O imã da Mesquita Central de Lisboa começou por referir, na entrevista à RTP3, que “há uma ignorância enorme perante alguns deputados” que dizem que usar burca “retira a liberdade à mulher”.
“É mentira. É falso”, afirmou Sheik David Munir, acrescentando que estas afirmações servem só “para ganhar mais uns votos”.
O imã da mesquita de Lisboa explicou que o uso da vestimenta feminina islâmica “não é obrigatório”.
“É óbvio que o Islão não obriga a mulher a cobrir o seu rosto”, continuou, não deixando de frisar que se “quiser vestir de sua livre vontade, e se a lei do país o permite”, não vê razão para não deixar.
Além disso, o vestuário que o Islão dá às “muçulmanas é cobrir os cabelos”, mas se quiserem “cobrir o rosto deixando os olhos abertos ou que queira tapar o rosto, sem pôr a segurança em causa”, o Islão permite. Se a lei proibir o uso de burca, as cidadãs muçulmanas podem passar a usar “simplesmente o lenço”, ou deixam de sair de casa, ou saem do país.
“Nós teremos de nos adaptar (…) sem qualquer problema para o Estado, sem criar qualquer situação embaraçosa”, disse. “Somos muçulmanos, somos portugueses, estamos integrados. E se a lei for aprovada (…), as muçulmanas e os muçulmanos terão de ajustar qual é a forma mais adequada”.
A maioria das cidadãs muçulmanas em Portugal usam véu islâmico para cobrir o cabelo apenas. O imã da Mesquita Central de Lisboa considerou que esta legislação serve para os políticos “taparem os olhos aos portugueses”, em vez de resolverem os problemas do país, lamentando o discurso islamófobo e anti-imigrantes.
“Com tantos problemas graves que nós temos no nosso país, com bebés a nascerem nas ambulâncias ou hospitais a serem fechados porque não há médicos”, em vez de “dedicarmos o nosso tempo a essas situações e a procurar soluções para isso, estamos a discutir o vestuário de uma muçulmana”, comentou David Munir.
Salientando que a “segurança é um assunto importante”, o imã recordou que existem mais riscos relacionados com o uso de armas do que com o vestuário religioso.
“Segundo a lei muçulmana, não se pode obrigar ninguém a vestir o que não quer, nem sequer a filhas. E há muitas muçulmanas que não usam sequer o lenço” sobre os cabelos, mas “desde que usem vestuário modesto está tudo bem”, considerou David Munir.