Daniel Naroditsky, jovem estrela norte-americana do xadrez, morreu aos 29 anos, anunciou esta terça-feira o Charlotte Chess Center, clube ao qual estava vinculado como jogador e treinador, através de um comunicado, publicado no Instagram, em nome da família do jovem. Danya, como também era conhecido, ganhou reconhecimento mundial pelos seus títulos na modalidade, mas também pela forma como partilhava conhecimentos sobre xadrez no mundo digital. Recentemente, era alvo de acusações de batota por parte de outro jogador e mostrou alguns sinais de stress e privação de sono que geraram preocupação, conta o El País.

“É com profunda tristeza que partilhamos a notícia da morte do Daniel Naroditsky”, lê-se na publicação. “O Daniel era um talentoso jogador de xadrez, comentador e educador, um membro acarinhado da comunidade do xadrez, admirado e respeitado por fãs e jogadores por todo o mundo. Era também um filho e irmão amado e um amigo leal para muitos”, continua. No comunicado é pedida privacidade para a família do jogador neste período “extremamente difícil”, para que consigam relembrar Daniel “pela sua paixão pelo xadrez e pela felicidade e inspiração que trouxe a todos nós todos os dias”.

Já várias estrelas do xadrez norte-americano e internacional publicaram mensagens de condolências. Entre elas, Hikaru Nakamura, cinco vezes campeão da modalidade nos Estados Unidos. “Estou devastado. Isto é uma enorme perda para o xadrez mundial”, escreveu no X.

Também Garry Kasparov, o russo considerado melhor jogador de xadrez do mundo até 1993, partilhou uma mensagem na mesma rede social: “A avalanche de amor pelo Danny e o número incontável de testemunhos sobre o impacto da sua amizade, bondade e amor pelo xadrez, dizem mais sobre a magnitude deste perda terrível do que alguma vez eu conseguiria”. Também a fundação com o seu nome partilhou uma fotografia dos dois jogadores.

Nem todas as reacções à morte foram, contudo, tão emocionadas. Vladimir Kramnik, campeão do mundo em 2000 depois de vencer Kasparov, tem, ao longo dos anos, acusado vários colegas de modalidade de fazerem batota e recorrerem à tecnologia para escolher as melhores jogadas. E, muitas das vezes, acusa-os sem provas. Os seus alvos são, tendencialmente, pessoas que tiveram subidas abruptas nos rankings. Naroditsky era, há mais de um ano, um dos acusados.

As acusações estariam a afectar a saúde mental do jovem que, segundo conta o El País, no seu último vídeo em directo, no sábado, falou várias vezes das acusações de Kramnik, deu argumentos para refutar as acusações e adormeceu enquanto jogava. Pouco depois do vídeo, Kramnik escreveu no X: “Típico hoje em dia no mundo do xadrez só quererem saber de parecer bem e fingir que não há problemas”. No dia seguinte, acrescentou “Não sou médico, mas parece-me que se passa algo para além dos comprimidos para dormir. Espero que algum amigo, se ele o tiver, queira saber”.

Perante a notícia da morte, Kramnik disse que Naroditsky “pagou um preço demasiado alto”. O russo acrescentou que “era o único a gritar sobre os óbvios problemas do Danya e que estes começavam a ser alarmantes e a precisar de medidas urgentes, enquanto os amigos só se preocupavam com esconder as provas”.

Daniel Naroditsky nasceu na Califórnia em 1995, filho de dois imigrantes da União Soviética. Foi aos seis anos que aprendeu a jogar com o irmão e pai e, pouco depois, já conquistava títulos mundiais, como aconteceu quando conquistou o Campeonato de Xadrez California K-12 Chess , em 2007, e se tornou o mais jovem de sempre a fazê-lo, recorda a CNN.

Naroditsky ganhou o título de grão-mestre em 2013. A sua mestria na modalidade, era, para felicidade de muitos, alicerçada a uma capacidade de explicar, de forma simples, um jogo tão complexo. Criava conteúdos relacionados com o xadrez desde os 19 anos e tinha mais de 800 mil seguidores entre o YouTube e a Twitch. O jovem também escreveu várias colunas para o The New York Times sobre jogadas históricas de xadrez.