensa qualquer variação na taxa de juro. E como falamos de montantes mais significativos – os dados de junho dizem que o montante médio dos novos contratos realizados nos últimos três meses é de 157 mil euros e que num só mês aumentou mais de 3.600 euros -, qualquer variação traduz-se rapidamente numa subida de 150, 200 euros na prestação. Isso pode trazer dificuldades às famílias, que muitas já estão a contratar no limite da sua taxa de esforço.”

“Olhando para este cenário, a partir do próximo ano, mantendo-se esta tendência ou até numa pequena subida [nas taxas de juro], para quem tem estes níveis de endividamento poderá ser muito complicado. Se se juntar um cenário de estagnação económica com a natural consequência nos rendimentos e nas taxas de desemprego, poderá deixar muitas famílias com a corda na garganta”, concluiu Nuno Rico.