Destituído da presidência da Coreia do Sul em Abril, por ter declarado a lei marcial no final do ano passado, e acusado de insurreição e abuso de poder, Yoon Suk-yeol recorreu esta sexta-feira a um método inusitado para evitar ser levado para interrogatório por uma equipa de procuradores especiais que também o está a investigar por crimes eleitorais.
Segundo os procuradores, o político populista deitou-se no chão da cela, no Centro de Detenção de Seul, em Uiwang, onde se encontra detido em solitária, desde o mês passado, vestindo apenas roupa interior – camisola interior e cuecas.
Durante cerca de duas horas, os funcionários judiciais tentaram cumprir um mandado de detenção emitido na véspera por um tribunal de Seul, para levar Yoon. A resistência do ex-Presidente, somada à opção dos procuradores de não recorrerem ao uso da força para evitar um acidente, levou à suspensão da tentativa de detenção e ao seu adiamento, para a próxima semana.
“A equipa especial de advogados aconselhou [Yoon] a cumprir voluntariamente a execução do mandado de detenção, considerando que é um antigo Presidente, mas o suspeito recusou, categoricamente, deitado no chão, sem usar o uniforme prisional”, explicou aos jornalistas Oh Jeong-hee, membro da equipa, contando que foram feitas quatro tentativas, em intervalos de 20 a 30 minutos.
“Nesse processo, a equipa notificou o suspeito de que na próxima vez completará a execução do mandado de detenção na próxima vez, recorrendo, inclusivamente, à força física”, acrescentou, citada pela agência noticiosa sul-coreana Yonhap.
Motivos de saúde
Esta não é a primeira vez que Yoon – um antigo procurador-geral, que foi eleito Presidente da Coreia do Sul em 2022, com o apoio do Partido do Poder Popular (PPP, conservador), promovendo um discurso populista e anti-corrupção – resiste a tentativas de detenção ou convocatórias para interrogatório. Em Janeiro, soldados do Exército e seguranças da guarda presidencial montaram uma autêntica barricada em redor da sua casa para evitar o cumprimento de outro mandado de captura.
Neste caso concreto, os advogados do ex-Presidente justificam a sua indisponibilidade para prestar depoimentos sobre a acusação de interferência eleitoral, com questões de saúde, e dizem ter apresentado relatórios médicos que explicam como Yoon, de 64 anos, corre o risco de perder a visão de um olho e como tem tido dificuldades em regular a temperatura do seu corpo.
Em declarações à Reuters, Yu Jeong-hwa, um dos seus advogados criticou os procuradores, dizendo que a referência que fizeram ao que Yoon tinha vestido, nesta sexta-feira, era um “insulto à dignidade” do ex-chefe de Estado e uma “violação dos direitos humanos” dos reclusos daquele centro de detenção, que, acusam, enfrentam temperaturas próximas dos 40 graus Celsius nas suas celas.
“O suspeito já enfatizou, no passado, a justiça, o bom senso e o princípio da lei. Por causa deste incidente, a nação está a ver se a lei se aplica ou não de forma igual a todas as pessoas”, afirmou, no entanto, Oh.
Interferência eleitoral
Substituído na presidência por Lee Jae-myung, do Partido Democrático (PD, liberal), eleito em Junho, Yoon foi acusado de insurreição e destituído meses depois pelo Tribunal Constitucional por ter declarado a lei marcial durante seis horas na noite do dia 3 de Dezembro de 2024, sem cumprir os requisitos previstos pela Constituição para entregar o poder aos militares e pedir-lhes que cercassem o Parlamento, e justificando a medida de emergência com objectivos político-partidários.
Se for considerado culpado, pode vir a ser condenado a prisão perpétua, ou, num caso mais extremo, à pena de morte.
O mandado de detenção que a equipa de investigação, liderada pelo procurador especial Min Joong-ki, tentou executar esta sexta-feira está, no entanto, relacionado com uma suspeita, que também envolve a sua mulher, Kim Keon Hee, de violação da lei eleitoral, durante a campanha para as presidenciais de 2022.
Segundo a acusação, Yoon e Kim terão tido diversas sondagens favoráveis, da responsabilidade do empresário Myung Tae-kyun, oferecendo, em troca, a garantia de que um antigo deputado do PPP, Kim Young-sun, seria o nomeado do partido conservador para uma eleição intercalar prevista para Junho desse ano.
Nas eleições presidenciais de Março de 2022, que se realizaram depois de uma das campanhas mais agressivas das últimas décadas no país asiático, Yoon Suk-yeol derrotou o actual Presidente, Lee Jae-myung, por apenas 0,73% dos votos, tendo sido a diferença mais curta da história democrática da Coreia do Sul.