Ex-diretora da Globo, Cininha de Paula resolveu se desafiar em um novo universo aos 66 anos. Em parceria com Charles Daves, ela escreveu “Caminhos do ator – Do palco à câmera”, seu primeiro livro. O lançamento acontece no próximo dia 3, na Livraria Travessa de Ipanema, na Zona Sul do Rio de Janeiro. A publicação contará com um prefácio de Miguel Falabella, parceiro em muitos trabalhos, e uma orelha escrita por Wolf Maya, seu ex-marido.

— Cheguei à conclusão de que eu tinha um conhecimento que merecia ser transcrito. A partir daí surgiu a ideia de se fazer o livro. Fizemos uma adaptação de todo o contexto do nosso curso de uma forma literária. É um livro que pode ser lido tanto pelo jovem ator que está iniciando a carreira quanto por aquele que já tem uma formação, mas que quer fazer uma reciclagem e revisitar algumas coisas — afirma ela, que está há 20 anos à frente do curso de teatro.

Cininha recentemente voltou a se aventurar na atuação após passar 25 anos prioritariamente atrás das câmeras. Ela rodou a nova adaptação para o cinema de “Toda nudez será castigada”, dirigida por Daniel Filho:

— É um filme dirigido por ele aos 88 anos e com toda a sua vitalidade. É um elenco muito divertido. E eu tive esse privilégio de fazer Nelson Rodrigues como atriz. Foi bom me desafiar e trabalhar como atriz no cinema.

Ela também está no ar no documentário “Chico Anysio: um homem à procura de um personagem”, que revisita a vida e a carreira do seu tio. Cininha fala da proximidade dos dois:

— Até nascer a Vitória (filha mais jovem de Chico), ele não tinha tido nenhuma mulher, mas eu já era a filha mulher dele. A minha ligação com o Chico Anysio é de pai e filha. Mais do que um padrinho de profissão, mais do que uma pessoa com quem eu tive o privilégio de trabalhar, mais do que o meu tio, ele foi um mentor, uma referência para mim.

Cininha estreou no teatro muito cedo, mas se formou como médica antes de se dedicar à direção e à atuação. Ela afirma que o tio teve grande papel em sua mudança de carreira:

— Eu queria medicina e fui fazer. Quando eu estava me formando, o Chico Anysio me chamou para trabalhar. Era tão intensa a nossa ligação que bastou ele olhar para mim para entender que eu estava precisando de alguém que me resgatasse para a arte.

Escolinha do professor Raimundo” foi um dos vários programas que ela dirigiu na TV Globo. Cininha lembra o fim da atração, em 2001.

— Eu não estava (dirigindo) quando acabou, eu não presenciei esse fim. Mas eu sei que foi um sofrimento enorme para ele (Chico Anysio). Nós conversávamos sobre isso, e ele ficou muito magoado. E essa mágoa fez com que ele ficasse mais doente. Acho que isso deu a ele uma sensação de impotência e insatisfação. Não estou culpando ninguém, porque todos os projetos têm que começar e têm que terminar. Mas isso de certa forma fez doer o coração dele, porque logo depois começaram a morrer todos os velhinhos que estavam ali. Isso o machucou.