Cerca de 60.000 crianças nos Estados Unidos evitaram desenvolver alergia ao amendoim desde que há 10 anos foi recomendado um contacto precoce com o alergénio, indica um estudo publicado esta segunda-feira na revista médica Pediatrics.
Uma década depois de um estudo histórico ter levado à alteração da prática médica, recomendando a introdução do alergénio na alimentação de bebés a partir dos 4 meses, a nova investigação constatou que “a mudança fez uma grande diferença no mundo real”, segundo a agência noticiosa norte-americana Associated Press (AP).
Até então, a diretriz era adiar a alimentação das crianças com amendoins e outros alimentos que podem desencadear alergias até aos 3 anos de idade.
O autor do estudo divulgado esta segunda-feira, David Hill, alergologista e investigador do Hospital Infantil de Filadélfia, e os seus colegas analisaram registos eletrónicos de dezenas de clínicas pediátricas para rastrear diagnósticos de alergias alimentares em crianças pequenas antes, durante e depois da publicação daquela recomendação inovadora.
“Há (atualmente) menos crianças com alergia alimentar do que haveria se não tivéssemos implementado este esforço de saúde pública”, disse Hill citado pela AP, considerando tratar-se de “algo notável”.
Os investigadores descobriram que as alergias ao amendoim em crianças dos 0 aos 3 anos diminuíram em mais de 27% após a publicação das diretrizes para crianças de alto risco em 2015 e em mais de 40% após a expansão das recomendações em 2017.
O novo estudo reforça, assim, a atual recomendação, atualizada em 2021, da introdução de amendoins e outros alergénios alimentares importantes entre os 4 e os 6 meses, sem rastreio ou teste prévio.
“Não precisa de ser uma grande quantidade de alimentos, mas sim pequenos sabores de manteiga de amendoim, iogurte à base de leite, iogurtes à base de soja e três manteigas de frutos secos”, disse Hill, acrescentando que isso permite que “o sistema imunitário se exponha a estes alimentos alergénicos de forma segura”.
[Apesar da euforia em torno de Freitas, Soares recupera. O debate com Zenha será decisivo. Quando acabar, nunca mais serão amigos. A “Eleição Mais Louca de Sempre” é o novo Podcast Plus do Observador sobre as Presidenciais de 1986. Uma série narrada pelo ator Gonçalo Waddington, com banda sonora original de Samuel Úria. Pode ouvir aqui, no Observador, e também na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube Music. E pode ouvir o primeiro episódio aqui e o segundo aqui]
A investigação publicada em 2015 e conduzida por Gideon Lack, do King’s College London, demonstrou que a introdução precoce de produtos à base de amendoim reduzia o risco futuro de desenvolver alergias alimentares em mais de 80%, mostrando análises posteriores que a proteção persistiu em cerca de 70% das crianças até à adolescência.
Apesar de este estudo ter originado imediatamente novas diretrizes incentivando a introdução precoce do amendoim na alimentação, a sua implementação tem sido lenta, mostrando algumas sondagens que apenas cerca de 29% dos pediatras e 65% dos alergologistas referiram seguir as diretrizes alargadas emitidas em 2017.
Um comentário que acompanha o estudo mais recente admite que a confusão e a incerteza sobre a melhor forma de introduzir o amendoim na infância tenham levado ao atraso na aplicação das novas recomendações.
O comentário, liderado pela especialista em alergia infantil da Universidade Northwestern Ruchi Gupta, observa ainda que os dados analisados no estudo podem não representar toda a população pediátrica dos Estados Unidos, mas conclui que a investigação apresenta “evidências promissoras de que a introdução precoce de alergénios não só está a ser adotada, como pode estar a causar um impacto mensurável”.
Segundo a AP, os defensores dos 33 milhões de pessoas com alergias alimentares nos EUA acolheram com agrado os sinais de que a introdução precoce de produtos à base de amendoim se está a tornar popular.
“Esta investigação reforça o que já sabemos e destaca uma oportunidade significativa para reduzir a incidência e a prevalência da alergia ao amendoim em todo o país”, disse Sung Poblete, diretora executiva do grupo sem fins lucrativos Food Allergy Research & Education (FARE).