
Num estudo publicado em 2005, um matemático brasileiro propôs uma forma mais “realista” de medir as montanhas. De acordo o seu método, as montanhas mais altas não são as que têm maior altitude, mas as que mais se salientam no seu entorno: não importa quão altas são, mas quão impressionantes parecem.
Todos nós “sabemos” que o Monte Everest, nos Himalaias, com os seus 8.848 metros de altitude, é a montanha mais alta da Terra — isto é, se contarmos a altura da montanha a partir do nível do mar.
Se, em vez disso, considerarmos a distância total desde a base até ao topo, então o pico mais alto do planeta será o vulcão Mauna Kea, no Havai. A sua altura total é de 10.305 m, mas cerca de 6.000 m estão escondidos debaixo de água.
Mas a altitude absoluta de uma montanha, quer seja medida em relação ao nível do mar ou desde a sua base ao topo, não é a forma mais realista de medir uma montanha, considera o matemático brasileiro Antônio Paulo de Faria, professor do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Num artigo publicado em 2005 na Revista Brasileira de Geomorfologia, o investigador propôs um método completamente diferente de medir as montanhas, que avalia não a sua altitude absoluta, mas a sua proeminência em relação ao seu entorno — ou seja, quanto é que a montanha se destaca do terreno que a rodeia.
“A altitude em relação ao nível do mar, não serve para definir o que é uma montanha, muito menos se ela é alta ou baixa” explica o investigador no seu artigo. “Há algumas formas para definir montanhas e classificá-las em classes de tamanho em função de alguns parâmetros: altura, altitude e zona alpina”.
Segundo o matemático brasileiro, a melhor forma de determinar a magnitude de uma montanha é então medir a projeção do seu pico em relação ao seu entorno — um parâmetro que podemos consultar no PeakJut.
Assim, se consultarmos o valor de “jut” do Monte Everest, percebemos que apesar dos seus 8.848 metros de altitude, a famosa montanha mais alta do Mundo apenas se eleva 2.231 metros em relação às que a rodeiam.
Se considerarmos este parâmetro, a montanha mais alta do planeta é na verdade o Annapurna Fang, com uma altitude de 7.647 metros — mas que se projeta nada menos do que 4.806 metros em relação às montanhas que o rodeiam.
Esta montanha é, assim, duas vezes mais “impressionante” do que o Everest — que, no ranking das montanhas mais altas do mundo em termos de “projeção” se encontra apenas na 46ª posição.
E então, em que é que esta métrica deixa a nossa Serra da Estrela?
Com 1.993 metros de altitude, a Estrela é a montanha mais alta de Portugal continental. Mas o seu “jut”, ou seja, a sua “elevação” relativa em relação a quem esteja lá por perto a olhar para a Torre, é de apenas… 289 metros.
E a montanha mais alta de Portugal? A Ponta do Pico, nos Açores, tem 2.351 metros de altitude, e um “jut” de 1.028 metros. Nada mau: é meio Everest.