A fabricante neerlandesa de chips Nexperia enfrenta restrições devido à disputa EUA-China que pode culminar em paragens de produção em várias fábricas europeias de automóveis.

Uma nova crise dos semicondutores ou chips está ao virar da esquina, e desta vez a culpa não é do Covid-19. As tensões comerciais entre os EUA e a China estão a pressionar as cadeias de abastecimento da indústria automóvel e os primeiros impactos já começam a ser sentidos.

A Nexperia, um fabricante de chips neerlandês, mas controlado pela chinesa Wingtech, vende cerca de 60% da sua produção para a indústria automóvel, mas está a ver a sua capacidade de fornecer os construtores automóveis limitada.

“Os construtores automóveis e os seus fornecedores receberam uma notificação da Nexperia descrevendo uma sequência de eventos que os impossibilita de garantir a entrega dos seus chips à cadeia de abastecimento automóvel”, disse a ACEA (Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis) em comunicado. Para contexto, a empresa neerlandesa produz centenas de milhões de chips anualmente.

nexperia chips (1)© ACEA A Nexperia está sob o controlo da chinesa Wingtech desde 2019, que entrou na lista negra dos EUA em dezembro de 2024. Desde esta altura, aconteceram várias alterações na estrutura da empresa. Em setembro de 2025, o governo neerlandês nacionalizou a Nexperia por motivos de segurança nacional, restringindo a influência da Wingtech. Pouco depois, Zhang Xuezheng, CEO da Nexperia e fundador da Wingtech, deixou o cargo, sendo temporariamente substituído pelo diretor-financeiro Stefan Tilger.

“Sem estes chips, os fornecedores automóveis europeus não conseguem fabricar as peças e os componentes necessários para abastecer os construtores, ameaçando interromper a produção. Os stocks atuais de chips da Nexperia devem durar apenas algumas semanas”, adicionou a associação. Esta interrupção no fornecimento de peças essenciais poderá culminar na paralisação das fábricas e no prolongamento dos prazos de entrega.

Embora os chips da Nexperia não sejam considerados topo de gama — não são os mesmos utilizados nos carros autónomos —, são usados para várias funções essenciais no automóvel, que vão desde a iluminação a unidades de controlo eletrónico.

“De repente, encontramos-nos nesta situação alarmante. Precisamos realmente de soluções rápidas e pragmáticas de todos os países envolvidos.”

Sigrid de Vries, diretora-geral da ACEA

Nos EUA, a Alliance for Automotive Innovation alertou que a falta de chips poderá afetar rapidamente não só a produção automóvel, como outros setores.

Impacto nos construtores

Os construtores automóveis, assim como os seus fornecedores, estão a acompanhar de perto a situação da Nexperia para avaliar o potencial impacto desta crise.

Um dos primeiros construtores a confirmar que parte da sua rede de abastecimento está a ser afetada foi a BMW, mas ainda não levou a paragens na produção, avançou a Automotive News Europe. A Mercedes-Benz não confirmou se a empresa neerlandesa faz parte da sua rede de fornecedores, mas afirmou estar em contacto com as partes relevantes.

O Grupo Volkswagen está a avaliar os impactos nos fornecedores e nos componentes, uma vez que alguns chips da Nexperia entram de forma indireta nos seus veículos. Já a Stellantis afirmou estar a colaborar com a empresa e outros fornecedores para avaliar os impactos e planear medidas de mitigação.

A Renault declarou estar a monitorizar a situação, contudo ainda é cedo para fazer uma declaração definitiva. A Bosch confirmou que a Nexperia é um dos seus fornecedores de componentes eletrónicos e está a trabalhar para minimizar potenciais impactos.

De acordo com a ACEA, “embora a indústria já adquira os mesmos tipos de chips de outros concorrentes no mercado, a homologação de novos fornecedores para componentes específicos e o aumento da produção levam vários meses”; algo impensável para a associação, tendo em conta que o atual stock de chips da Nexperia apenas durará mais algumas semanas.

Apesar de diversificarem nos fornecedores, os fabricantes automóveis têm dificuldade em substituir os chips específicos da Nexperia devido à tecnologia, escassez de fornecedores e certificações exigentes.

Próximos passos

Na semana passada, o Governo neerlandês anunciou o início de negociações com a China, de forma a levantar o controlo das exportações da Nexperia. O ministro da economia, Vincent Karremans, disse no dia 19 de outubro (ontem) que esperava reunir-se com um representante chinês nos próximos dias para resolver o impasse.

O encontro entre Donald Trump, presidente dos EUA, e Xi Jinping, presidente da República Popular da China, marcado para este mês na Coreia do Sul também poderá redefinir o ambiente comercial entre Washington e Pequim. Contudo, permanecem incertezas sobre a realização da reunião devido às tensões crescentes, com algumas previsões de que só venha a realizar-se no próximo ano.

“A ACEA está profundamente preocupada com a potencial interrupção significativa na produção de veículos europeus se a interrupção do fornecimento dos chips da Nexperia não for resolvida imediatamente”, concluiu a associação.

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