A imagem retro conquista quem vê o Renault 5 por fora, mas o seu trunfo é outro. Testámos a versão mais potente e com a maior bateria.

Renault 5 E-Tech Iconic

8/10

O Renault 5 é a prova de que os elétricos também podem ser divertidos e, mesmo com algumas limitações, é difícil resistir-lhe.

Prós

  • Equipamento
  • Autonomia
  • Consumos
  • Condução / comportamento

Contras

  • Preço
  • Espaço para os ocupantes traseiros

O Renault 5 dispensa apresentações: não é apenas o renascer de um ícone. É uma afirmação de estilo e posicionamento de um modelo muito conhecido pelos portugueses.

A «reencarnação» do icónico citadino francês deu-se há pouco mais de um ano e, mesmo antes de chegar ao mercado, já era um dos modelos mais aguardados. Com ele, traz o encanto das linhas retro do modelo original, aliado à modernidade das propostas atuais.

Mas não é uma mistura complexa. A Renault soube adicionar a porção certa de cada um destes ingredientes. O resultado está à vista: uma imagem muito divertida, colorida e jovem, capaz de virar cabeças por onde quer que passe. E o Miguel Dias já o provou neste vídeo:

O Renault 5 tinha a obrigação de corresponder às expectativas que recaíam sobre si e as provas, agora, estão dadas. Se ainda tinha dúvidas, os dias que passei ao volante deste «brinquedo» eliminaram-nas.

Se procura o carro mais espaçoso e confortável do segmento, há propostas que o fazem melhor. Mas se procura um elétrico eficiente, capaz de cumprir as obrigações diárias e de arrancar sorrisos, continue a ler. O Renault 5 foi o elétrico mais divertido que pude conduzir até hoje, e isso é ponto assente.

Uma «cara bonita»

Já se começam a ver com alguma frequência Renault 5 a circular nas estradas. Não é difícil avistá-los: mesmo neste azul escuro da unidade que ensaiei — que, a meu ver, está longe de ser a melhor escolha —, ninguém lhe fica indiferente.

As jantes de 18″ — de série em todas as versões —, a faixa dourada no tejadilho e os grafismos “5” espalhados um pouco por todo o lado, fazem referência ao ícone do passado, ao mesmo tempo que lhe conferem uma personalidade única e distinguível.

Espaço? Falta um pouco, sim

Não se deixe enganar pelas linhas robustas e angulares, que o fazem parecer maior do que aquilo que realmente é. Por comparação, é 13,1 cm mais curto que o «irmão» Renault Clio, 2,4 cm mais estreito e tem uma distância entre eixos 4,3 cm inferior.

Uma diferença que, apesar de não parecer significativa no papel, na prática a história é outra. O que nos leva ao principal “calcanhar de Aquiles” do Renault 5: o espaço. Se tiver mais de 1,75 m, viajar atrás significa bater com os joelhos nos bancos dianteiros e ter pouco espaço para a cabeça. Mesmo assim, há espaço suficiente para transportar quatro adultos.

A bagageira, não sendo uma referência, está dentro da média. Os 277 litros são mais do que suficientes para o dia a dia e superam os 210 litros do MINI Cooper E ou os 265 litros do Peugeot e-208, por exemplo.

Bagageira do Renault 5© Miguel Nascimento / Razão Automóvel O novo Renault 5 anuncia 277 litros de capacidade de bagageira. E ao contrário de outras propostas, não inclui uma bagageira dianteira ou frunk — debaixo do capô, está mesmo o motor e outros componentes do sistema.

Inspirado no passado, mas com tecnologia atual

Passada que está a questão do espaço, importa olhar para os bons argumentos do R5 — e são muitos. A começar pelos bancos, que, na unidade testada se destacavam pelo revestimento em tecido amarelo e por um desenho que se inspira nos do Renault 5 Turbo original.

Os painéis das portas apresentam-se no mesmo material, enquanto o tabliê, nesta que é a versão mais equipada, é revestido em pele sintética. No restante habitáculo, encontramos os plásticos duros habituais deste tipo de propostas, mas estão bem montados e, acima de tudo, muito bem disfarçados.

Também no interior, este modelo faz questão de exibir com orgulho o nome que herdou, tal é a quantidade de “5” espalhados pelo habitáculo. Pessoalmente, o que mais gosto é o que surge no tabliê, que pode ser iluminado e até mudar de cor, conferindo-lhe um toque mais pessoal.

Mas esta ligação ao passado, pelo menos, no que ao interior diz respeito, termina aqui. Como referi acima, a Renault soube adicionar a porção certa dos ingredientes retro e modernidade, e isso fica bem evidente atrás do volante, com a presença de dois ecrãs de 10″: um dedicado ao painel de instrumentos e outro ao sistema de infoentretenimento.

Nota muito positiva para este último, que, como tem sido habitual nos produtos mais recentes da marca, tem base Google, revelando-se particularmente intuitivo e fácil de utilizar. Logo abaixo, encontramos um conjunto de botões físicos, entre os quais se mantêm os comandos do ar condicionado — e ainda bem.

Um «brinquedo» para adultos

Se as dimensões compactas do Renault 5 não jogam a favor do espaço interior, é em estrada que tudo muda. Bastam poucos quilómetros ao volante para perceber que este elétrico é mais do que uma «cara bonita».

E o que mais me surpreendeu foi a quantidade de vezes que dei por mim com um sorriso na cara. A capacidade que este pequeno «brinquedo» tem para enfrentar estradas mais sinuosas e a estabilidade com que tudo acontece deixa-nos a «chorar por mais», tal é a diversão ao volante.

Renault 5 — traseira 3/4© Miguel Nascimento / Razão Automóvel A unidade ensaiada estava «pintada» na cor “Azul Noturno” que, a meu ver, não favorece as linhas do Renault 5.

A direção é direta e precisa, e oferece o peso adequado para cada tipo de situação. Se no modo Eco tende a ser demasiado leve, nos modos Comfort e Sport permite melhores sensações e torna a condução do Renault 5 mais envolvente e divertida.

A isto juntam-se as retomas de velocidade imediatas — típicas dos 100% elétricos — e o tato firme do pedal de travão, que tornam o Renault 5 num verdadeiro «brinquedo» para adultos. E como se não bastasse, nunca sentimos que é suficiente. Pelo contrário, convida-nos a continuar, a aproveitar cada curva e a espremer todos os eletrões da bateria.

Para isto, também muito contribui a suspensão independente (nos dois eixos), que adota uma firmeza atípica neste tipo de proposta, conferindo-lhe uma agilidade e estabilidade que surpreendem, mesmo a ritmos mais elevados. Mas não compromete o conforto mesmo quando o piso está em pior estado.

Potência mais do que suficiente

Abrandando o ritmo e selecionando o modo Eco, o Renault 5 surpreende pela facilidade com que baixa o nosso ritmo cardíaco, mas também os consumos. Neste modo, a potência é entregue de forma linear, o que torna a condução em cidade num exercício de serenidade.

E já que falamos em potência, o R5 está disponível com 70 kW (95 cv), 90 kW (122 cv) e 110 kW (150 cv), e foi precisamente esta última que testei. Apesar de não soar entusiasmante, nunca senti que fosse insuficiente para mover os mais de 1500 kg deste modelo.

Motor elétrico do Renault 5© Miguel Nascimento / Razão Automóvel Devido ao posicionamento do motor elétrico, não existe nenhum compartimento de carga sob o capô.

Para ter uma ideia, o sprint dos 0 aos 100 km/h cumpre-se em 8s, mais do que suficiente para nos encostar ao banco… por breves momentos. Quanto à velocidade máxima, está limitada aos 150 km/h, independentemente da versão.

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E a autonomia?

O Renault 5 com que privei era «alimentado» pela bateria de maior capacidade (52 kWh), com uma autonomia anunciada de até 410 km (ciclo WLTP).

Quanto aos consumos, a marca declara cerca de 15 kWh/100 km, mas na prática é relativamente fácil ficar abaixo deste valor, tal é a eficiência deste sistema elétrico. Para tal, muito contribui a travagem regenerativa que, embora não seja ajustável, permite-nos conduzir maioritariamente recorrendo apenas ao pedal do acelerador.

Porta de carregamento do Renault 5
© Miguel Nascimento / Razão Automóvel O Renault 5, quando equipado com a bateria de maior capacidade, pode ser carregado a 11 kW em corrente alternada (AC) ou a 100 kW em corrente contínua (DC).

Ao fim de mais de 300 km percorridos, terminei este ensaio com uma média a rondar os 14 kWh/100 km, um valor que surpreendeu, tendo em consideração a quantidade de vezes que não fui brando com o pedal da direita.

Na realidade, isto traduz-se numa autonomia real que cumpre o que é anunciado pela marca, especialmente se conduzirmos em contexto urbano. Em vias rápidas e autoestradas, como é normal nas propostas 100% elétricas, os consumos sobem e a autonomia desce.

Quanto custa?

O novo Renault 5 está disponível a partir dos 24 900 euros, mas a unidade ensaiada estava (muito) acima deste valor.

Equipada com o nível de equipamento Iconic Cinq — um dos mais completos da gama —, o valor base sobe para os 35 mil euros, mas com todos os opcionais que trazia, o preço final da unidade ensaiada fica em praticamente 38 mil euros.

Badge "Renault 5" na bagageira do Renault 5© Miguel Nascimento / Razão Automóvel O exterior do Renault 5 não se inibe de ostentar vários “5”, e este, na traseira, é um deles.

Não é o valor mais competitivo, mas a concorrência não faz melhor. Veja-se, por exemplo, o MINI Cooper E, que está disponível a partir dos 33 mil euros, mas oferece menos 105 km de autonomia, ou o Peugeot E-208, que na versão GT tem preços a começar nos 35 mil euros.

No final do dia, tudo se resume a uma questão de prioridades. Se o que procura é versatilidade, espaço e conforto, há outras propostas no mercado que cumprem melhor esse papel.

Mas se o coração fala tão alto quanto a razão, e se o estilo retro do Renault 5 o faz sorrir, então a escolha é óbvia. Este pequeno elétrico alia praticidade e emoção como poucos. Duvido que exista outra proposta tão divertida, carismática e cativante quanto este «brinquedo» francês.

Renault 5 E-Tech Iconic

8/10

Longe de ser apenas uma homenagem ao passado, o Renault 5 mostra que a eletrificação pode coexistir com a emotividade, personalidade e prazer de conduzir, mas nem tudo é perfeito. As dimensões compactas que lhe conferem tanta agilidade penalizam quem viaja atrás, e o preço… é o mal comum de quase todos os elétricos. Apesar disso, o Renault 5 prova que não é apenas mais um e sim um «brinquedo» para adultos, daqueles que nos fazem “chorar por mais”.

Prós

  • Equipamento
  • Autonomia
  • Consumos
  • Condução / comportamento

Contras

  • Preço
  • Espaço para os ocupantes traseiros


Especificações técnicas

Versão base:24.900€

Classificação Euro NCAP:

4/5

38.038€

Preço unidade ensaiada

Motor

  • Arquitectura: Motor elétrico síncrono
  • Posição: Dianteiro, transversal
  • Carregamento: Bateria de 52 kWh
  • Potência:
    110 kW (150 cv)
  • Binário:
    245 Nm

Transmissão

  • Tracção: Dianteira
  • Caixa de velocidades:  Relação única

Capacidade e dimensões

  • Comprimento: 3922 mm
  • Largura: 1774 mm
  • Altura: 1498 mm
  • Distância entre os eixos: 2540 mm
  • Bagageira: 277-959 litros
  • Jantes / Pneus: FR: 195/55 R18; TR: 195/55 R18
  • Peso: 1532 kg

Consumo e Performance

  • Média de consumo: 15,1 kWh/100 km
  • Velocidade máxima: 150 km/h
  • Aceleração máxima: >8s

Equipamentos

    Tem:

    • Vidros traseiros escurecidos
    • Câmara de marcha-atrás
    • Alerta de ângulo morto
    • Cruise control adaptativo
    • Bancos e volante aquecido
    • 9 altifalantes Harman Kardon
    • Bomba de calor
    • Iluminação ambiente interior

Extras

Pintura azul noturno com tejadilho preto estrela: 1150 €
Pack Safety & Easy Drive: 650 €
Adaptador (carregador bidirecional V2L): 200 €
Cabo de carregamento doméstico (modo 2): 390 €


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