
A artista plástica irlandesa Elinor O’Donovan
A Irlanda vai tornar permanente o Rendimento Básico para Artistas, após um bem sucedido programa piloto de três anos. No âmbito do programa, 2.000 artistas vão receber um rendimento semanal de 325 euros — cerca de 1400 euros por mês.
Deve um país apoiar financeiramente os seus artistas? Esta foi a questão que a Irlanda procurou responder com um programa piloto realizado entre 2022 e 2025, durante o qual o governo forneceu a 2.000 criativos um rendimento de 325 euros por semana.
Agora, o governo irlandês decidiu tornar permanente o seu programa de Rendimento Básico para Artistas.
“Isto é verdadeiramente enorme”, disse em entrevista à CBC Radio a artista plástica irlandesa Elinor O’Donovan, que participou no programa piloto de três anos. “Transformou o meu trabalho e o meu bem-estar de uma forma geral”, acrescentou a artista baseada em Dublin.
No âmbito do programa, 2.000 artistas selecionados vão passar a receber cerca de 1.400 euros por mês, sem quaisquer condições. Segundo a Art News, os participantes serão escolhidos através de um processo de candidatura que deverá iniciar-se em setembro de 2026.
O programa inclui uma cláusula que poderá permitir que 200 artistas adicionais recebam este rendimento caso haja financiamento suplementar disponível, avança a emissora irlandesa RTÉ.
A ideia de dar apoio do Estado aos artistas surgiu durante a pandemia, quando as instituições culturais da Irlanda foram obrigadas a encerrar, revelou em 2023 ao The New York Times a antiga ministra da Cultura da Irlanda, Catherine Martin.
Na altura, Martin constituiu um grupo de trabalho para estudar formas de o governo apoiar os artistas, que recomendou a criação de um piloto de rendimento básico. “Preocupar-se em pôr pão na mesa afeta muito a criatividade dos artistas”, disse Martin. “Trata-se de lhes dar espaço para trabalhar”.
Nos últimos anos, alguns defensores do rendimento básico têm concentrado os seus esforços em fornecer apoio financeiro regular aos artistas, que podem passar meses ou anos a trabalhar em projetos criativos não remunerados.
Em Nova Iorque, a organização privada Creatives Rebuild New York apoiou 2.400 criativos com 1.000 dólares por mês durante três anos após a pandemia. O programa da Irlanda destaca-se por ser financiado pelo governo e, desde agora, permanente.
“Este programa é a inveja do mundo, uma proeza extraordinária para a Irlanda, e deve ser tornado sustentável e à prova do futuro”, afirmou Patrick O’Donovan, atual ministro da Cultura irlandês, em comunicado.
O projeto custou à Irlanda quase 100 milhões de euros, mas segundo um relatório da consultora externa Alma Economics, o programa aumentou o envolvimento com as artes e compensou parte do custo através da geração de impostos e da redução de pagamentos sociais.
“Do ponto de vista financeiro, é extremamente benéfico”, disse O’Donovan à CBC Radio. “Mas, para além disso, penso que há algo intangível que as artes oferecem à cultura e à sociedade em geral, que é mais difícil de medir, mas que continua a ser extremamente valioso.”