ANÁLISE || Viajam a altas velocidades subsónicas, abraçam os “contornos” do terreno. E são relativamente baratos
Estes são os Tomahawk, os mísseis americanos que Zelensky pediu a Trump – e que Putin teme
por Tim Lister, CNN
O Tomahawk é o “cavalo de batalha” do arsenal de mísseis dos Estados Unidos. Foi utilizado em ataques na Síria e na Líbia, e foi amplamente utilizado contra o regime do ex-ditador Saddam Hussein no Iraque, tanto na década de 1990 quanto em 2003.
Cerca de 30 desses mísseis de cruzeiro foram usados nos ataques dos EUA às instalações nucleares iranianas em junho.
Embora não seja novo, o Tomahawk continua eficaz e relativamente barato, custando dois milhões de dólares (1,72 milhões de euros) por míssil. Dependendo da variante, ele pode atingir alvos a uma distância entre 1.600 e 2.500 quilómetros.
Isso não é muito mais do que alguns dos drones de longo alcance da Ucrânia, mas o Tomahawk teria um poder explosivo muito maior. Possui tecnologias de orientação sofisticadas e viaja a altas velocidades subsónicas (cerca de 885 km/h).
O míssil também voa baixo, “abraçando” os contornos do terreno, o que o torna mais difícil de detetar e intercetar.
Por todas estas razões, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, pressionou a administração Trump para que entregasse Tomahawks que permitiriam à Ucrânia atingir alvos no interior da Rússia. Pelo menos por enquanto, Zelensky não vai consegui-los. Trump deixou claro na semana passada que os EUA têm poucos para dispensar, dizendo: “Nós também precisamos de Tomahawks para os Estados Unidos da América. Temos muitos, mas precisamos deles.”
Como vimos nesta guerra de desgaste — com os caças F-16, os tanques Abrams e até mesmo as baterias de mísseis Patriot fornecidos à Ucrânia —, nenhum sistema isolado é capaz de mudar o jogo. Seriam necessárias centenas de mísseis Tomahawk para incapacitar as refinarias e bases aéreas da Rússia.
Mesmo assim, algumas dezenas poderiam permitir que as forças armadas ucranianas causassem danos substanciais a infraestruturas russas importantes longe de suas fronteiras — incluindo a fábrica de drones Shahed no Tartaristão e a Base Aérea Engels-2 na região de Saratov, de acordo com o grupo de reflexão Institute for the Study of War, com sede em Washington, nos EUA.
O Tomahawk permitiria ataques com mísseis no interior da Rússia
A Ucrânia está a fazer pressão para ter acesso ao sistema de mísseis de longo alcance Tomahawk, fabricado nos EUA. Pelo menos 1.945 instalações militares russas estariam ao alcance da variante de 2.500 km do Tomahawk, de acordo com analistas militares do Instituto para o Estudo da Guerra.
Dados a partir de 16 de outubro de 2025. Fontes: Instituto para o Estudo da Guerra com o Projeto Ameaças Críticas da AEI, Marinha dos Estados Unidos. Gráfico: Lou Robinson, CNN
“É muito difícil operar apenas com drones ucranianos. Precisamos de mísseis Tomahawk de longo alcance”, disse Zelensky em entrevista à rede americana NBC este domingo. Zelensky afirmou também que os mísseis Tomahawk “fortaleceriam a Ucrânia e forçariam os russos a acalmarem-se um pouco (e) sentarem-se à mesa de negociações”.
O Kremlin ficou tão perturbado com a perspetiva de Kiev adquirir mísseis Tomahawk que emitiu avisos severos sobre uma escalada da guerra, dado que os mísseis podem transportar ogivas nucleares. A Rússia consideraria o seu fornecimento à Ucrânia como uma “ação hostil” que ameaçaria a segurança global, de acordo com o chefe do Serviço de Inteligência Estrangeira (SVR), Sergey Naryshkin.
O presidente russo, Vladimir Putin, procurou antecipar essa possibilidade numa longa conversa telefónica com Trump na véspera da visita de Zelensky a Washington, em 16 de outubro.
O Tomahawk já demonstrou o seu valor em combate. Em 1991, quando os EUA e seus aliados procuraram expulsar as forças iraquianas do Kuwait, foram disparados 122 Tomahawks contra as defesas iraquianas nos três primeiros dias da Operação Tempestade no Deserto — a primeira vez que foram usados. Foram usados também para ataques de precisão nos Balcãs, no Afeganistão em 1998, no Iémen, na Líbia e na Síria. A versão mais recente do míssil foi lançada em 2021, com eletrónica aprimorada e maior alcance.
Nesta foto divulgada pela Marinha dos EUA, o contratorpedeiro guiado USS Porter lança um míssil Tomahawk Land Attack em direção ao Iraque em 2003. Marinha dos EUA/Getty Images
Este tem sido, no entanto, principalmente um míssil lançado do mar. A Ucrânia precisaria de um lançador terrestre – chamado Typhon para disparar o míssil. O Typhon, que se assemelha a um grande contentor, foi desenvolvido depois de os EUA se retirarem do Tratado sobre Forças Nucleares de Alcance Intermédio com Moscovo em 2019, alegando múltiplas violações por parte da Rússia.
Zelensky falou com otimismo sobre o míssil de cruzeiro da Ucrânia – apelidado de Flamingo – que supostamente tem um alcance semelhante ao do Tomahawk. Mas as suas capacidades são um mistério e a Ucrânia não tem recursos para aumentar a produção.
Embora os Tomahawks ajudem os ataques de longo alcance de Kiev dentro da Rússia, a Ucrânia precisa, acima de tudo, de mais defesas aéreas – e mais capazes –, à medida que a Rússia intensifica os ataques em massa com uma combinação de mísseis e drones.
Zelensky reuniu-se com os fabricantes norte-americanos Lockheed Martin e Raytheon durante a sua última viagem a Washington, enquanto busca o que descreveu como um “megacontrato” no valor de cerca de 90 mil milhões de dólares (cerca de 78 mil milhões de euros) em compras de armas.