Na Universidade Yale, uma professora titular (Julia Roberts) se vê envolvida em um escândalo quando um de seus melhores alunos acusa outro professor de abuso sexual. Essa é a premissa de Depois da Caçada, que entra em sua segunda semana de exibição nos cinemas brasileiros.

Depois do decepcionante e incrivelmente chato Queer (2024), o diretor italiano Luca Guadagnino aborda um tema polêmico envolto em cinema comercial e com forte ênfase no cinema de autor. Embora os créditos mencionem uma coprodução, Depois da Caçada é um filme rodado em inglês, ambientado em uma das mais prestigiadas universidades americanas, com um elenco repleto de estrelas americanas (o que não é novidade na filmografia de Guadagnino) e distribuído pela Sony. Nesse sentido, assemelha-se mais ao excitante Rivais (2024) do que ao drama romântico Um Sonho de Amor (2009).

Tendo como base um roteiro da estreante Nora Garrett, o cineasta italiano disseca a toxicidade que envolve o cenário de algumas universidades – especificamente, algumas universidades de elite frequentada por progressistas nos Estados Unidos. O filme abre com este retrato de postura intelectual, autopercepção de superioridade moral, disputas de poder e batalhas de ego, e relacionamentos utilitários disfarçados de empatia e liberalidade. E, em meio a essa arcádia despreocupada, o movimento Me Too irrompe, juntamente com acusações de plágio e abuso, suspeitas de vingança e acerto de contas, cancelamento e guerras de identidade. É preciso reconhecer que o que Guadagnino apresenta é interessante porque Depois da Caçada é uma fotografia – e uma fotografia pouco lisonjeira – de como a cultura woke afetou e continua a afetar as universidades.

É verdade que, em sua maneira de contar a história, Guadagnino demonstra, mais uma vez, mas talvez mais do que nunca, que é um autor apaixonado por si mesmo e por seu estilo de fazer cinema. E isso não é uma boa notícia para Depois da Caçada. A ênfase autoral – do uso estranho e insistente da música às transições estridentes –, longe de auxiliar a narrativa, continuamente desvia o espectador de uma história já emaranhada e, às vezes, incoerente. A faceta “diretor de filmes de moda” do italiano assume o controle e nada do que ele se propôs a alcançar é alcançado. Nesse sentido, o filme pode desapontar muitos espectadores.

Mas não dá para desprezar o que é questionado em Depois da Caçada, o debate subsequente que o filme pode abrir e a atuação soberba de Julia Roberts (em uma personagem altamente desagradável). O resto do elenco, composto por atores como Andrew Garfield e Chloë Sevigny, também está muito bem.

© 2025 Aceprensa. Publicado com permissão. Original em espanhol.

  • Depois da Caçada
  • 2025
  • 139 minutos
  • Indicado para maiores de 16 anos
  • Em cartaz nos cinemas

VEJA TAMBÉM: