Em entrevista à CNN Portugal, Gabriel Mithá Ribeiro, que abandonou o cargo de deputado nesta legislatura, descreve também um “caso claro de abuso de poder” nos bastidores do partido de André Ventura

Gabriel Mithá Ribeiro, o deputado que se desfiliou do Chega e que acusou o seu líder de ser um “predador” “narciso”, reforçou as críticas a André Ventura na CNN Portugal, sublinhando que a sua saída provocou uma “fragmentação” dentro do segundo maior partido da Assembleia da República.

Desde o artigo que escreveu no Observador, em que descreveu Ventura como tendo uma “pulsão autocrática destrutiva”, que diz ser “um traço de personalidade impossível de o tornar um governante responsável”, Gabriel Mithá destaca que tem recebido “muitas mensagens de apoio”, mas acusa um vice-presidente de o ter insultado com “mensagens irracionais”. “Estou a sacrificar sair do Parlamento porque na vida cívica serei mais útil do que fazer um papel figurativo no Parlamento”, apontou. 

Numa entrevista em que descreveu Ventura como “narciso” e comparou-o várias vezes a José Sócrates, Mithá Ribeiro disse que abandonou o seu cargo por ter sido “silenciado” em vários temas que, refere, são a sua especialidade – “a educação, a questão racial e a moral social”. “Ventura fica fechado em dois temas e de lá não sai (…) se tivesse outro tipo de personalidade, provavelmente o Chega teria um futuro mais sólido”.

O também antigo vice-presidente do Chega conta que uma das realizações que teve sobre a psique de Ventura aconteceu durante a elaboração do programa eleitoral de maio de 2021 no seio do Gabinete de Estudos do partido. “Preparámos o programa político e foi desautorizado sem a mínima justificação de André Ventura”.

“Talvez o único orgão autónomo foi alvo de uma perseguição séria e isso teve muitas consequências”, garantiu, acrescentando que considerou esse episódio um “caso claro de abuso de poder”. 

Mithá Ribeiro, que na última legislatura desempenhou o papel de secretário da Mesa da Assembleia da República, aponta também críticas ao comportamento dos deputados do Chega, considerando que “há pessoas no grupo parlamentar que se comportam muito mal e aquilo contamina a imagem de todos”. Mas, refere, “se aquelas pessoas se comportam mal é um reflexo do caos narcísico do líder do Chega”. 

O ambiente, vivido no Parlamento, sublinha, assemelha-se a uma sala de aula “em que qualquer dia há pancadaria”. “O Chega não amadureceu em termos de atitudes cívicas”.

As declarações surgiram horas depois de o líder do Chega ter recusado comentar as críticas do ex-deputado Mithá Ribeiro. “Eu só não quero alimentar muito isto, nem fazer grandes comentários, eu fico só triste. Eu vejo a política como um serviço e não como uma disputa de lugares. Quando as pessoas dizem que ficaram muito chateadas ou muito tristes porque não tiveram um determinado lugar, é completamente ao contrário do que eu vejo a política”, afirmou, considerando que “a política não pode ser um exercício de querer lugares, seja no governo-sombra, seja noutro qualquer”.

O presidente do Chega salientou que “a política não pode ser uma luta por tachos, nem por lugares, tem que ser uma luta para exercer um serviço em prol da causa pública e um serviço pelas pessoas”.