Numa publicação na sua rede, Truth Social, Donald Trump referiu-se aos “muitos dos nossos agora grandes aliados, no Médio Oriente e nas áreas vizinhas”, para afirmar que estes o informaram “explícita e firmemente”, da sua disposição para acolher “com agrado, a oportunidade, a meu pedido, de entrar em Gaza em força e ‘corrigir’ o Hamas, se este continuar a comportar-se mal, violando o acordo que foi assinado”. “Ainda há esperança de que o Hamas faça o correto. Se não o fizer, o fim do Hamas será RÁPIDO, TERRÍVEL E BRUTAL!”, acrescentou Trump.
O envio de tropas de países vizinhos para a Faixa de Gaza, para manter a ordem, é um dos pontos previstos no plano de cessar-fogo para a área, com vista a permitir o recuo das IDF. Trump afirmou que o contingente não irá incluir a presença de forças norte-americanas no enclave.
A medida poderá ter de ser antecipada face ao inicialmente previsto, devido às ameaças à manutenção do cessar-fogo entre o Hamas e Israel, vigente desde 10 de outubro.
O grupo islamita tem estado a ser acusado de violar o acordo, incluindo pela demora na entrega dos restos mortais de reféns sequestrados no ataque de 7 de outubro e 2023.
Diversos vídeos mostraram igualmente alegados membros do Hamas a realizar execuções sumárias de oponentes ou apoiantes de Israel nas ruas de Gaza, logo após o recuo das tropas israelitas, a 10 de outubro.
O grupo islamita, que governou o enclave de Gaza ao longo de duas décadas, desmente as acusações e afirma estar “comprometido” com o sucesso do cessar-fogo. Anunciou ainda ter intenção de entregar esta terça-feira às 18h00 GMT (19h00 em Lisboa) mais dois corpos de reféns, dos 15 que retém ainda em Gaza.
O acordo de cessar-fogo, apadrinhado por Donald Trump e apoiado por mais de 50 países da região, incluindo o Egito, a Turquia e o Catar, corre o risco de soçobrar devido à violência que continua a registar-se no enclave.
Domingo ocorreram os piores confrontos, com Israel a realizar ataques em Gaza em resposta a alegados ataques do Hamas.
Trump advertiu segunda-feira que “o Hamas será erradicado se não respeitar o acordo”.
Garantias do Hamas
No Egito, o principal negociador do Hamas, Khalil al-Hayya, afirmou que “o acordo de Gaza se vai manter, porque queremos que assim seja. A nossa vontade de o respeitar é forte”.
“Estamos determinados a recuperar os corpos de todos os detidos”, apesar das “dificuldades em extraí-los”, acrescentou. O Hamas pediu máquinas para porder aceder aos corpos soterrados sob os escombros a que bombardeamentos de Israel reduziram inúmeros edifícios.
Uma analista do centro de reflexão internacional Crisis Group, considerou que o cessar-fogo continua a ser “muito, muito frágil”. “A única coisa que impede Israel de devastar ainda mais Gaza é Trump”, sublinhou Mairav Zonszein.
As ameaças do presidente norte-americano coincidem com a chegada a Israel do vice-presidente dos EUA, JD Vance, acompanhado da sua mulher, Usha. No país já se encontram Steve Witkoff e Jared Kuhsner, enviados de Trump. O diretor dos serviços de informação do Egito, está igualmente em Israel, onde se encontrou com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.
A primeira parte do plano de cessar-fogo de Donald Trump, que previa a libertação de todos os reféns vivos e a devolução dos restos mortais de outros, decorreu inicialmente sem incidentes.
O atraso na devolução de todos os corpos por parte do Hamas, levou Israel a recuar em medidas já implementadas, encerrando a passagem de Rafah e suspendendo a entrega de apoio humanitário.
A proposta, assinada no Egito pelos Estados Unidos e pelos representantes do Hamas, a 13 de outubro, inclui o recuo das tropas israelitas e o desarmamento do Hamas. Outro dos 20 pontos do plano é a exclusão do Hamas de todo o governo de Gaza.
O grupo islamita palestiniano já se recusou em múltiplas ocasiões a entregar as armas e sublinhou que a decisão sobre quem integra as estruturas governativas da região cabe apenas aos palestinianos.