Aprender a ler cedo não é invulgar. Mas começar aos cinco anos, ler 267 livros até aos 12 e, ainda assim, arranjar tempo para escrever e publicar uma obra de poesia é uma história que merece ser contada. César Diogo Pereira, é natural do Porto, e desde cedo mostrou que o gosto pela leitura pode ser “tão natural quanto respirar”.
O hábito começou, literalmente, antes de nascer. A mãe lia-lhe histórias todas as noites durante a gravidez, enquanto massajava a barriga. O jovem acredita que esse ritual simples, mas constante criou uma ligação vitalícia entre César e os livros. “Acredito que foi aí que começou tudo”, explica. Aos cinco anos, lia sozinho o primeiro volume da coleção “Os Cinco”, de Enid Blyton. A partir daí, nunca mais parou.
Hoje, o seu currículo literário é digno de um adulto: dos romances históricos de José Rodrigues dos Santos ao “Rich Dad, Poor Dad”, manual de finanças pessoais que descobriu neste verão, passando por clássicos como “A Arte da Guerra” de Sun Tzu ou “O Tigre” de Joël Dicker, o livro que mais o marcou. “O momento em que o caçador se tornou a verdadeira fera é inesquecível”, comenta. Também “2030”, de Mauro F. Guillén, o impressionou pela visão do futuro, e “O Segredo de Espinosa” conquistou-o pela forma como mistura filosofia e narrativa.
Este verão, em apenas dois meses de férias, leu 12 livros — em português e inglês. Enquanto muitos colegas passavam horas no TikTok, César dividia-se entre “Rich Dad, Poor Dad”, “The Art of War” e “Belmiro, A História de uma Vida”, biografia de Belmiro de Azevedo.
A leitura trouxe-lhe naturalmente a vontade de escrever. Aos 11 anos, editou o seu primeiro livro: “Na Cabeça dos Poemas Sem Pés”. Um título curioso, que traduz bem a forma como encara a escrita: intuitiva, sem filtros, fruto do impulso criativo. O livro de 89 poemas e reflete as reflexões de um pré-adolescente sobre o quotidiano, a vida e o mundo que o rodeia, teve direito a três entrevistas em rádios regionais, nove apresentações de norte a sul do País (de Lisboa a Miranda do Douro) e já vendeu cerca de 900 exemplares em apenas seis meses.
O processo, admite, foi agridoce. “Publicar foi interessante, mas ao mesmo tempo fiquei curioso para saber o que as pessoas achariam. E, claro, houve familiares e amigos que não compraram o livro. Mas no geral os feedbacks foram positivos”, conta com a maturidade de quem leva a escrita a sério.
Entre os momentos mais desafiantes, recorda as apresentações públicas. “Estar diante de um auditório cheio, sob pressão, a falar do meu trabalho, foi intenso. Mas também percebi que era aí que os livros ganhavam vida.”
E não parou por aí. O segundo livro já está em revisão e deverá ser publicado até ao final do ano. “Vai explorar temas como os sufocos do mundo, a hipocrisia, a tristeza, a saudade”, adianta.
Apesar da seriedade com que fala de livros, César é, antes de tudo, um rapaz de 12 anos com uma vida cheia. É aluno de excelência na escola e frequenta o Conservatório de Música do Porto, onde toca piano desde os três anos. Já concluiu quatro níveis do programa de cálculo mental Aloha, terminou um curso de quatro anos na Academia de Robótica e praticou xadrez, judo, taekwondo, hóquei em patins e ginástica. Atualmente divide-se entre o ténis e a natação.
Nas horas vagas, gosta de conviver com amigos e viajar com a família. Uma vez por mês, têm por hábito fazer viagens culturais, seja a concertos, museus ou exposições. “O piano e as viagens são as minhas maiores fontes de inspiração”, revela.
Quanto à tecnologia, tem um telemóvel desde os 10 anos. Mas, curiosamente, as estatísticas da Apple mostram que o usa apenas uma hora por dia. “Acho que deve haver equilíbrio. O telemóvel faz parte da vida, mas não pode dominar. Prefiro ler e escrever nos tempos mortos, como quando espero pelas aulas ou ando nos transportes públicos.”
Além dos livros, mantém presença no Facebook, Instagram e YouTube, com o canal DiDatic, onde já partilhou vídeos sobre curiosidades e leituras. Mais recentemente, tem publicado menos, porque a escrita ocupa-lhe cada vez mais tempo.
Com tanto talento e dedicação, é natural que surja a pergunta: o que quer ser quando crescer? César não hesita: “Gosto da área das matemáticas e do empreendedorismo e penso seguir uma profissão ligada a isso. Mas não vou deixar de escrever nem de tocar piano.”
Mais do que um plano de carreira, tem um ideal: “O meu sonho é gostar do que faço, ter uma vida estável e escrever o que penso, não o que os outros querem que eu escreva.”
Talvez seja essa a chave para compreender este jovem invulgar: a combinação entre curiosidade, disciplina e autenticidade. Entre a leveza da infância e a maturidade de quem já vive como autor publicado.
E se alguém ainda duvida da importância da leitura, César deixa uma mensagem direta: “O mundo é confuso, por isso não esperes que te entenda. Mas a leitura dá conhecimento, aumenta o pensamento crítico e abre portas. Se ainda não lês, começa já.”