Seis meses depois da tomada de posse, a nova direcção da Liga portuguesa de futebol profissional (Liga Portugal) fez nesta quinta-feira um pequeno balanço da actividade, em diferentes áreas de actuação. A Meta 2028 é a jóia da coroa do plano desportivo e estratégico, tendo como objectivo mensurável a colocação do país no sexto lugar do ranking da UEFA nas próximas três épocas. Os indicadores disponíveis para avaliar essa missão, porém, estão ainda longe de serem encorajadores.

A Meta 2028 tem sido encarada pela direcção liderada por Reinaldo Teixeira como “um desígnio nacional”, na medida em que a subida de um simples lugar na hierarquia da UEFA (Portugal é actualmente sétimo, logo atrás dos Países Baixos) permitirá o apuramento de seis clubes (e não de cinco) para as competições europeias. E como pretende o organismo pô-la em prática? Tornando as SAD portuguesas “mais relevantes internacionalmente”.

“Este plano, que decorrerá paralelamente ao processo de Centralização dos Direitos Audiovisuais, incidirá, sobretudo, nas áreas comerciais, de bilhética, receitas de transferências, no aumento do tempo útil de jogo, na redução do número de faltas e na competitividade face aos outros países que ocupam o top 10 do ranking da UEFA”, explicou o dirigente, em Agosto, antes do arranque do campeonato.

Na frente estritamente desportiva, a que se disputa no relvado, a influência da direcção da Liga Portugal nunca poderá ir além da mera sensibilização dos protagonistas (jogadores, árbitros, treinadores) para uma mudança de mentalidade. E esses números, os que traduzem o período efectivo em que bola está em jogo ou a impetuosidade com que são abordados os lances, não indiciam, até ver, uma inversão de tendência face ao passado recente.





Mais de 14 faltas por jogo

A amostra é curta, porque só se disputaram oito jornadas em 2025-26, mas as médias permitem uma comparação justa com os últimos cinco anos (período a partir do qual a Liga Portugal disponibiliza dados sobre tempo útil de jogo).

Este indicador, que traduz o tempo efectivo em que a bola está em jogo ao longo dos 90 minutos, permite aferir a fluidez do futebol praticado e, por arrasto, a qualidade do espectáculo — determinante para efeito da procura de bilhetes e da venda dos direitos televisivos.

Até agora, os 53% de tempo útil de jogo registados nos 144 encontros disputados ficam aquém dos quatro exercícios anteriores — o melhor resultado foram os 55% de 2023-24 e 2022-23, conforme pode constatar-se no quadro em anexo. Ou seja, não só a média não está subir, como se agravou o problema neste arranque do campeonato, mesmo com os árbitros há muito instruídos para punirem, por exemplo, a demora deliberada dos jogadores na reposição da bola em jogo, ou para “deixarem jogar” sempre que possível.

Na vertente das faltas cometidas, o panorama não é mais animador. Só em 2021-22 os números foram piores que os actuais, altura em que se registaram 14,89 faltas por jogo (em média), contra as 14,34 da presente temporada. E este é, obviamente, um parâmetro com implicação directa no anterior, o tempo útil de jogo — quantas mais faltas houver, mais interrupções e menos possibilidade de manter a bola a rolar.

A folha disciplinar, embora com valores abaixo dos de 2022-23 e 2021-22, aponta também no sentido de uma evolução negativa. A média de 5,51 cartões amarelos mostrados por jogo na Liga 2025-26 supera a das duas épocas anteriores, em que se registaram 5,05 e 5,02, respectivamente. Só mesmo nos cartões vermelhos o panorama é mais entusiasmante, com o valor mais baixo (0,1 por jogo ou um por jornada) deste período de cinco anos.

No capítulo da qualidade de jogo mantêm-se, assim, os sinais de preocupação, em especial quando decorre o processo de centralização dos direitos audiovisuais. Sem evolução no espectáculo, em tese, será sempre mais difícil aumentar o valor em sede de negociação, tornando-se o produto menos apetecível para os operadores.

Concluídos os primeiros seis meses em funções, em que a Liga Portugal dá conta de uma poupança de 700 mil euros (através da optimização de procedimentos e renegociação de contratos) e de uma entrada de 1,2 milhões de euros “imediatos” decorrentes de novos negócios na área comercial, continua a haver um longo caminho a percorrer na mudança de mentalidades.